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"O jeito agora é morar na rua", diz invasor ao deixar Minha Casa no Rio

Segundo  Juarez Ferreira Lima, "o desespero falou mais alto" na hora da invasão - Hanrrikson de Andrade/UOL
Segundo Juarez Ferreira Lima, "o desespero falou mais alto" na hora da invasão Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/11/2014 10h18Atualizada em 19/11/2014 12h05

O desempregado Juarez Ferreira Lima, 58, foi um dos invasores do condomínio do Minha Casa Minha Vida em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, que deixaram o local nesta quarta-feira (19) após cumprimento de mandado de reintegração de posse expedido pela Justiça. Segundo ele, que tem mulher e quatro filhos, com o "fim de um sonho", o destino da família será a rua.

"Acabou o sonho. Era uma coisa que a gente achava que ia ficar. Mas o jeito agora é morar na rua. Estou desempregado e não sei como vai ser", afirmou ele.

Lima disse ainda que sabia que existia o risco de despejo no momento em que decidiu invadir um dos 240 apartamentos do condomínio. No entanto, "o desespero falou mais alto", segundo ele. "Eu precisava arriscar. Podia ter dado certo", declarou.

"Eu vi todo mundo entrando e entrei também. Não tinha para onde ir". Assim a desempregada Célia Araujo, 62, descreveu o momento em que ela e centenas de pessoas invadiram o condomínio.

"Não tenho como voltar para o aluguel. Estou sem renda e dependo do meu filho", completou ela, que também foi despejada. Célia explicou que a iniciativa da invasão ao condomínio partiu de pessoas que ela sequer conhecia. A desempregada, que pagava R$ 200 no aluguel de um quarto e sala, se interessou pela possibilidade e pediu que o filho, de 21 anos, fosse ao local.

"Ele veio aqui, escolheu o apartamento e a gente ficou", declarou. Ela disse ainda não ter presenciado a movimentação de homens armados no condomínio durante a ocupação. "Não sei quem mandava", afirmou.

Célia disse que a sua primeira preocupação após o despejo é encontrar um lugar para guardar móveis e objetos, evitando assim que o material seja encaminhado a um depósito. "Vou tentar deixar na casa de uma amiga", disse ela.

A professora de capoeira Suely Santana, 41, não morava no condomínio, mas se dirigiu ao local na manhã desta quarta para dar apoio a alunos seus que estão entre os invasores dos 240 apartamentos do Minha Casa, Minha Vida.

"Todo nundo está desocupado de forma tranquila. Mas até agora essas famílias não receberam qualquer tipo de apoio do governador, do prefeito ou de quem quer que seja. Apenas o comandante do batalhão veio aqui para conversar com essas famílias. Elas estão sendo abandonadas pelo poder público", declarou.

Reintegração de posse

Os invasores do condomínio, que foi ocupado há 12 dias por mais de 200 famílias, começaram a deixar o local por volta das 9h30. Comandante do 41º Batalhão (Irajá), o tenente-coronel Luiz Carlos Leal disse esperar uma ação tranquila. Segundo ele, muitos ocupantes já deixaram o condomínio nesta semana e, hoje, havia pouco mais de cem pessoas lá dentro.

Os ocupantes se reuniram em uma roda logo cedo, em frente aos prédios, a exemplo do que fizeram na última sexta-feira, primeiro dia após a decisão de reintegração de posse, quando também se juntaram para rezar.

Por volta das 10h30, um grupo de invasores que se retirava do Residencial Guadalupe parou em frente aos jornalistas e esboçou uma manifestação. "Estamos desamparados", gritou um dos invasores. Posteriormente, o grupo dispersou sem que ocorresse qualquer tipo de confusão com a Polícia Militar.

Apesar do forte aparato policial, com cerca de 200 militares ao todo, o clima é de tranquilidade. A PM atua com blindados e o auxílio de pelo menos um helicóptero.

Nos primeiros dias de ocupação, criminosos armados foram flagrados dentro do condomínio e nas comunidades do entorno. Segundo o tenente-coronel, eram traficantes de comunidades vizinhas que estavam de passagem pelo condomínio - os prédios foram construídos na área do Complexo do Chapadão, principal zona de confronto hoje entre policiais e criminosos no Rio, que não conta com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Um hospital de campanha foi montado pelo Corpo de Bombeiros e haverá apoio também de ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) no local.