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"Completamente abalada", diz mãe de jovem estuprada em SP; PM suspeito se entregou

14.dez.2018 - Criminoso puxa vítima pelos braços antes de estupro, na zona leste de SP - Reprodução - Reprodução
Vítima foi arrastada pelo criminoso para dentro do carro; principal suspeito é um cabo da Polícia Militar de SP
Imagem: Reprodução

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

22/01/2018 14h30Atualizada em 23/01/2018 10h00

Um cabo da PM (Polícia Militar) é suspeito de ter estuprado uma jovem de 18 no último dia 14 de janeiro, no Aricanduva, zona leste de São Paulo. O cabo, que teve o pedido de prisão temporária decretado pela Polícia Civil, se apresentou à delegacia e foi ouvido e liberado na tarde desta segunda-feira (22).

Imagens de uma câmera de segurança flagraram o momento em que a técnica em nutrição é atacada, às 7h, pelo criminoso. O homem, que dirigia um Fiat Siena preto, desce, espera a vítima se aproximar e a puxa pelos braços. Ele obriga a mulher a entrar no banco de trás do veículo. O PM suspeito tem um carro da mesma marca, modelo e cor.

Dentro do carro, o criminoso manteve uma arma apontada para a vítima e a estuprou por 30 minutos, segundo a Polícia Civil. O caso também é investigado pela Corregedoria da Polícia Militar e acompanhado pelo ouvidor das duas polícias, Julio Cesar Fernandes. A equipe que ouvia o cabo na tarde desta segunda informou à reportagem que iria "preservar os investigados até a finalização do inquérito".

À polícia, a vítima relatou que não sabe se o criminoso usou preservativo. Enquanto a estuprava, ele impediu que ela olhasse seu rosto. 

A mãe da vítima afirmou ao UOL nesta segunda-feira (22) que a filha está "completamente abalada e se recusa a falar ou relembrar o assunto". A jovem foi submetida a exame sexológico e foi atendida pelo serviço Bem Me Quer, do hospital estadual Pérola Byington, em São Paulo.

"Ela foi bem atendida, tanto na delegacia quanto no hospital. Agora, está descansando e sob os cuidados da família. A gente fica revoltada, mas queremos Justiça. O meliante que fez isso tem que pagar de um jeito ou de outro", disse a mãe, uma auxiliar de limpeza de 37 anos que teve o nome omitido para preservar a vítima. 

"Assim como a gente soube [do vídeo] e vocês [da imprensa] souberam, o bandido também soube. A divulgação dessas imagens pode ter atrapalhado a polícia. O vídeo pode ter espantado o criminoso", lamenta a mãe. "A polícia disse que o vídeo pode ter espantado o criminoso", afirmou.

Investigações: buscas e suspeitas

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que o 66º DP (Distrito Policial), no Jardim Aricanduva, instaurou inquérito para investigar o estupro. "Mais detalhes não serão divulgados para não atrapalhar o trabalho policial, bem como para preservação da vítima de violência sexual", afirmou.

A Corregedoria da PM informou que neste domingo (21) foi feita busca e apreensão na casa do cabo da corporação, mas que ele não estava no local. O departamento que investiga desvios de policiais militares no Estado aponta que existem indícios de que o PM não é o estuprador.

Segundo a investigação, o PM tem um porte físico e cor de pele diferentes do homem que foi flagrado no vídeo. Investigadores da Polícia Civil e peritos que compararam, a pedido do UOL, o vídeo e a foto do PM também dizem não parecer ser a mesma pessoa. 

A Ouvidoria da Polícia de São Paulo enviou ofícios ao MP (Ministério Público) e Corregedoria da PM pedindo que a investigação seja rigorosa. "O ideal é que um promotor acompanhe a investigação para que, havendo indícios sérios, que o PM seja denunciado e que venha a responder por esse crime bárbaro", disse o ouvidor Julio Cesar Neves.

No entanto, ele pede que a investigação seja isenta de "corporativismo": "Tem que ter uma investigação. E ele tem que ter o direito de se defender, através de um processo legal. Ficando comprovado que não era ele, ele não deve responder. Do contrário, deve responder administrativamente e criminalmente", afirmou Neves.

A reportagem ligou para os telefones fixo e móvel do policial militar suspeito, mas não obteve retorno.

41 dias antes, PM assediou jovem na mesma região

Na mesma região da zona leste da capital, no bairro de José Bonifácio, o cabo suspeito de ter estuprado a técnica em nutrição teve de assinar um termo circunstanciado de importunação ofensiva ao pudor por ter assediado uma estudante de 19 anos.

O caso ocorreu no dia 4 de dezembro do ano passado, às 9h. O carro que ele dirigia é do mesmo modelo e cor flagrado no estupro da técnica em nutrição: o Siena preto.

De acordo com o Boletim de Ocorrência registrado pela estudante em dezembro, ao qual o UOL teve acesso, ela parou um carro da PM e informou que um homem "tinha passado com um carro Siena preto e tinha mostrado o órgão genital e proferido as seguintes palavras: 'olha que gostosa'".

Os PMs a convidaram para entrar no carro da corporação e andar pelo bairro para tentar localizar o assediador. Próximo a um mercado, ela o reconheceu.

Foi feita abordagem e constatado que o homem é um cabo da Polícia Militar. Questionado sobre o ocorrido, ele negou o ato. Ele e a vítima foram levados ao 103º DP, na Cohab II, em Itaquera. Lá, ele assinou o termo circunstanciado e foi embora.