Sem aceno de Alckmin, metroviários decidem hoje se Copa começa com greve
Sem qualquer sinalização do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que os 42 grevistas demitidos serão reintegrados, os metroviários de São Paulo irão decidir nesta quarta-feira (11) se a greve da categoria, suspensa há dois dias, será retomada a partir de amanhã (12), data da abertura da Copa do Mundo no Itaquerão, com o duelo entre Brasil e Croácia.
A assembleia dos metroviários está marcada para começar às 17h, na sede do sindicato, que fica no Tatuapé, zona leste da capital. Por ora, a categoria abdicou das demais reivindicações, inclusive reajuste salarial superior aos 8,7% oferecidos pelo governo, para centrar forças em uma só exigência: a readmissão dos 42 demitidos por justa causa.
Na última assembleia, realizada na segunda-feira (9), a decisão tomada pela categoria foi de retomar a paralisação na quinta caso o governo não recue das demissões. Na manhã de ontem, Alckmin reafirmou que as dispensas não serão revistas porque não estão relacionadas à greve em si, mas ao que o governador chamou de “fatos graves”, como “invasão de estação, depredação e vandalismo.”
Aqui não tem agitadores, afirma metroviária demitida
A direção do sindicato trata as demissões como perseguição política para intimidar a categoria. Vários dos demitidos disseram ao UOL que não promoveram atos de vandalismo e que apenas participaram de piquetes para tentar convencer colegas a não trabalhar. Há, entre os demitidos, os que afirmaram sequer ter participado dos piquetes.
Procurado pela reportagem, o Metrô não informou quais trabalhadores foram demitidos e não quis individualizar as ações de cada um. A companhia disse que as demissões foram amparadas em imagens de câmeras de segurança e em boletins de ocorrência lavrados com depoimentos de testemunhas.
Apesar de afirmar que as demissões foram provocadas não pela greve em si, mas por atos individuais, Alckmin antecipou, no domingo (8), que as dispensas iriam ocorrer se os grevistas não voltassem ao trabalho.
“Plano B”
Ontem, durante agenda em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), o governador disse que não acredita no retorno da greve. Afirmou também que, no caso de paralisação, o Metrô irá funcionar por ter “grande expertise” em lidar com esse tipo de situação.
Durante os cinco dias de greve, a companhia adotou um plano de contingência para manter os trens rodando. A operação, no entanto, ficou restrita a cerca de metade das estações da rede metroviária, concentradas em regiões mais próximas ao centro. As estações Corinthians-Itaquera e Arthur Alvim, vizinhas ao Itaquerão, não abriram durante a greve.
Além do plano de contingência já implantado, o Metrô diz ter outra estratégia para garantir o funcionamento das linhas em sua plenitude durante o Mundial, mesmo diante da greve. A companhia, no entanto, disse que não pode divulgar detalhes sobre as ações.
A linha 3-Vermelha do Metrô e a 11-Coral da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) --via Expresso da Copa-- são os meios de transporte público mais rápidos para levar os torcedores até o Itaquerão.
Planalto acompanha
A greve dos metroviários é motivo de grande preocupação do governo federal, já que prejudicaria a imagem da Copa logo na abertura. O Palácio do Planalto vê intransigência em Alckmin ao não aceitar a revisão das demissões. Para Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, uma eventual retomada da greve durante o Mundial seria “calamitosa”.
Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu manifestar-se sobre a questão e defendeu a revisão das demissões. "Acho que a dispensa pode ser revista se houver maturidade tanto dos trabalhadores quando do governador para conversar”, afirmou o petista nessa terça, após participar de um evento na capital paulista.
Expectativa da assembleia
A assembleia de segunda-feira foi marcada por uma divisão entre aqueles que defendiam a manutenção da greve e os que votaram na proposta vitoriosa, de suspender a paralisação. Estes usaram como argumento o cansaço dos trabalhadores e afirmaram que a suspensão daria fôlego ao movimento.
O grupo majoritário na direção do sindicato, formado por militantes da CSP-Conlutas --central ligada ao PSTU--, defendeu a continuidade da greve, enquanto que o minoritário, composto principalmente por militantes do PSOL, votou pela suspensão. A oposição à atual gestão, liderada pelo ex-presidente do sindicato Wagner Gomes e alinhada ao CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil) --ligada ao PCdoB--, também votou pela suspensão.
Entre os setores, os agentes de estação, seguranças e operários da manutenção se inclinaram à manutenção da greve. Já os operadores de trens, decisivos para a continuidade do movimento, foram, em sua maioria, favoráveis à suspensão.
O que unificou os dois grupos foi a solidariedade com os colegas demitidos –com direito gritos de “ninguém fica para trás”-- e o comprometimento de retomar a greve se não houver recuo do governo. Resta saber se a disposição será mantida na véspera do início da Copa. (Com Estadão Conteúdo)
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