Procurado há quase 4 anos, médico Roger Abdelmassih é preso no Paraguai
O médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por ter estuprado ou violentado 39 mulheres --foram levados em conta 56 casos, já que algumas pacientes relataram ter sofrido abusos sexuais por mais de uma vez--, entre os anos de 1995 e 2008, foi preso na tarde desta terça-feira (19), às 13h25 (horário do Paraguai).
Ele estava foragido desde janeiro de 2011 e chegou em Foz do Iguaçu, no Paraná, por volta das 18h40. A previsão é que Abdelmassih passe a noite na cidade paranaense e amanhã (20) seja transferido para São Paulo entre 10h e 11h. A viagem entre Foz e a capital paulista dura cerca de duas horas.
Segundo a PF (Polícia Federal), a prisão de Abdelmassih foi realizada em uma operação em conjunto com a polícia paraguaia. A captura foi realizada em uma via pública do bairro Villa Morra, em Assunção, uma das áreas mais caras da capital paraguaia. O médico estava vivendo no país, com a mulher e os dois filhos de três anos, em uma luxuosa casa.
O advogado José Luís de Oliveira Lima, defensor de Abdelmassih, disse que só se manifestará após receber um comunicado formal da prisão por parte da Polícia Federal. Ele não confirmou se o médico foi preso.
Em nota, o Ministério Público de São Paulo informou ter instaurado uma investigação criminal para apurar novos crimes praticados pelo ex-médico e por terceiro, tais como favorecimento pessoal, falsidade ideológica e falsidade material. Em maio, foi realizada uma busca e apreensão em uma fazenda de propriedade do médico em Avaré, no interior de São Paulo.
Ao longo da investigação, segundo o MP, "ficou evidenciado o possível paradeiro do ex-médico no Paraguai e a Justiça estadual autorizou o compartilhamento das provas com a Polícia Federal, que evoluiu nas apurações."
O promotor Luiz Henrique Dal Poz disse à Folha de São Paulo que a Polícia Federal chegou ao paradeiro de Abdelmassih por causa da investigação de uma suposta lavagem de dinheiro praticada pelo ex-médico.
Entenda o caso
O médico Roger Abdelmassih, um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida do país, foi preso pela primeira vez no dia 17 de agosto de 2009. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça após cerca de 60 mulheres afirmarem ter sofrido crimes sexuais durante consultas.
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O caso foi denunciado pela primeira vez ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do médico.
Após essa primeira denúncia, diversas pacientes com idades entre 30 e 40 anos bem-sucedidas profissionalmente disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica, principalmente quando estavam sozinhas--, sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ainda ter sido molestadas após sedação.
Em agosto de 2008, Abdelmassih foi intimado pelo Ministério Público a depor, mas não compareceu. Mesmo assim, o órgão ofereceu denúncia à Justiça, recusada porque a juíza Kenarik Boujikian entendeu que a investigação é atribuição exclusiva da polícia.
Um inquérito foi aberto pela polícia, mas desapareceu do Departamento de Inquéritos Policiais em novembro de 2008. Ele foi encontrado um mês depois, possibilitando o reinício das investigações.
Em junho de 2009, Abdelmassih foi indiciado pela polícia. Na época, a defesa de Abdelmassih afirmou que ele teve seu direito de defesa cerceado, e que a Polícia Civil descumpriu a determinação do Supremo. Segundo um dos advogados do médico, Adriano Vanni, na época, a polícia antecipou o depoimento sem maiores explicações, antes que a defesa pudesse ter acesso às acusações.
Em agosto de 2009, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu 51 processos éticos contra o médico. Os conselheiros do órgão avaliaram que as denúncias eram pertinentes e decidiram pela abertura dos processos, que resultaram na cassação de seu registro profissional.
Formalmente, Abdelmassih foi acusado de estupro contra 39 ex-pacientes, mas como algumas relataram mais de um crime, há 56 acusações contra ele. Desde que foi acusado pela primeira vez, Abdelmassih negou por diversas vezes ter praticado crimes sexuais contra ex-pacientes. O médico afirmou que vinha sendo atacado por cerca de dois anos por um 'movimento de ressentimentos vingativos'.
Abdelmassih também chegou a afirmar que as mulheres que o acusam podem ter sofrido alucinações provocadas pelo anestésico propofol, usado durante o tratamento de fertilização in vitro. De acordo com ele, as pacientes podem 'acordar e imaginar coisas'. Segundo sua defesa, o médico nunca ficava sozinho com suas pacientes na clínica, estando sempre acompanhado por uma enfermeira.
Apesar da condenação, em novembro de 2010, o ex-médico não foi preso imediatamente em virtude de um habeas corpus concedido pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, em 2009. Em fevereiro de 2011, porém, o habeas corpus foi cassado pelo próprio STF.
Em janeiro de 2011, uma nova prisão foi decretada pela 16ª Vara Criminal da Capital, baseada na solicitação de renovação do passaporte do próprio médico, o que configurava risco de fuga. Ele, no entanto, conseguiu fugir do país e passou a constar na lista de criminosos procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). O acusado entrou com pedido de habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal), mas a Corte negou.
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