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Franceses que vivem no Brasil veem com descrença as promessas dos presidenciáveis

Fabiana Nanô

Do UOL, em São Paulo

21/04/2012 06h00

A comunidade francesa no Brasil vê com descrédito as eleições presidenciais deste domingo, que devem levar para o segundo turno o atual presidente, Nicolas Sarkozy (UMP, centro-direita), e François Hollande (PS, centro-esquerda). Depois de acompanhar os debates e as campanhas dos dois favoritos e dos que aparecem logo a seguir nas pesquisas, Marine Le Pen (FN, extrema-direita) e Jean-Luc Mélenchon (PG, extrema-esquerda), os franceses que moram se dizem descrentes em relação às promessas feitas.

 “Há muita demagogia. É um candidato atacando o outro sobre temas que não são pertinentes. Estão muito desligados da realidade”, afirma Armelle Champetier, analista financeira que mora há dois anos no Brasil e não tem planos de voltar ao seu país natal. Para ela, temas fundamentais como a crise e a economia são colocados em segundo plano, e, quando aparecem, são usados para fazer politicagem. “Não consigo levar a sério esses candidatos.”

Ela diz que não vai votar porque ainda não se inscreveu no Consulado, mas, mesmo se o tivesse feito, não sabe se participaria destas eleições. “Nenhum candidato me mobiliza.” O voto é facultativo para os franceses e, por isso, Armelle acredita que muitas pessoas não vão votar. “Muita gente pensa que um presidente não pode fazer muita coisa.”

Sem rumo

Na França, as estimativas são de que os indecisos cheguem a 11 milhões. Emilie Villela, empresária que mora há cinco anos no Brasil, se encaixa neste grupo. “Este ano estou com muita dificuldade de escolher o candidato, mas pretendo votar no domingo.” Ela também reclama que assuntos superficiais têm tido mais destaque na mídia, “e escondem as reais perguntas, sobre a crise econômica”. Entre os temas sem importância, cita a reforma na carteira de motorista, debatida entre os candidatos.

Saiba mais

Devido ao fuso horário (na França são 5 horas a mais), os franceses no Brasil irão votar neste sábado (21), entre 8h e 18h. A votação é presencial - a pessoa deve ir ao Consulado ou fazer uma procuração para alguém votar por ela. Segundo a Embaixada da França no Brasil, há 15.050 franceses habilitados para votar no país.

Nas últimas presidenciais, em 2007, Sarkozy obteve, no primeiro turno, 39,6% dos votos dos franceses que moram no Brasil, e 54,4% no segundo turno, enquanto sua rival socialista Ségolène Royal reuniu 32,8% e 45,5%, respectivamente, de acordo com a Embaixada.

Ainda entre os indecisos se encontra Alexandre Barral, que mora há um ano no Brasil e trabalha com financiamento de empresas. “Eu e todas as pessoas que conheço não sabemos em quem votar. Quem votou em Sarkozy [em 2007] está decepcionado, e, por outro lado, a esquerda não vê Hollande como alguém que possa dirigir o país. As pessoas não têm confiança, acham que não haverá grandes mudanças.”

Por este motivo, Barral acredita que muitos vão votar nos extremos políticos, encarnados em Mélenchon e Le Pen. Embora sejam o oposto um do outro, ambos são antieuropeus, ou seja, defendem a saída para a crise com uma França afastada da União Europeia.

Mélenchon também tem a seu favor o fato de ser um bom orador. Emilie diz que ele tem um discurso que “queremos ouvir, dando esperanças de um dia de amanhã melhor, embora muitas promessas estejam fora do possível”.

Thierry Jourdet, que mora há 25 anos no Brasil e trabalha em uma empresa de biotecnologia, concorda que o esquerdista é um bom palestrante e é carismático. “Isso ecoa muito bem na população.”

Incertezas à frente

Jourdet está entre os que acham que haverá poucas mudanças no futuro da França caso Sarkozy ou Hollande vençam as eleições. “Os dois têm muitos pontos em comum. As diferenças não são fundamentais, não vai haver uma ruptura”, afirma. Ele também acredita que nenhum dos dois ataca um ponto fundamental, o problema da dívida e da economia do país. “Eles não têm coragem de colocar os pingos nos is e dizer que têm que passar um remédio amargo para a população. Dizem o que o povo quer ouvir, é um pouco anestésico.”

Apesar das semelhanças, Emilie consegue distinguir algumas características entre os dois favoritos. “Sarkozy foca a campanha dele em uma estratégia de divisão do povo. Ele distingue grupos de pessoas e coloca uns contra os outros, empregados versus desempregados e franceses versus imigrantes. Como se todos os desempregados fossem preguiçosos, quando na verdade falta emprego; e como se todos os imigrantes fossem terroristas ou pessoas que temos que mandar para fora.”

Já o socialista Hollande fez as propostas de campanha, mas não avançou. “Não acho que ele vá implementar uma política de esquerda tanto quanto diz. Ele promete justiça social, mas depois vai a Londres e diz aos mercados financeiros para não se preocuparem. Não me inspira confiança”, continua.

Para os franceses, os próximos anos se anunciam complicados. Jourdet é enfático quanto a esse aspecto. “As gerações futuras terão menos benefícios. Elas já não podem defender os mesmos direitos do século passado.”