Abdelmassih 'chorou bastante' e 'falou que está arrependido', diz delegado
O delegado da Polícia Civil Osvaldo Nico Gonçalves, que acompanha o traslado de Roger Abdelmassih do Paraguai, onde foi preso, a São Paulo, afirmou que o ex-médico "chorou bastante" e se disse arrependido. "Ele falou que está arrependido. Disse que é inocente, mas que está arrependido de algumas coisas."
Abdelmassih desembarcou no aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, por volta de 15h desta quarta-feira (20). Ele foi submetido a um exame de corpo de delito na delegacia de Polícia Civil do aeroporto. Segundo o delegado, ele é cardiopata e precisará tomar medicação na cadeia. De Congonhas, o ex-médico será levado ao presídio Tremembé 2 (133 km de São Paulo).
As vítimas do ex-médico se revoltaram ao o reverem na entrada da delegacia da Polícia Civil do terminal. "Eu tenho nojo desse homem. Ele acabou com a minha vida, acabou com a vida de milhares de mulheres. Seja bem-vindo ao inferno", disse Vanuzia Leite Lopes, uma das vítimas aos jornalistas. Quando Abdelmassih --que usava um colete à prova de balas-- passou pelo local, elas tentaram quebrar a barreira de isolamento do local para agredi-lo.
O ex-médico foi condenado a 278 anos por 56 acusações (52 estupros e quatro tentativas, segundo a denúncia de 39 vítimas, de acordo com a sentença). Abdelmassih foi preso na tarde de ontem em uma ação da PF (Polícia Federal) em Assunção, no Paraguai.
Ivanilde Serebrenic, também vítima de Abdelmassih, acredita que novas acusações contra o condenado devem surgir. "Só ontem (19), fomos procuradas por sete vítimas. Nós temos provas o suficiente para ele ser incriminado por mais crimes. Temos mais de 300 anexos com todos esses documentos. Toda essa documentação, repassamos para a polícia", afirmou aos jornalistas.
Transferência
Abdelmassih foi transferido para a capital paulista depois de ter passado a noite na delegacia da PF (Polícia Federal) em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai. Por volta das 12h20, ele deixou algemado a sede da PF na cidade paranaense. Aos jornalistas, Abdelmassih disse: "A Justiça é que vai provar alguma coisa". Na sequência, ele entrou em um carro da PF e partiu para o aeroporto internacional de Foz do Iguaçu.
No aeroporto, o condenado permaneceu por alguns instantes na sala da PF no aeroporto. O avião com Abdelmassih decolou por volta das 13h20 com destino ao aeroporto de Congonhas.
Nesta manhã, ele se alimentou e tomou banho. Ao conversar com o delegado, ele se emocionou depois de perguntar sobre os dois filhos e a mulher, que ficaram no Paraguai.
O ex-médico liderava a lista de procurados da Secretaria da Segurança de Pública de São Paulo. Quem desse informações de seu paradeiro poderia levar R$ 10 mil, o maior valor oferecido pela pasta. Como ele foi preso numa ação conjunta entre a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, ninguém vai ganhar esse dinheiro.
Penitenciária
Em Tremembé 2, Abdelmassih terá companhias famosas. Nessa prisão, já cumprem pena outros criminosos de casos de grande repercussão, como os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos --que foram condenados com Suzane von Richtoffen pela morte dos pais dela--, Alexandre Nardoni --pai da menina Isabela, lançada da janela de um prédio--, Guilherme Raymo Longo --padrasto do menino Joaquim, encontrado morto em um rio no interior paulista--, e Eduardo Martins, que confessou ter matado, neste ano, o zelador do prédio onde morava em São Paulo.
Outros detidos em Tremembé 2, segundo a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária), são o jornalista Pimenta Neves --que matou a ex-namorada em 2000-- e Limdemberg Alves Fernandes --que sequestrou a namorada, Eloá, em 2008.
O ex-médico volta para o Complexo Penitenciário de Tremembé após cinco anos. Em 2009, entre os meses de agosto e dezembro, ele ficou detido no local, mas ganhou o direito de aguardar sua sentença em liberdade após a Justiça aceitar um pedido de habeas corpus.
Na penitenciária de Tremembé 2, Abdelmassih encontrará um cenário de lotação. A prisão tem capacidade para 408 detentos, mas abriga hoje 451 condenados. Outros 189 usam as 200 vagas da ala de Progressão Penitenciária, de acordo com a SAP.
Ajuda em fuga
O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) investiga uma suposta rede de favorecimento à fuga do ex-médico Roger Abdelmassih. O promotor Luiz Henrique Cardoso Dal Poz, em entrevista ao UOL, falou a existência de uma "eventual estrutura que dava suporte financeiro, logístico e estratégico" a Abdelmassih e sua família desde 2011.
"Para permanecer foragido por tanto tempo e com tamanha regalia, haveria de ter uma estrutura, uma instituição de fachada ou não, alguém ou um grupo de pessoas que favoreceu o processo ilícito, que certamente envolveu muito dinheiro."
Os integrantes dessa rede e o próprio Abdelmassih, como apontou o promotor, teriam cometido uma série de outros crimes, tais como lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsidade material. Poz disse ainda não é possível saber quem são todos os envolvidos. "Precisamos dar continuidade às investigações para termos condições de elencar quem de fato esteve envolvido e de que forma atuou", afirma.
"A prisão foi uma circunstância da investigação, que continua. Se algo ilícito foi feito nesse período, é preciso ser apurado. Os responsáveis precisam pagar pelos delitos cometidos para que ele [Abdelmassih] vivesse na clandestinidade", acrescenta o promotor.
Comércio de embriões
Um segundo inquérito policial que investiga o ex-médico Roger Abdelmassih por outros 26 estupros pode acusá-lo de crimes contra a lei de biossegurança, como a comercialização indevida de embriões humanos. Para isso, a Polícia Civil precisa encontrar o engenheiro Paulo Henrique Ferraz Bastos, ex-sócio de um casal de russos que fazia pesquisas na clínica de Abdelmassih, que também é suspeito de enganar as pacientes fertilizando-as com embriões de outros casais.
"Elas [as vítimas] achavam que ele comercializava os óvulos. Algumas mulheres também vieram relatar que as crianças nasceram defeituosas", afirmou a delegada Celi Paulino Carlota, da 1ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher).
Ainda de acordo com a delegada, as vítimas disseram que o ex-médico fazia diversas coletas de óvulos, em vez de apenas uma. Carlota também afirmou que desses outros 26 casos, em pelo menos quatro deles houve má formação dos fetos. Em um deles, a criança morreu no segundo mês de gestação e a vítima só foi abortar durante o quarto mês sem que soubesse que o feto já estava morto.
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