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Moradores e PMs se confrontam em ato contra morte de garoto no Alemão (RJ)

3.abr.2015 - José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, 10, mostram a foto do filho que morreu ontem (2) após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro - Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
3.abr.2015 - José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, 10, mostram a foto do filho que morreu ontem (2) após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro Imagem: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo*

03/04/2015 16h46

Os moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, voltaram a protestar na tarde desta sexta-feira (3) contra a morte do garoto Eduardo de Jesus Ferreira, 10, que foi alvo de um tiro de fuzil na cabeça durante operação do Batalhão de Choque da PM na região. O ato que começou pacífico acabou em confronto.

Com lençóis brancos e cartazes, por volta das 16 horas, homens, mulheres e crianças interditaram a estrada do Itararé, uma das principais entradas da comunidade, para pedir paz e criticar a atuação da Polícia Militar no conjunto de favelas.

O protesto foi reprimido pelos mais de 200 policiais que reforçavam a segurança no Alemão com bombas de gás lacrimogêneo. O clima ficou tenso e alguns moradores responderam jogando pedras e bombas caseiras nos policiais.

A comunidade já havia protestado na noite de ontem (2), durante caminhada pelas ruas do conjunto de favelas com velas acesas e orações. Eduardo de Jesus foi a quarta vítima de tiroteio na região em pouco mais de 24 horas.

A presidente Dilma Rousseff se manifestou sobre o caso e afirmou esperar que sejam esclarecidas as circunstâncias da morte da criança. Em nota, a petista prestou solidariedade aos familiares do garoto e disse aguardar a punição para os culpados.

"Quero expressar minha solidariedade e sentimentos de respeito neste momento de dor a Terezinha Maria de Jesus, que perdeu o filho Eduardo de Jesus Ferreira, 10, no Complexo do Alemão. Espero que as circunstâncias dessa morte sejam esclarecidas e os responsáveis, julgados e punidos", apontou a nota.

Investigações

Segundo a Coordenadoria das Unidades de Polícia Pacificadora, policiais do Batalhão de Choque faziam um patrulhamento quando foram recebidos a tiros na localidade conhecida como Areal. Os moradores, no entanto, acusam os policiais de terem disparado contra a criança, que brincava em uma escadaria. 

Em um comunicado divulgado nesta sexta-feira (3), o Governo do Estado informou que os policiais presentes na ocorrência já estão respondendo a um Inquérito Policial Militar. "Eles foram afastados do policiamento nas ruas e tiveram suas armas recolhidas para a realização de exame balístico." 

O porta-voz da CPP, major Marcelo Corbage, se solidarizou com a família do menino Eduardo e afirmou que a morte de Eduardo não ficará impune. "É prematuro tirar qualquer tipo de conclusão. Estamos colaborando com as investigações. A morte do Eduardo não ficará impune. Precisamos fazer deste episódio uma bandeira para a mudança. Não podemos permitir que outras famílias sintam a dor da mãe deste menino", afirmou ele, que reforçou que a polícia continuará atuando na comunidade.

"Não iremos recuar. Faço um apelo para que a população nos auxilie com denúncias e informações que nos façam chegar o mais rapidamente possível a esses marginais", acrescentou ele.

Série de confrontos

Ao longo dos últimos dois dias, uma série de confrontos e tiroteios deixou o Complexo do Alemão em alerta. Três pessoas foram mortas e outras três ficaram feridas em dois tiroteios ocorridos na quarta-feira (1º). A primeira troca de tiros ocorreu por volta das 16h, quando policiais em patrulhamento entraram em confronto com suspeitos armados. Rodrigo de Souza Pereira foi atingido na cabeça e morreu no local.

Elizabeth de Moura Francisco, 40, foi atingida no rosto por uma bala perdida, dentro de casa, e também morreu no local. O corpo da vítima foi enterrado nesta sexta-feira no Cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio. Uma filha de Elizabeth, 14, foi ferida no braço e socorrida no Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro da Penha. A adolescente foi liberada e passa bem.

Na mesma unidade de saúde, permanece internado um jovem de 15 anos que foi atingido por tiros no braço, na perna e no tórax, mas seu estado de saúde é estável, informou a Secretaria de Estado de Saúde. Além dos dois adolescentes, um policial também foi levemente ferido por estilhaços.

Ainda na noite de quarta, outro tiroteio ocorreu por volta de 20h30 no Complexo do Alemão. Matheus Gomes de Lima foi morto na troca de tiros. O rapaz chegou a ser levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.

As armas dos policiais envolvidos nos dois tiroteios foram apreendidas para confronto balístico. Os casos foram registrados na Delegacia do Alemão e na Delegacia da Penha, respectivamente.

Na manhã de quinta, uma base avançada da UPP do Alemão, que funciona em um contêiner, foi depredada. As janelas e portas foram quebradas e colchões e uma caçamba de lixo foram incendiados ao lado da unidade, na rua Canitar, segundo o Comando das UPPs.

Por meio de redes sociais como Twitter e Facebook, moradores relataram haver lixo incendiado em outros pontos da comunidade. Também houve relatos de que comerciantes mantiveram as portas fechadas no Complexo do Alemão.

Agentes do Batalhão de Choque e do Centro de Operações Especiais reforçaram o policiamento no local. (*Com Estadão Conteúdo)