Escola no Rio capta água da chuva para economizar e regar horta de alunos
Desde o começo do ano, a produção da horta orgânica cultivada pelos alunos do Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Pontes de Miranda, em Senador Vasconcelos, na zona oeste do Rio de Janeiro, é regada com a água captada pela chuva. A iniciativa partiu dos estudantes que, sensibilizados com as notícias que davam conta da falta de água na região Sudeste, passaram a buscar formas de economizar na escola.
Primeiro, eles espalharam baldes para recolher as gotas que pingavam dos aparelhos de ar-condicionado espalhados pelo prédio, levados manualmente até a plantação. Depois, com a ajuda do professor Lúcio Teixeira, responsável pela disciplina de técnicas agrícolas, bolaram um sistema de captação de água da chuva que passou a ser usado para regar a horta.
“Temos uma horta orgânica tradicional e a estufa com a horta hidropônica. A gente capta a água da chuva, encaminha para uma caixa d’água com 2.000 litros de capacidade e conseguimos regar a horta”, explica Teixeira.
É da horta que sai parte da merenda distribuída para os cerca de 500 alunos da escola que atende, em turno integral, turmas do 1º ao 6º ano. Entre as hortaliças, destacam-se as alfaces e a produção de tomates-cereja, ainda no começo. Há também rúcula, berinjelas e pimentões.
O que não entra na merenda é doado para os alunos, funcionários e professores, tornando as crianças “sommeliers” de verduras. “No começo, eles não gostavam. Muitos nunca tinham comido alface. Depois, vieram nos contar que eles passaram a dizer que queriam comer alface em casa. Os pais iam até mercado comprar, e os alunos reclamavam que elas não eram tão boas quanto as da escola”, lembra a diretora, Selma Fátima de Souza.
“Quando a gente compra no sacolão, a gente fica com nojo, não sabe o que tem na planta. Aqui nós que plantamos, sabemos que só o que passa pela alface é a minhoca”, diz Ana Júlia da Silva Ferreira, 11, aluna do 6º ano. “A alface daqui é mais gostosa, macia”, concorda Juliana Freire, 11, colega de Ana.
Selma diz que, como a iniciativa é recente, ainda não foi possível sentir a diferença na conta da água, e destaca como maior vantagem o ganho pedagógico. “Já trabalhávamos a questão de ter que cuidar da água. Com a crise, os alunos começaram a sugerir formas de economizar, se preocupam, levam essa consciência para casa.”
Falta de água
Assim como em São Paulo, o Rio de Janeiro ainda não conseguiu superar a ameaça de falta de água. As chuvas constantes que têm caído sobre a região Sudeste nas últimas semanas não foram suficientes para recuperar o nível dos reservatórios do rio Paraíba do Sul, que abastece a cidade do Rio de Janeiro e a região metropolitana, que operam com metade do volume registrado nesta época do ano em 2014.
No dia 12 de maio, segundo a ANA (Agência Nacional de Água), o nível do reservatório equivalente do rio registrava 17,98% de volume útil –na mesma data, no ano passado, esse número era de 37,3%.
Com a chegada do período seco, lembra Vera Lúcia Teixeira, vice-presidente do Ceivap (Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul), a tendência é que a situação se agrave ainda mais. "Estamos com menos de 50% da água que tínhamos no ano passado. Vivemos a verdadeira crise", afirma.
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