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Vídeo reforça relato de agressão, diz advogado sobre garoto morto no Habib's

Morte suspeita de jovem em unidade do Habib's é investigada - Reprodução - Reprodução
Família de João Victor protesta em frente a unidade do Habib's onde garoto morreu
Imagem: Reprodução

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

03/03/2017 17h39Atualizada em 06/03/2017 13h45

Para o advogado Ariel de Castro Alves, que acompanha a família do garoto de 13 anos morto em frente a uma unidade do Habib’s, em São Paulo, as imagens do vídeo divulgado nesta quinta (2) reforçam o relato feito pela única testemunha do caso.

Silvia Helena Troti, 59, afirmou na quarta-feira à polícia ter visto João Victor ser agredido por "um homem forte, gordo, moreno com uniforme do Habib's" e desmaiar em seguida. Segundo o relato, o homem segurou o garoto pela gola da camisa e deu um soco na cabeça dele. Ela também contou que presenciou um outro funcionário do Habib's "alto e magro" puxar o adolescente pelos braços junto com o primeiro agressor e, juntos, seguiram de volta para o Habib's. O menino desmaiou durante o trajeto e, segundo ela, espumava pela boca. 

O garoto João Victor, 13, que morreu em frente ao Habib's - Reprodução - Reprodução
O garoto João Victor, 13, que morreu em frente ao Habib's
Imagem: Reprodução

No vídeo divulgado pela Band nesta quinta-feira, João Victor é visto segurando um pedaço de pau, como haviam afirmado alguns funcionários da empresa no dia da ocorrência. Em determinado momento, o garoto atravessa a rua correndo, seguido por dois homens. Após alguns instantes, eles voltam para o lugar de origem, arrastando o menino e o jogando contra o chão. Aparentemente, o menino está desacordado e não demonstra reação. O advogado informou que as imagens já estão com a delegacia responsável pela investigação.

"Essas imagens reforçam o depoimento da testemunha. É um indício de que funcionários do Habib's podem ter praticado agressões que desencadearam a morte da criança", afirma Ariel de Castro Alves, que é membro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana).

UOL tenta desde a tarde de quinta-feira um posicionamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública) sobre os questionamentos do advogado que acompanha a família de João Victor. A assessoria da SSP-SP informou que a posição da SSP permanecia a mesma informada em nota divulgada no dia 1º.

"A Polícia Civil esclarece que o 28º Distrito Policial investiga, por meio de inquérito, a morte de João Victor de Souza Carvalho, de 13 anos, ocorrida na noite de domingo (26), em frente a um restaurante na Freguesia do Ó. O caso foi registrado no 13º DP como morte suspeita. A polícia aguarda resultado dos laudos para confirmar a causa da morte."

Advogado aponta problemas na investigação

Alves afirma haver diversas falhas por parte da polícia no caso que investiga a morte. O primeiro erro, segundo ele, foi a Polícia Civil ter descartado o relato da testemunha, Silvia Troti, que se prontificou a relatar o que viu quando os policiais chegaram ao local. Segundo Troti, PMs teriam dito que ela era "noia" e que não serviria para depor. "Se os PMs tivessem dado crédito à testemunha [no momento do atendimento], os autores desse crime bárbaro poderiam estar presos [em flagrante]", afirmou Castro. Troti prestou depoimento no 28º DP (Freguesia do Ó) na quarta-feira, três dias depois da morte do garoto.
 
Outra crítica do advogado é sobre a demora no início das investigações. Para ele, é um “absurdo” o caso ter demorado três dias para ter um inquérito aberto. "Os fatos ocorreram às 19h do dia 26. O registro ocorreu apenas às 4h da manhã do dia 27. E as investigações começaram só três dias depois. Apurações de mortes não podem aguardar o final de feriados", relatou, em referência ao Carnaval.
 
O resultado do laudo que comprovará a causa da morte de João Victor ainda não foi divulgado pelo IML (Instituto Médico Legal). Na declaração de óbito consta que ele morreu depois de uma parada cardiorrespiratória.
 
De acordo com Alves, mesmo que o laudo comprove que João morreu por causas naturais, a linha de investigação pode levar em conta se a perseguição dos funcionários contribuiu para um infarto, "acelerando uma morte natural". Para o advogado, se isso se confirmar, os funcionários envolvidos na ação podem ser indiciados por homicídio qualificado por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima.

Afastamento dos funcionários

Depois da divulgação de um vídeo com imagens do momento em que o adolescente é perseguido por dois homens uniformizados e jogado contra o chão, o Habib's anunciou o afastamento de funcionários. O conteúdo foi exibido em reportagem da Band na noite desta quinta-feira.

"Diante das imagens divulgadas pela imprensa hoje, comunica que decidiu afastar os colaboradores envolvidos até que tudo seja elucidado", informou o Habib's, por meio de nota, sem dizer quantos empregados foram afastados nem divulgar seus nomes.

SSP-SP não se manifesta

UOL tenta desde a tarde de ontem um posicionamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública) sobre os questionamentos do advogado que acompanha a família de João Victor. 

Um e-mail foi enviado ontem às 15h38 para a assessoria de imprensa da pasta com o pedido. Como não houve resposta, a reportagem tentou um novo contato às 9h54-- por telefone-- e foi informada de que até aquele momento não havia atualizações sobre posicionamento da secretaria sobre o caso. Minutos depois (10h24), um novo e-mail foi enviado solicitando uma resposta formal por e-mail, mas até o fechamento deste texto não houve retorno. 

*Com informações da Agência Estado