Topo

Habib's afasta funcionários suspeitos de agredir menino que morreu em SP

Daniela Garcia

Do UOL, em SP

02/03/2017 21h54

O Habib's afastou funcionários suspeitos de agredirem o garoto João Victor, 13, que morreu no domingo (26) após uma confusão na lanchonete na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo. A empresa informou que decidiu pelo afastamento depois da exibição de uma reportagem da Band desta quinta-feira (2). A TV divulgou imagens do momento em que o adolescente foi perseguido pelos funcionários e jogado contra o chão.

João Victor teve uma parada cardiorrespiratória diante de funcionários do Habib's, no último domingo (26). A Polícia Civil investiga o caso.

"Diante das imagens divulgadas pela imprensa hoje, comunica que decidiu afastar os colaboradores envolvidos até que tudo seja elucidado", informou o Habibs, por meio de nota, sem dizer quantos empregados foram afastados nem divulgar seus nomes.

As imagens registraram a movimentação na rua em frente à lanchonete. Na gravação, João Victor é visto segurando um pedaço de pau, como haviam afirmado membros da empresa à polícia. Em determinado momento, o garoto atravessa a rua, correndo, seguido por dois funcionários do Habib's. Após alguns instantes, eles voltam para o lugar de origem, arrastando o menino e o jogando com força contra o chão da rua. 

Na nota, o Habib's alega que o afastamento foi feito por uma "questão de princípio humano". A empresa afirma ainda estar "abalada com tudo que ocorreu" e diz que repudia todo e qualquer ato de violência física ou moral. 

A rede de restaurante voltou a dizer que está colaborando na busca de informações que ajudem as autoridades a esclarecer o caso. "Assim como toda sociedade, o Habib’s aguarda o laudo completo do IML [Instituto Médico Legal] que esclarecerá o ocorrido", pontuou.

Segundo a nota, o Habib’s está prestando auxílio à família. O comunicado, porém, não descreve qual o tipo de ajuda.

AO UOL, Marcelo Fernandes de Carvalho, pai de João Victor, disse que o filho nunca foi diagnosticado com problemas no coração. "A gente só quer a verdade. Ele nunca teve problema no coração, era saudável. Ele ia no Habib's para pedir um dinheirinho, não ia lá para roubar", afirmou.

Inconformado com a morte do filho, Carvalho não acredita na versão dos funcionários do Habib's, que relataram que o menino teve um mal súbito depois de sair correndo ao ser repreendido. O pai defende que ele morreu em decorrência de agressão. Ele confirma que João costumava ir ao local para pedir dinheiro e comida. "Ele tinha vontade de comer uma coisa melhor."

O garoto morava com o pai desde os 5 anos, quando Carvalho e a mãe do garoto se separaram.

Entenda o caso

João Victor teve uma parada cardiorrespiratória diante de funcionários do Habib's, no último domingo (26).

De acordo com o Boletim de Ocorrência, registrado às 4h50 de segunda (27), a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência de "agressão" no restaurante. Chegando ao local, os policiais nada encontraram, mas funcionários da unidade informaram que o adolescente estava "importunando os clientes, inclusive com um pedaço de madeira". Na tentativa de repreendê-lo, o menino "saiu correndo e, neste instante, teve um mal súbito". 

Uma vizinha de Marcelo Fernandes de Carvalho, pai do garoto, que disse ter testemunhado a ação dos funcionários do restaurante, prestou depoimento ontem (1º) no 28º Distrito Policial (Freguesia do Ó) e afirmou ter visto quando João Victor foi agredido por dois funcionários da lanchonete.

"O segurança pegou João Victor pelo pescoço desferindo um violento soco contra sua cabeça", relata o documento. "No caminho, a poucos metros do Habib's, sendo segurado pelo gerente e pelo segurança, João Victor desmaiou". A testemunha se aproximou e percebeu que o menino estava "espumando" pela boca, inconsciente.

Uma equipe do Samu o socorreu, mas, antes de chegar no pronto-socorro do hospital Mandaqui, ele teve uma parada respiratória e morreu. Aparentemente, não foram encontradas marcas de agressão em João Victor. O corpo do jovem passou por exames no IML (Instituto Médico Legal), mas o resultado do laudo ainda não foi divulgado.

Apesar de não acreditar no argumento de que não houve agressão, o pai do adolescente acredita que, mesmo que ele não tenha sido agredido, as ameaças sofridas por João podem ter contribuído para a morte. "Ele pode ter morrido de susto também na hora que correram atrás dele. Foi tentar correr, ficou todo mole e caiu."

O pai relatou também que o filho passava por um tratamento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) por conta do envolvimento com lança-perfume, mas que ele tinha melhorado bastante desde o início. Ele não soube precisar há quanto tempo João Victor estava sendo acompanhado por profissionais.

"Lá ele brincava, tinha médicos que davam conselho para ele. Todo mundo gostava dele", afirmou.