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Cheiro e cor da água preocupam moradores de Itu

À esquerda, um copo com água retirada de uma torneira de uma residência de Itu; à direita, um copo com água mineral - Wanderson Faustino/Arquivo Pessoal
À esquerda, um copo com água retirada de uma torneira de uma residência de Itu; à direita, um copo com água mineral Imagem: Wanderson Faustino/Arquivo Pessoal

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

31/07/2014 14h50

Além do rigoroso racionamento de água que afeta os moradores de Itu (101 km de São Paulo) desde fevereiro, outro problema vem tirando o sono da população: a qualidade da água que sai das torneiras das casas.

Segundo os moradores, além da escassez da água, quando chega, o líquido está turvo e malcheiroso.

A concessionária Águas de Itu, responsável pelo abastecimento na cidade, garante que não há risco de contaminação, mas recomenda que a água não seja ingerida por conta da quantidade de cloro e flúor sedimentada na tubulação, o que muda a cor e o cheiro da água.

Apesar de moradores de diversos bairros relatarem que o problema ocorre há algum tempo, a concessionária alega que o problema é pontual e está sendo solucionado.

Também informou, em nota, que foi causado por serviços de manutenção na rede. "O problema na região ocorreu devido a um arraste de rede no momento que abriu-se o abastecimento, anteriormente fechado para manutenção em um ponto da rede".

Ainda segundo o comunicado, "já foram efetuadas descargas na rede do bairro todo e programamos melhorias [instalações de novos pontos de descarga para efetuar limpeza na rede em eventos de manutenção] que estão sendo implantados".

Para o ambientalista Henrique Padovani, o acúmulo de cloro, flúor ou qualquer outro produto químico que possa ser utilizado no tratamento da água a faz imprópria para consumo.

"O ideal é evitar. A água da torneira não é recomendável para consumo em nenhuma situação, independentemente de racionamento ou não. Quando se sabe que há mais cloro e mais flúor do que o habitual não tem o que pensar. Não beba. Não é confiável", recomendou Padovani.

População compra água

Com isso, a população se vira como pode. Alguns compram água mineral, outros recorrem às bicas. Grande parte deixou de usar o produto que sai da torneira, mesmo depois que a água passa por filtros nas casas.

"Na minha casa, quando a água chega, vem fraquinha. Agora faz dias que notamos que ela está turva e malcheirosa. Temos comprado água mineral e quando dá pegamos de uma bica no bairro. Tenho um filho de um ano, não vou deixá-lo beber nem tomar banho com essa água", contou a analista comercial Patrícia Cassimiro, 32, que mora na Vila São José.

O técnico em automação Jefferson Fernando, 28, conta que na casa dele nunca tem água e a que sai da torneira só serve para lavar a roupa.

Nem a louça dá pra lavar com água da torneira. Cozinhar, tomar banho e beber é impossível. A água está branca e com mau cheiro", disse. A família chega a consumir cinco galões de 20 litros de água por semana.

Na casa da educadora física Marília Campos, que fica no bairro Alto, região central da cidade, além do mau cheiro e da cor alterados, muitas vezes a água chega com sujeira, como pedrinhas. "Nós até tomamos banho com a água, mas cozinhar e beber, nem pensar. Não tem condições", afirmou Marília.

Calamidade

Nesta terça-feira (29), o Ministério Público do Estado de São Paulo recomendou que a prefeitura de Itu decrete estado de calamidade pública devido aos transtornos que a população enfrenta pela falta de água.

Com o racionamento, a população recebe água em dias alternados. Em alguns bairros, o abastecimento ocorre uma vez a cada três dias.

Caso seja decretado o estado de calamidade pública, será possível usar poços particulares e até mesmo contratar serviços de abastecimento --como caminhões-pipa-- sem a necessidade de licitação.

Além disso, o MP instaurou investigação civil para apurar responsabilidades pela falta de água na cidade. A prefeitura informou que está em busca de alternativas para solucionar os problemas de abastecimento.

"Desde que foi notificada, está sendo estudada a melhor maneira para atender as recomendações do Ministério Público, no que cabe ao Poder Executivo", informou o órgão.