PR recebe menos verba que SC para vítimas de chuva e vê interesse eleitoral

Os valores liberados pelo governo federal para os Estados atingidos pelas enchentes do último final de semana causaram descontentamento e reclamação no Paraná. A União liberou R$ 140 mil para o Estado na terça-feira (10) e mais R$ 206 mil nesta quarta, enquanto a vizinha Santa Catarina receberá R$ 3 milhões. Do total de pessoas que tiveram prejuízo pela chuva, entretanto, 80% está no Paraná, onde um terço dos municípios encontra-se em estado de emergência.

Membros do governo Beto Richa (PSDB) veem interesse político na diferença entre os valores e acusam o governo de tentar prejudicar a imagem do tucano às vésperas da eleição. A adversária do atual governador deve ser a ex-ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT), que já teve a pré-candidatura anunciada.

O discurso de “discriminação ao Paraná” é constante desde que um empréstimo de R$ 817 milhões do Proinveste (Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e Distrito Federal), do BNDES, ficou bloqueado por mais de dois anos, tornando o Paraná o último Estado da federação a receber essa verba. A disputa burocrática e jurídica chegou até o STF (Supremo Tribunal Federal), até o dinheiro ser liberado em maio deste ano.

O governo do Paraná, ainda gerindo a crise provocada pela maior tragédia climática do Estado, evita polemizar diretamente. Porém o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), um dos principais líderes e articuladores da base de apoio de Richa, emitiu ontem (10) uma nota oficial de repúdio ao governo federal.

“A notícia sozinha [a liberação de R$ 140 mil] já seria uma afronta, um desrespeito, um escárnio para com o sofrimento dos paranaenses. Mas ela fica ainda pior quando vejo que o repasse para ajudar as vítimas da chuva em Santa Catarina será de R$ 3 milhões. Não posso aceitar calado este preconceito. Que o governo federal há muito vem tratando o Paraná com perseguição, isso é um fato público. Agora, porém, chegou ao limite o requinte da crueldade para com o povo trabalhador deste meu Estado”, disse o deputado.

Em nota, o Ministério da Integração Nacional afirma que os R$ 346 mil, se somados os dois repasses, têm caráter emergencial e servem exclusivamente à compra de cestas básicas. Caso a Secretaria Nacional de Defesa Civil tivesse mantimentos em estoque, eles seriam enviados ao Estado em vez do dinheiro.

Quanto aos R$ 3 milhões para Santa Catarina, o ministério esclarece se tratar de valor emergencial e também recursos para reconstrução, pois as informações de danos já foram levantadas pelo governo catarinense e enviadas a Brasília. O órgão federal diz que, quando o Paraná enviar suas estimativas, os pedidos de recurso serão atendidos. “O Ministério da Integração Nacional atendeu em 100% os pedidos feitos pelo governo do Paraná para apoio às vítimas das chuvas”, diz a nota.

O governo do Estado, por meio de assessoria de imprensa, reconhece a dificuldade para obter informações de alguns municípios afetados, principalmente nas regiões isoladas por bloqueios nas rodovias.

O coordenador da Defesa Civil do Paraná, capitão Eduardo Gomes Pinheiro, declarou ontem ao jornal “Metro” que pretende solicitar R$ 100 milhões ao governo federal para obras de reconstrução.