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Novo bombardeio turco mata soldados sírios em cidade fronteiriça

Do UOL, em São Paulo

04/10/2012 03h13Atualizada em 04/10/2012 05h56

Um novo bombardeio turco, na madrugada desta quinta-feira (4), matou “vários” soldados sírios em um posto militar do país na região de Rasm al-Ghazal, perto da cidade fronteiriça de Tel Abyad. A informação é do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Embora não tenha sido confirmado pelas autoridades sírias, o ataque foi citado por um oficial turco ouvido pela agência AFP.  "Os disparos de artilharia foram retomados esta manhã (3h de quinta em Brasília)", disse a fonte, que pediu para não ser identificada.

Esse é o segundo bombardeio das Forças Armadas da Turquia contra alvos situados em território sírio em dois dias. Nesta quarta-feira (3), a Turquia perpetrou um ataque contra a Síria, em represália a disparos efetuados a partir de território sírio que mataram cinco civis em localidade na fronteira turca. É a mais grave escalada da tensão na fronteira entre os dois países desde o início dos conflitos na Síria, que já duram 18 meses.

"Este ataque foi uma resposta imediata de nossas forças armadas (...), que bombardearam ao longo da fronteira alvos identificados por radar", admitiu o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, em um comunicado.

"No marco do direito internacional e das regras turcas de entrada ao combate, não podemos deixar sem resposta esta provocação do regime Sírio", concluiu.

Por outro lado, a Síria chegou a se pronunciar sobre a queda do morteiro na Turquia afirmando que o país está investigando de onde partiu o disparo e pediu moderação ao país vizinho após a retaliação turca. O ministro da Informação sírio, Omran Zoabi, também transmitiu suas condolências ao povo turco, dizendo que a Síria respeita a soberania dos países vizinhos. Ele pediu que outros países respeitem a soberania da Síria e que controlem suas fronteiras para impedir a entrada de homens armados no país.

Crianças entre os mortos

O morteiro disparado da Síria que caiu em um bairro residencial da cidade de Akçakale, na quarta-feira, matou uma mulher e quatro crianças da mesma família.

Segundo informações da agência Reuters, uma nuvem de poeira e fumaça pairou sobre os edifícios baixos após a explosão, enquanto os moradores corriam para ajudar as vítimas. Pelo menos outras oito pessoas ficaram feridas. Muitos moradores da região foram às ruas gritando em protesto contra as autoridades locais por conta da violência crescente na região em consequência da guerra civil da Síria.

"O ataque com morteiro atingiu o bairro bem no meio. A mulher e os quatro filhos de uma mesma família morreram", disse à Reuters o chefe local do Crescente Vermelho turco, Ahmet Emin Meshurgul, acrescentando que ele conhecia as vítimas pessoalmente. "As pessoas aqui estão ansiosas, porque já fomos atingidos antes. Forças de segurança tentaram convencer as pessoas a esvaziarem o bairro perto da fronteira, mas agora temos sido atingidos bem no meio da cidade", afirmou Ahmet. 

O projétil foi provavelmente disparado durante os combates que tropas regulares sírias e grupos rebeldes realizam há duas semanas pelo controle do posto fronteiriço de Tel Abyad. Na sexta-feira, outra bomba já tinha atingido Akçakale, mas sem causar vítimas.

Repercussão internacional

Em reunião de emergência convocada em Bruxelas, ainda nesta quarta-feira (3), os países membros da Otan manifestaram solidariedade à Turquia. Segundo uma fonte da diplomacia de um dos 28 países membros da aliança militar, "todos os aliados condenaram" o incidente "e enviaram uma mensagem firme de apoio à Turquia". Em comunicado divulgado após a reunião a Otan afirma que “continua ao lado da Turquia e pede o fim imediato de tais atos agressivos contra um aliado".

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmou estar indignada com o a queda de morteiro em território turco. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lamentou os bombardeios na fronteira entre Turquia e Síria e pediu ao governo turco que mantivesse abertos todos os canais de comunicação com Damasco para diminuir as tensões.

A crescente tensão entre Síria e Turquia também foi discutida em encontro do Conselho de Segurança da ONU, que estava reunido para tratar de outros assuntos quando a Turquia anunciou os ataques. Segundo o enviado britânico Mark Lyall Grant, o Conselho considerou os recentes acontecimentos muito preocupantes e esperava uma carta da Turquia sobre o incidente antes de considerar possíveis medidas.

Resposta turca

Antes da represália efetuada pela Turquia, o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, telefonou para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para informá-lo sobre a queda do morteiro e também conversou com altos funcionários militares e o mediador da crise na Síria, Lakhdar Brahimi. 

Em um desses contatos, o chefe da Otan, Anders Fogh Rasmussen, expressou "sua forte condenação do incidente em Akcakale".  A decisão turca de bombardear o território sírio foi anunciada após uma reunião entre o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, o ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, e o chefe das Forças Armadas.

O vice-primeiro-ministro Bulent Arinç invocou, sem citá-lo, o Artigo Cinco do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que obriga todos os países-membros a responderem quando um deles é agredido. "Isto exige uma represália segundo o direito internacional", afirmou Arinç segundo o jornal "Hurriyet".

O artigo invocado pelo vice-premiê prevê a defesa coletiva diante de um ataque contra um de seus membros. A Otan, que no ano passado atuou durante meses na Líbia, até agora tentou se manter distante do conflito sírio. Em junho, a Turquia já ameaçou usar a força contra a Síria depois que as baterias antiaéreas do país árabe derrubaram um de seus caças-bombardeiros.

Na última sexta-feira (28), outra bomba já tinha atingido Akçakale, mas sem causar vítimas. O ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, sinalizou no fim de semana que a Turquia iria tomar medidas caso se repetisse um ataque com morteiro como o que danificou casas e locais de trabalho na cidade fronteiriça.

Conflitos na Síria

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, cultivava boas relações com o presidente sírio, Bashar Assad, mas se tornou um crítico severo do regime após a revolta popular na Síria que começou no ano passado, acusando-o de criar um "Estado terrorista".

Erdogan tem permitido que os rebeldes sírios se organizem em território turco e pressionou por uma zona de segurança protegida por forças internacionais dentro da Síria. A Turquia também está abrigando mais de 90 mil refugiados da Síria e teme uma entrada em massa semelhante ao êxodo de meio milhão de curdos iraquianos para a Turquia após a Guerra do Golfo, em 1991.

O conflito na Síria já causou pelo menos 25 mil mortes; 2,5 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária e mais de 250 mil estão refugiadas em países vizinhos, de acordo com números das Nações Unidas.

(Com agências internacionais)