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Dom Paulo vendeu palácio para construir igrejas na periferia de São Paulo

Dom Paulo surpreendeu os católicos ao vender o palácio onde os bispos viviam em SP - Vidal Cavalcante/Folhapress
Dom Paulo surpreendeu os católicos ao vender o palácio onde os bispos viviam em SP Imagem: Vidal Cavalcante/Folhapress

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

14/12/2016 17h20

A preocupação de dom Paulo Evaristo Arns, morto nesta quarta-feira (14) aos 95 anos, com os mais pobres teve um episódio marcante e que provocou surpresa dentro da Igreja Católica logo depois de ele ser nomeado arcebispo de São Paulo, em 1970.

“Ele vendeu o palácio episcopal, onde moravam os bispos, na rua Pio XII (perto da avenida Paulista, na região central de São Paulo), para comprar terrenos para fazer comunidades [construir igrejas] na periferia”, relembra o padre paulistano Júlio Lancellotti.

A intenção era acompanhar o crescimento da cidade e levar a igreja a bairros pobres e distantes do Centro. Como arcebispo, o próprio dom Paulo tinha direito de morar no palácio. Com a venda do imóvel, ele foi viver em uma casa no Sumaré, na zona oeste de São Paulo.

Também conhecido por sua atuação contra a ditadura militar, dom Paulo passou por um momento difícil na nova casa. “A casa do Sumaré foi alvejada por uma bomba”, conta Lancellotti. O ataque só provocou danos materiais, mas dom Paulo acabou mudando, tempos depois, para a região da Luz, no centro da cidade.

Padre Julio Lancellotti - Mauricio Camargo/Eleven/ Estadão Conteúdo - Mauricio Camargo/Eleven/ Estadão Conteúdo
Padre Julio (de camisa branca, ao centro) acompanhou dom Paulo quando o arcebispo foi ao viaduto do Glicério para dormir ao lado dos moradores de rua
Imagem: Mauricio Camargo/Eleven/ Estadão Conteúdo

Debaixo do viaduto

Em 1993, Dom Paulo criou em São Paulo a Pastoral do Povo da Rua, para atender moradores de rua, e escolheu Lancellotti para a coordenação. Logo após a criação da pastoral, o arcebispo desafiou o então prefeito da capital paulista, Paulo Maluf (PP).

“Uma das coisas mais bonitas que dom Paulo fez foi quando Maluf era prefeito, e a administração municipal mantinha abrigos fechados em uma época de frio. Dom Paulo foi para debaixo do viaduto do Glicério, no Centro, para dormir ao lado dos moradores de rua”. Ao saber da iniciativa de dom Paulo, narra Lancellotti, o prefeito ordenou a abertura dos abrigos para os moradores de rua.

Lancellotti, 67, foi ordenado padre por dom Paulo e o tem como um exemplo. “Toda minha geração de padres foi formada sob orientação de dom Paulo. Ele era um grande modelo, uma grande liderança. Era respeitado por ter autoridade, e não por ser uma autoridade.”

O discípulo visitava o arcebispo com frequência e esteve com ele no hospital Santa Catarina na terça-feira (13). “Ele estava apagando. Beijei a cabeça e a mão dele”, conta o padre.