PM reprime e fere jornalistas durante cobertura de protesto em São Paulo
A ação da PM (Polícia Militar) para dispersar na terça-feira (12) os manifestantes, antes mesmo do começo da passeata contra o aumento das tarifas de transporte coletivo em São Paulo, também atingiu os jornalistas que trabalhavam no local. Pelo menos nove profissionais de imprensa foram feridos por PMs durante a cobertura, segundo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
A equipe do UOL presenciou cenas em que integrantes da PM lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dispararam spray de pimenta em direção ao grupo de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas todos devidamente identificados com crachás profissionais e capacetes onde se lia a palavra “Imprensa”.
Houve vários momentos de tensão entre os profissionais de imprensa e os agentes da segurança pública do Estado. O videorrepórter do UOL Márcio Neves foi abordado por um capitão da PM, após filmar uma revista em grupo de homens na esquina da Bela Cintra com a avenida Paulista.
“Um capitão da Polícia Militar se incomodou com minha presença e numa tentativa de intimidação, fotografou com um celular o crachá e logo na sequência pediu meus documentos. Eu apresentei minha carteira de jornalista”, afirma Neves. Depois de fazer a abordagem, o capitão claramente tentava esconder sua identificação no uniforme cruzando os braços de maneira ostensiva.
A Polícia Militar realizou um cerco na praça do Ciclista, no entroncamento entre as avenidas Paulista e Rebouças e no entroncamento da rua da Consolação, local de concentração do protesto organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre).
Durante o impasse sobre o trajeto do protesto, os manifestantes queriam seguir para avenida Rebouças, policiais militares impediam e mandavam que eles descessem a Consolação em direção à praça da República.
Neste momento, o comandante da operação, tenente-coronel André Luiz Oliveira, tentou afastar os jornalistas. “Ninguém vai encostar a mão na minha tropa. Afasta da minha tropa”, afirmava o tenente-coronel, enquanto erguia o cassetete na direção dos jornalistas.
Policiais lançaram bombas na direção de um cordão de isolamento feito por policiais, onde muitos jornalistas estavam sendo retidos e impedidos de ultrapassar para fazer imagens do início da ação. “Foi um dos momentos mais tensos para mim”, relata o cinegrafista e editor de imagens do UOL Adriano Delgado.
Jornalistas relatam casos de agressão
Jornalistas de outros órgãos de imprensa afirmaram que foram agredidos por policiais militares. Um PM bateu com um cassetete na cabeça do fotógrafo da Vice Brasil, Felipe Larozza, após ele registrar o momento da prisão de manifestante, que havia sido atingido por uma moto da PM.
Já a jornalista da Rede Brasil Atual, Camila Salmázio, foi encurralada por policiais militares na rua Sergipe, bairro de Higienópolis, e sofreu os efeitos da bomba de gás lacrimogêneo.
De acordo com o relato divulgado pela Abraji, Alice Vergueiro, fotógrafa da Folhapress, foi encurralada e agredida junto com manifestantes por PMs que usavam os cassetetes indiscriminadamente.
Em um outro momento, já com parte da manifestação dispersada, o UOL acompanhava o momento da prisão de um homem que havia quebrado o vidro de uma agência bancária na rua da Consolação.
Sete policiais imobilizavam o suspeito e diversos colegas da imprensa registravam este momento, quando um dos policiais tentou afastar fotógrafos com spray de pimenta. “O policial pediu reforço que prontamente veio em forma de bombas de gás contra este grupo de colegas da imprensa que registrava a prisão. Uma das bombas estourou bem próxima aos meus pés”, disse Delgado.
Na entrevista coletiva após o fim da manifestação, o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, foi questionado várias vezes sobre os atos de agressão perpetrados por policiais militares contra os profissionais de imprensa. Ele considerou que não houve abuso da PM, mas disse que irá apurar eventuais excessos. O UOL perguntou ao secretário qual é recomendação da cúpula da SSP aos policiais militares em relação ao comportamento que eles devem manter com os jornalistas. "Nossa recomendação é de total garantia da liberdade de imprensa”, respondeu Moraes.
Sindicato e Abraji repudiam atos da Polícia Militar
O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo repudiou a ação da Polícia Militar. "A Polícia Militar comete violência contra os jornalistas para impedir que esses mesmos jornalistas sejam testemunhas atos de violência praticados contra os manifestantes", disse André Luiz Freire, secretário-geral da entidade.
A Abraji afirmou, em nota, que "agressão de policiais contra profissionais de imprensa, identificado como tais, durante o exercício de suas atividades é prática característica de contextos autoritários”. A nota acrescenta que “o papel das forças de segurança é proteger cidadãos e garantir o direito da imprensa trabalhar". A entidade diz esperar que repórteres, fotógrafos e cinegrafistas possam cobrir a manifestação marcada para quinta-feira (14) sem sofrerem ameaças e agressões.
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