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Construção de shopping à beira do rio Pinheiros vai cortar 62% das árvores

Débora Nogueira

Do UOL, em São Paulo

21/05/2015 06h00

A construção de um conjunto de prédios comerciais e de um shopping em uma “ilha” na margem do rio Pinheiros, se aprovada, vai cortar 62% das árvores do terreno. Das 242 árvores catalogadas pela prefeitura na área, 150 serão cortadas, entre elas 29 nativas, 91 exóticas e 18 eucaliptos e pinheiros. Serão preservadas 51 árvores, ou 21%, e serão remanejadas 41 árvores, ou 17%. Entre as árvores remanejadas há exemplares de araucária, uma espécie em extinção no Brasil.

Segundo parecer técnico da prefeitura, as intervenções e obras previstas para viabilizar o projeto “sem dúvida proporcionarão a incidência de impactos ambientais”. Consta também que parte do terreno está inserida em uma APP (Área de Proteção Permanente) e que a área deve ser utilizada para o plantio de árvores compensatório. No mesmo documento, a prefeitura afirma que a obra está dispensada de licenciamento ambiental.

“São Paulo já tem registrado bolhas de calor na região da Berrini, Pinheiros e Santo Amaro. Todos esses bairros têm alta ocupação e estão do outro lado do rio. Se começarem a construir grandes torres naquela região, fecha-se o único corredor que poderia refrescar esses bairros, pois há uma zona de vento que vem da serra do Mar e passa para o outro lado”, diz o geólogo Sérgio Klein, que realizou um laudo sobre a região. A área que vai até o parque Panamby é considerada várzea do rio Pinheiros e possui um dos últimos fragmentos de mata atlântica da capital paulista.

A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) analisa se o local encontra-se inserido em uma APP (Área de Preservação Permanente). O parecer técnico ainda não foi concluído. A margem do rio deve ser preservada como prevê o Código Florestal.

Questionada sobre o corte de árvores, a JHSF enviou uma nota ao UOL em que afirma que "o projeto está em fase de estudo e não há definição sobre seu andamento. É importante ressaltar que a JHSF tem um histórico de respeito e cumprimento das legislações vigentes, bem como um compromisso de preservação do meio ambiente". 

O empreendimento batizado de Reserva 1, 2 e 3 é uma das apostas da JHSF para os próximos dois anos. Serão quatro andares de shopping com lojas, praça de alimentação, restaurantes, cinema e teatro além de um prédio de 132 metros de altura. A construção está prevista para durar 30 meses e, se aprovada, vai mudar o traçado da marginal Pinheiros.  

Questões urbanísticas e ambientais 

Urbanistas questionam, inclusive na Justiça, a inclusão da pequena “ilha” na Operação Urbana Consorciada Água Espraiada. A operação liberou a margem do rio Pinheiros para grandes empreendimentos, mediante o uso de Cepacs (Certificado de Potencial Adicional de Construção).

Essa liberação permitiu que prédios comerciais fossem instalados em bairros residenciais e que quase todas as regras de construção, como zoneamento, fossem flexibilizadas desde que os interessados comprassem esses créditos na prefeitura, que seriam utilizados para melhoria urbana. O que se viu foi um boom de torres em toda a margem do rio (e em grande parte da capital).

Porém a “ilha” nunca esteve nos mapas que delimitavam a área da operação pela prefeitura, ou seja, ali não se poderia construir o que se quisesse mediante pagamento. Apesar disso, a construtora conseguiu uma posição favorável da prefeitura em 2012, que decidiu que aquele terreno estaria incluso.

A autorização foi publicada no "Diário Oficial do Município", no dia 15 de fevereiro daquele ano. As associações de moradores da região questionam a decisão, tomada por um comitê da prefeitura formado por diversas secretarias, com base na interpretação da lei e dos mapas aéreos da região. O resultado da inclusão na Operação Urbana foi a aprovação preliminar do projeto na prefeitura.

Rota de helicópteros

Em laudo do Comar (Comando Aéreo Regional), anexado ao processo que tramita na prefeitura para a construção do shopping, há a determinação para que a altura máxima de um prédio naquele terreno seja de 130 metros, por constar rota de helicópteros da região de Pinheiros. O projeto de construção prevê uma das torres com 132 metros.