Topo

Rocinha em guerra tem operação e mais de 3.000 alunos sem aula; ao menos 4 suspeitos morreram

Cápsulas Rocinha - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro
Cápsulas de munição encontradas nesta segunda na Rocinha
Imagem: Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro

Hanrrikson de Andrade e Mônica Garcia

Do UOL, no Rio

18/09/2017 08h11Atualizada em 18/09/2017 18h22

As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro realizam nesta segunda-feira (18) uma operação para reprimir o tráfico de drogas na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, depois de um fim de semana marcado por confrontos entre criminosos da região. A guerra na comunidade, que teve início por conta de uma disputa entre quadrilhas rivais, deixou ao menos quatro mortos entre domingo (17) e hoje. Três moradores foram atingidos por disparos, mas sobreviveram. O tiroteio durou ao menos cinco horas.

Dois corpos carbonizados não identificados foram retirados da Rocinha nesta segunda-feira --segundo investigações, seriam de homens do grupo do atual chefe do tráfico, Rogério 157. Outro morto é Thiago Fernandes da Silva, 25, da quadrilha do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem. Nesta segunda, segundo a polícia, um homem ainda não identificado morreu --ele foi levado para o hospital Miguel Couto; com ele, foi encontrada uma pistola.

Imagens registradas pela Polícia Civil na região da rua 2 mostram casas e estabelecimentos comerciais crivados de balas.

Até as 16h, três pessoas haviam sido oram presas. Segundo a PM, um dos suspeitos foi preso durante a incursão de equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na favela. Houve confronto, um suspeito foi atingido e levado para o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, também na zona sul. Ainda de acordo com a PM, uma pistola calibre 9 mm foi apreendida.

Casa crivada de balas na Rocinha - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro
Casa crivada de balas após confrontos de domingo na Rocinha
Imagem: Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro

A operação, que conta com 400 policiais --300 da PM e cem da Civil--, tem duas etapas. Inicialmente, PMs estabilizam o terreno para a entrada, na sequência, dos policiais civis. O objetivo é o cumprimento de mandados de prisão. A Polícia Militar recomendou que a população residente na área da Rocinha e também os que utilizam as vias no entorno --a região é um dos principais acessos à Barra da Tijuca, na zona oeste-- tenham cuidado.

"A Polícia Militar está lidando neste momento com cinco possibilidades de invasões. Comunidades sendo invadidas por milícias, por facções rivais em diferentes pontos. Guerra na Maré, guerra na zona oeste em três pontos. A aça da Polícia Militar é difícil. Uma polícia que vem lidando há muitos meses com escassez de recursos materiais e humanos. Aqui na Rocinha a PM teve uma missão preliminar, que era estabilizar o terreno, e isso já conseguimos. Estamos há várias horas sem confrontos armados", afirmou no começo da tarde de hoje o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz, ao responder à pergunta sobre por que a polícia não interveio antes da tentativa de invasão.

Por conta do perigo na localidade, 2.489 alunos da rede municipal estão sem aula na Rocinha. As atividades da manhã foram suspensas em cinco escolas, duas creches e um EDI (Espaço de Desenvolvimento Infantil). A Secretaria de Estado de Educação informou que a sua rede não foi afetada.

Estudantes de colégios da prefeitura na comunidade Vila Canoas, em São Conrado, perto da Rocinha, e do Morro do Vidigal também acabaram sendo prejudicados no primeiro turno escolar desta terça. Nessas localidades, são 700 crianças e adolescentes obrigados a ficar em casa.

bope e van metralhada - Divulgação/PMERJ - Divulgação/PMERJ
Policial do Bope percorre rua da Rocinha e observa van metralhada durante confronto
Imagem: Divulgação/PMERJ

Estão mobilizados na operação policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais), a divisão de elite da PM, e de outras unidades como o Batalhão de Choque, o BAC (Batalhão de Ações com Cães) e o 23º BPM (Leblon). Até 8h, não havia qualquer menção a apoio das Forças Armadas na ação.

Desde julho, militares do Exército e homens da Força Nacional de Segurança estão no Rio em um esforço integrado de combate à criminalidade, que faz parte do Plano Nacional de Segurança, articulado pelo governo federal. Esse efetivo foi amplamente utilizado em grandes operações realizadas no último mês para reprimir o tráfico de drogas e, sobretudo, o roubo a veículos de carga.

No domingo (17), o confronto entre traficantes na Rocinha começou logo cedo, por volta das 6h. Pouco depois, a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade, localizada no principal acesso à favela (Via Ápia), foi atacada a tiros. A polícia respondeu ao atentado e tiroteios ainda mais intensos ocorreram ainda durante a manhã.

O confronto foi causado por uma disputa entre traficantes da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), que se desentenderam. A tensão se deve a um racha entre Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que era soberano no comando da favela até ser preso, em 2011, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que assumiu o controle das bocas de fumo após a queda do ex-aliado.

Rocinha - José Lucena/Estadão Conteúdo - José Lucena/Estadão Conteúdo
Policiais participam de operação na comunidade da Rocinha nesta segunda
Imagem: José Lucena/Estadão Conteúdo

Nem estaria insatisfeito com o comando de Rogério 157. A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital). Nem teria tentado expulsar Rogério do morro, por ordens dadas da prisão, e este por sua vez teria expulsado aliados de seu antecessor. A gota d'água foi quando Rogério mandou expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro.

Por causa disso, aliados de Nem da ADA, incluindo de outros morros, teriam mobilizado a invasão da Rocinha. Este foi o maior confronto desde que a favela passou a contar com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), em 20 de setembro de 2012.

De acordo com a polícia, mesmo cumprindo pena em uma penitenciária de segurança máxima federal, em Porto Velho (RO), a mais de 3.000 km do Rio, Nem teria sido o mandante dos ataques. A ideia seria vingar a morte do criminoso Ítalo de Jesus Campos, o Perninha, assassinado a mando de Rogério 157, no mês passado.

Segundo Blaz, não há confirmação se Rogério 157 está Rocinha. "As informações são desconexas. Há boatos que ele estaria no Vidigal. O fato é que estamos levando em consideração todas essas ações, com policiais no Vidigal, a ação aqui [Rocinha], que tem uma área muito grande e uma zona de mata atlântica extensa e que os criminosos fazem uso dessa região para transitar", disse o PM.

Nas redes sociais, moradores compartilham fotos, vídeos e falam em mais mortos. Em uma das publicações, é possível ver um grupo correndo e atirando com metralhadoras. Há também imagens que mostram o momento exato no qual o bando de Rogério 157 rouba dois carros e foge pelo interior da favela.

Confrontos no Juramento

No Morro do Juramento, na zona norte carioca, uma outra disputa entre grupos criminosos rivais provoca clima de pânico na região. Desde sábado (16), ao menos sete morreram durante confrontos armados. Segundo a PM, todos eram suspeitos de associação com o tráfico de drogas da comunidade.

A Secretaria Municipal de Educação informou que, nesta segunda, duas escolas e uma creche situadas nos arredores da favela também suspenderam as aulas em decorrência dos tiroteios. No total, 1.106 alunos foram prejudicados.

Dois mortos no Leme

Policiais da UPP do Chapéu-Mangueira e da Babilônia, no Leme, bairro vizinho a Copacabana, na zona sul carioca, encontraram dois corpos neste domingo (17), depois de um confronto ocorrido na parte alta das comunidades.

A Divisão de Homicídios investiga as circunstâncias das mortes. A região do Leme também tem sido alvo de uma disputa entre facções rivais do tráfico de drogas.

*Com informações da Agência Estado