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Cadeirante registra BO por ter embarque em ônibus negado

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

24/07/2014 16h29

Um cadeirante de 30 anos registrou boletim de ocorrência nesta terça-feira (23) após ter sua entrada em um ônibus do transporte coletivo negada por um motorista no centro de Campinas (93 km de São Paulo).

“Me senti sem valor nenhum. É como negar meu direito de ir e vir. Isso não pode acontecer novamente. Ele tinha que ter me embarcado. Eu estava indo trabalhar”, disse o recepcionista Fábio Pereira Rodrigues.

Rodrigues disse que diariamente embarca no mesmo ônibus no ponto da rua Doutor Mascarenhas para ir ao trabalho, mas dessa vez a vaga de cadeirante estava ocupada.

"O motorista do ônibus que eu uso todos os dias me mostrou que a vaga estava ocupada e me orientou a entrar no ônibus que estava atrás. Quando eu pedi para embarcar no outro veículo o motorista fingiu que não viu e me deixou para trás. Aí eu aproveitei que o semáforo fechou e fui para o meio da rua, parei na frente do ônibus e impedi que ele saísse. Mesmo assim, ele não quis me levar“, disse.

Segundo ele, várias pessoas que passavam pelo local e os próprios passageiros do coletivo ficaram revoltados com a atitude do condutor. “O motorista chegou a cruzar as pernas sobre o volante e não me embarcou, por isso liguei para polícia. Essas atitudes fazem a gente se sentir muito mal”, afirma o cadeirante.

Assim que a polícia chegou, Rodrigues liberou o trânsito e os policiais o orientaram a ir à delegacia.

"Os próprios passageiros desembarcaram do ônibus e os policiais me ajudaram a subir no coletivo. Depois eles pediram para o motorista me levar à delegacia. A viatura acompanhou o ônibus", afirmou.

Segundo Rodrigues, o motorista acompanhou, de longe, a elaboração do boletim de ocorrência e depois foi embora.  

De acordo com Rodrigues, situações como a vivida nesta terça são comuns para pessoas que têm esse tipo de dificuldade.

“Infelizmente, eu passou por esses constrangimentos direto, desde que fiquei paraplégico, aos 9 anos, quando fui atingido por uma bala perdida”, contou. O acidente aconteceu quando ele ainda morava em Fortaleza, no Ceará, onde nasceu.

Apesar de suas limitações, Rodrigues sempre tentou levar uma vida normal. Há nove meses, conseguiu seu primeiro emprego, como recepcionista de um hospital de Campinas, e cursa o 3º ano de faculdade. Ele estuda Sistemas de Informação.

“Tudo o que dá pra fazer sozinho eu faço, mas para algumas coisas, preciso de ajuda. O motorista só teria que descer o elevador e me ajudar a subir, mas ele se recusou”, disse.

O boletim de ocorrência foi registrado no 1º Distrito Policial de Campinas como não criminal. A Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (Transurc) informou que a Itajaí, empresa responsável pelo ônibus, abriu uma sindicância para apurar o caso e admitiu a falha do motorista em não embarcar o passageiro.

O condutor recebeu uma suspensão de um dia e vai passar por reciclagem por descumprir o determinado pela empresa.

Segundo a Transurc, a Itajaí pediu desculpa em nome da empresa e do motorista ao passageiro. Apesar de aceitar as desculpas, Rodrigues disse que pretende processar a empresa por danos morais.