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PM que empurrou aluna com arma dentro de escola foi afastado

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

05/04/2019 12h43Atualizada em 05/04/2019 16h03

O policial militar que empurrou uma aluna com uma arma dentro de uma escola em Guarulhos (Grande São Paulo) ontem à noite durante um protesto de estudantes foi afastado do serviço nas ruas. A informação é da Ouvidoria das Polícias de São Paulo e foi confirmada pela Corregedoria da Polícia Militar.

No vídeo, é possível ver dois policiais entrando por um portão da escola estadual Frederico de Barros Brotero. Um deles, com uma arma em mãos, entra aparentemente irritado e empurra uma aluna, que não foi identificada, que se aproxima dele.

Os alunos faziam uma manifestação dentro do colégio contra o diretor da escola. De acordo com o post do perfil do Facebook que publicou o vídeo, a pessoa identificada como Maria da Conceição Ferreira afirma que "os estudantes não aceitam a direção do atual diretor da escola, além da falta de materiais, desfalque de professores e tantas aulas vagas".

De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), a PM apreendeu dois adolescentes de 16 anos por "ameaça, dano e vias de fato". A dupla será encaminhada à Vara da Infância e Juventude de Guarulhos e o caso será investigado pelo 1º DP de Guarulhos.

"A Polícia Militar tomou ciência do vídeo da ação e instaurou investigação para analisar a conduta dos policiais envolvidos e todas as circunstâncias da ocorrência", diz a pasta.

Ao UOL, no entanto, o corregedor Marcelino Fernandes afirmou que não há investigação, pois o PM já foi afastado. "Atitudes que não condizem com nosso protocolo de atuação. Não se justifica o desrespeito do cidadão menor ou maior de idade com atitudes que fogem ao protocolo de policiamento", disse.

Benedito Domingos Mariano, ouvidor das Polícias, disse à reportagem ter enviado ainda ontem pela noite as imagens para análise da Corregedoria da Polícia Militar, que investiga a PM.

Domingos Mariano afirma que os policiais agiram de forma abusiva e que instaurou procedimento investigatório e que irá acompanhar o caso.

Segundo a PM, a polícia foi acionada pela direção da escola por conta do protesto e, ao chegar ao local, ainda de acordo com a corporação, os policiais teriam sido hostilizados.

Mesmo assim, a PM endossa que não concorda com a atitude do policial de empurrar a aluna com a arma. "A Polícia Militar tomou ciência do vídeo e instaurou investigação para analisar a conduta dos policiais e todas as circunstâncias da ocorrência, o que poderá resultar no afastamento do serviço operacional", disse a corporação.

Horas depois de a reportagem ter revelado o afastamento do PM, o governador do estado, João Doria (PSDB), após assistir as imagens, determinou ao comando da Polícia Militar que o policial fosse afastado imediatamente.

"Policiais despreparados"

Para Rafael Alcadipani, professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a postura do policial foi completamente inadequada para uma ação dentro de uma escola.

"Essa situação está em um contexto em que os policiais da Polícia Militar parecem que estão se sentindo muito livres para fazer muita coisa ultimamente", afirma.

Ariel de Castro Alves, advogado e membro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana), afirma que os policiais da ocorrência são despreparados.

"Apontando e agredindo os estudantes com armas de grosso calibre. E se ocorresse um disparo certamente o policial alegaria falha da arma e disparo acidental para ficar impune, como costuma ocorrer", afirma."Reivindicações e questões educacionais não podem ser tratadas como caso de polícia".