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Médicos podem ser indiciados por homicídio após morte durante greve

Mariana Menezes

Do UOL, no Rio

03/06/2014 18h17Atualizada em 04/06/2014 19h25

O delegado Roberto Gomes, da 9ª Delegacia do Rio de Janeiro (Catete), instaurou inquérito para investigar a responsabilidade dos médicos do INC (Instituto Nacional de Cardiologia) pela morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marago, 63, dentro do ônibus da linha 422 (Grajaú - Cosme Velho) na segunda-feira (2), do lado de fora da unidade de saúde, após sofrer um infarto.

“Caso seja comprovada negligência por parte da equipe médica de plantão, o responsável do plantão poderá ser indiciado por homicídio culposo ou doloso por não ter sido prestado atendimento à vítima”, explicou Gomes. A pena, segundo o delegado, pode chegar a 20 anos de prisão. Além disso, os policias da 9ª DP vão requisitar os dados dos funcionários que deveriam estar no INC trabalhando, incluindo os grevistas. O inquérito deve ser concluído em até 30 dias.

O motorista e o cobrador do ônibus já prestaram depoimento na delegacia. Serão ainda chamados a depor o socorrista do Corpo de Bombeiros que prestou atendimento ao fotógrafo e testemunhas que estavam no local. 

O motorista do ônibus, Amarildo Gomes, parou em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia após um passageiro passar mal com fortes dores no peito e foi orientado pelos funcionários do hospital a ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

O hospital público não tem atendimento de emergência e está em greve. Uma equipe do Samu que fazia o transporte de outro passageiro para o instituto prestou os primeiros socorros, mas Marago morreu depois de 50 minutos sendo reanimado.

O INC informou que não foi "dimensionada a gravidade do caso" por parte da pessoa que informou na recepção do hospital que o fotógrafo precisava de atendimento médico emergencial. A nota do instituto afirma ainda que, na manhã de segunda, quatro pessoas foram atendidas em situação emergencial pela equipe médica do ambulatório.

O hospital informou também que não foi realizada a remoção imediata da vítima por não ser o recomendado no protocolo de reanimação cardíaca, mas que uma equipe médica do instituto ficou à disposição.

Marago era um fotógrafo renomado, especializado em imagens da natureza brasileira. Além de ter fotografias publicadas em diversas revistas brasileiras e estrangeiras, ele publicou dez livros sobre o tema e recebeu menções honrosas em concursos fotográficos internacionais. Ele também foi o responsável por fotografar os animais da fauna brasileira que apareciam em cartões que acompanhavam os chocolates Surpresa, da Nestlé, na década de 1980.