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Dez meses após crise, Pedrinhas (MA) vive sob tensão e domínio de facções

Carlos Madeiro

Do UOL, em São Luís

16/10/2014 06h00

Passados dez meses da explosão da crise no sistema prisional do Maranhão, o clima no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, ainda é de alta tensão. O UOL visitou o local no dia 4 de outubro. Ouviu relato de agentes, familiares e conseguiu contato, por telefone e redes sociais, com presos dentro das penitenciárias.

No início do ano, o local virou notícia internacional após registrar 60 mortes em 2013. Neste ano já foram 19 assassinatos dentro do complexo

Segundo os relatos dados ao UOL, pouca coisa mudou desde janeiro. Dentro das unidades, presos das facções "Bonde dos 40" e "Primeiro Comando do Maranhão" continuam no controle. Detentos também têm livre acesso a telefones e se comunicam facilmente com quem está fora do presídio, comandando, inclusive, ataques a ônibus

Entre presos e familiares, as queixas são muitas. O principal problema relatado é a mudança na rotina de visitas e castigos que seriam dados aos detentos, além da falta de limpeza nas unidades.

“De janeiro pra cá, só piorou. Eles agora é que castigam os presos. Já deixaram dormindo sem roupa no pátio, jogam gás de pimenta, dão tiro de borracha”, contou a mulher de um detento, à porta da penitenciária São Luís 1, onde cerca de cem mulheres esperavam, em vão, acesso à unidade para visitar parentes.

“Já é a terceira semana que estão fazendo isso, só deixam entrar as coisas que trazemos”, disse outra mulher de preso.

Era meio-dia, e as visitas deveriam ter começado às 8h. Mas ninguém conseguiu entrar. “Não temos ordem para deixar entrar”, informou um agente.

Por medo de retaliação aos seus familiares, os parentes dos presos pediram para não ter o nome revelado ou imagens individuais publicadas.

“O presídio está imundo, não fazem limpeza, jogam fora as coisas que a gente leva, as roupas deles. Está terrível, cortaram até as sandálias deles, para andarem descalços. Tem muitos ratos”, conta a mãe de um jovem detido por assalto.

Segundo relatou um preso da Casa de Detenção 2, as inquietações que ocorreram no final de setembro aconteceram por conta das mudanças no modelo de visitas. “Agora, os nossos parentes ficam no sol quente, na quadra. Outra coisa, só tem meia hora para visita íntima. Por isso tá todo mundo protestando. Eles tratam mal as visitas, jogam gás de pimenta. Se não mudar, a gente vai parar esse presídio”, ameaçou.

A reportagem do UOL também recebeu fotos e vídeos enviadas pelos detentos. Em um vídeo gravado com um celular, no final de setembro, presos aparecem quebrando as celas de uma das unidades do presídio em protesto pela mudança nas visitas e por humilhações sofridas. As fotos enviadas mostram sujeira no local.

Outro lado

Sobre a queixa de familiares de proibição de visitas, a Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária garantiu que elas “estão acontecendo normalmente nas oito unidades prisionais do complexo, salvo em casos de cumprimento de medida disciplinar".

O órgão informou que adotou novos procedimentos de revista e segurança nas unidades, o que teria motivado as reclamações de familiares e detentos, “[As medidas] aumentaram o tempo de revista e restringiram o acesso das visitas sociais a alguns espaços das unidades prisionais, por questão de segurança.”

Especificamente sobre o dia da visita do UOL, a secretaria reconheceu que as visitas na Casa de Detenção foram suspensas --de 27 de setembro a 3 de outubro-- “para evitar tumultos por conta das reclamações geradas pelo tempo maior de revista”.

Sobre a sujeira denunciada por fotos, a Sejap informou que limpezas são realizadas diariamente e enviou fotos dos corredores limpos nesta terça-feira (14). “No entanto, por conta do descontentamento com os novos procedimentos disciplinares adotados nas unidades prisionais do Maranhão, os detentos de algumas unidades estão jogando os restos das bandejas para fora das celas após as refeições e sujando propositalmente as unidades”, afirmou.