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Plano de Doria para marginal aumenta risco de acidente, dizem especialistas

Movimentação na marginal Pinheiros, na zona oeste de São Paulo - Marivaldo Oliveira - 19.set.16/Código19/Folhapress
Movimentação na marginal Pinheiros, na zona oeste de São Paulo Imagem: Marivaldo Oliveira - 19.set.16/Código19/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

21/12/2016 06h00

Especialistas em trânsito afirmam que as medidas anunciadas pelo prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), para os limites de velocidades nas marginais aumentam o risco de acidentes -- e a tendência é que o estado de gravidade das vítimas seja pior.

Nesta terça-feira (20), Doria confirmou que irá aumentar a velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, conforme anunciado na campanha eleitoral, ao anunciar seu plano para os limites de velocidade, batizado de Marginal Segura.

A exceção será a faixa da direita na pista local das marginais, onde será mantido o limite de velocidade de 50 km/h. As outras faixas da pista local voltam a 60 km/h.

A pista central vai de 60 km/h para 70 km/h e a expressa de 70 km/h para 90 km/h. Para os veículos pesados, a velocidade máxima será de 50 km/h em toda a pista local. Nas pistas central e expressa, o limite para esses veículos será de 60 km/h.

Nas pistas central e expressa, serão mantidos os atuais pontos de redução de velocidade, como em trechos de curvas mais acentuadas.

A promessa de campanha de Doria tem sido criticada após estatísticas apontarem para uma queda no número de acidentes fatais –reduzidos à metade-- após a redução da velocidade nas marginais promovida pela atual gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), derrotado nas eleições de outubro.

Sou contra o que estão fazendo de voltar a limites anteriores por questões técnicas e até porque pelas estatísticas está mais do que provado que a redução foi um tiro no alvo pela preservação da vida” Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego e segurança no trânsito 

Como motivos técnicos para a manutenção dos limites de velocidade ele aponta o alto número de acessos às marginais –diz ter contado 210 nas pistas da Tietê e na Pinheiros—e a falta de estrutura da pista, sem acostamento nas faixas expressas, por exemplo. “Se o pneu furar, é melhor pular no rio”, diz, em tom de brincadeira. Essas características das pistas, segundo Figueira, favorecem que o limite de velocidade não seja alto em favor de uma maior segurança no trânsito.

O consultor contesta também a proposta de Doria para manter limites distintos de velocidade nas pistas locais das marginais. Segundo Figueira, isso aumentaria o risco de acidentes nas mudanças de faixa, pois os motoristas seriam levados a entrar acelerando, quando fossem para a faixa à esquerda, ou reduziriam o limite antes da mudança para a faixa da direita.

“Vai se criar um nó, um stress para as pessoas. O cara vai reduzir antes de mudar de faixa, ele vai fazer isso para não ser multado”, diz. “Essa mudança não é boa do ponto de vista da segurança. Porque quem mudar [de faixa] já vai ter que mudar acelerando”, afirma.

O limite maior de velocidade também contribui para que os acidentes sejam de maior gravidade. “Quando aumenta a velocidade de 70 km/h pra 90 km/h, aumenta em até 65% a energia do impacto. E de 50 km/h para 60 km/h, aumenta em 44% a energia de impacto”, afirma Figueira.

O consultor em segurança do trânsito diz que um estudo realizado na Inglaterra aponta que a probabilidade de um pedestre sobreviver a um atropelamento a 40 km/h é de 80%. Já se o veículo estiver a 60 km/h, essa probabilidade cai para 25%.

O mestre em transportes Creso de Franco Peixoto afirma que, diferentemente das estradas, nas cidades, os motoristas estão constantemente mudando de percurso e trocando de pista. “O movimento principal na cidade é de acessibilidade, são veículos que estão mudando de direção. E com velocidades maiores, o risco de impacto é maior”, diz.

Peixoto afirma também que o aumento da velocidade máxima pode não levar à maior rapidez nos deslocamentos, pois não teria impacto na velocidade média desenvolvida pelos motoristas no trânsito da metrópole, constantemente engarrafado. “A cidade de São Paulo tem vários gargalos. Você dá mais velocidade ao veículo para ele chegar mais rápido no congestionamento, então o aumento de velocidade média pouco vai ser percebido”, afirma.

Sobre as faixas com diferentes imites na pista local da marginal, Peixoto afirma que isso pode levar à sobrecarga das faixas com limite maior de 60 km/h, levando motoristas a utilizarem a arriscada –e proibida—ultrapassagem pela direita.

“Isso faz com que o nível de serviço [utilização pelos veículos] fique muito alto nessas faixas e a velocidade média diminua. No mundo inteiro as cidades desenvolvidas estão reduzindo as velocidades. São Paulo está indo na contramão   Franco Peixoto, mestre em transportes

Gestão Doria promete medidas contra acidentes

Ao anunciar o plano para as marginais nesta segunda-feira, a equipe de Doria reforçou que serão tomadas medidas para garantir a segurança nas pistas. "A segurança nas vias será reforçada com ações de fiscalização, de sinalização preventiva e educativa e melhorias na orientação dos motoristas, motociclistas e pedestres", diz trecho do comunicado divulgado à imprensa.

O comunicado também afirma que a análise técnica das marginais levou à conclusão que seria possível o aumento na velocidade máxima. "A proposta de mudança nas velocidades nas marginais teve como ponto de partida a análise das características operacionais de tráfego e as condições de geometria das vias, que permitem velocidades maiores", diz o texto.

Também foram anunciadas diversas medidas contra acidentes nas marginais, como ampliação da fiscalização contra o comércio ambulante nas pistas e instalação de lombofaixas para pedestres nas vias perpendiculares às marginais.

O que pensa o pedestre sobre a velocidade nas marginais de SP?

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