'Muitos extremos climáticos podem atingir país em 2024', alerta pesquisador
As tempestades que deixaram um rastro de destruição no Rio Grande do Sul nas últimas semanas são parte de extremos climáticos que pode atingir o Brasil ainda em 2024, de acordo o meteorologista e pesquisador Humberto Barbosa.
"Eu diria que este ano, em função das massas de ar provocadas naturalmente e por ação do homem, o país está com muitos potenciais de extremos climáticos", alerta Barbosa, fundador e coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas).
Entenda os potenciais riscos nas regiões
Enquanto a população gaúcha padece com o colapso causado pelas inundações no estado, outras regiões do país podem sofrer com os efeitos de altas temperaturas e chuvas intensas até o fim do ano, segundo o pesquisador.
"Esses eventos extremos estão conectados pelo excesso ou pela deficiência de umidade, e os dois são provocados não só pela natureza, ou seja, pela variabilidade natural do clima, como pela mão do homem. Embora sejam opostos nos efeitos que causam, tem a mesma origem, que são as altas temperaturas, que provocam chuvas em excesso em uma parte do país e altas temperaturas e tempo seco na outra". Humberto Barbosa, coordenador do Lapis, em entrevista ao UOL
No Sudeste e a uma parte do Centro-Oeste que inclui o Pantanal, Barbosa afirma que algumas cidades, como São Paulo, Curitiba, Campo Grande e Brasília, já enfrentam desde abril um evento extremo chamado "seca-relâmpago".
Caracterizadas pela ausência de chuvas e associadas às altas temperaturas, essas secas repentinas podem ter impactos dramáticos sobre a população e vegetação das regiões em um futuro próximo, ainda que, por enquanto, seus efeitos sejam menos notados, avalia o meteorologista.
'Extremos silenciosos'
O que estamos vendo no Sudeste e no Centro-Oeste com essa massa de ar quente é um evento extremo. As chuvas pararam e isso não é normal, ainda que seja mais silencioso, porque você não vê e não sente os seus efeitos como acontece nas enchentes, por exemplo. Por enquanto, a maioria só sente desconfortos causados pelo tempo quente e, no caso das enchentes, [as consequências] são mais rápidas, ela destrói e pode matar rápido.
Mas entre os potenciais riscos gerados a curto prazo pelos extremos de "secura", segundo Barbosa, estão a escassez de água para consumo e agricultura, bem como o agravamento das queimadas pelo centro-sul do país.
"A escassez de água gera muita vulnerabilidade social e para a agricultura. Com a falta de umidade do solo, as vegetações ficam mais secas, as queimadas são colocadas sob pressão, se intensificam e também podem causar eventos extremos perceptíveis. Aeroportos também podem ser fechados nessas condições, além de cidades sofrendo com os efeitos de poeiras de fumaça e de queimada, por exemplo."
Monitoramentos do Lapis indicam que o tempo quente e seco deve persistir sobre o Sudeste e Centro-Oeste em maio, com possibilidade da massa de ar seco se estender para outras áreas, como a região Sul.
Chuvas intensas no Norte e Nordeste
O Nordeste brasileiro também pode receber extremos climáticos em 2024, alertou Barbosa, sem precisar quais estados serão atingidos. "Ondas invisíveis de alta e baixa pressão que vêm da África podem chegar ao litoral do país com intensidade a partir de agora e provocar muitas chuvas na região nordestina".
Ainda há incertezas sobre extremos climáticos no Norte do país, mas alguns estados da região estão sob alerta de chuvas intensas previstas para maio, segundo a Climatempo.
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Quero receberOs volumes acumulados nos próximos dias podem ultrapassar os 200 mm na região, onde há chance de chuva forte sobre o norte do Amazonas, todo o estado de Roraima, o norte do Pará e o Amapá, conforme um comunicado divulgado pelo portal na última quinta-feira (9).
"Inclusive, a situação é de perigo, em função do volume de chuva muito elevado, no norte do Amapá. Boa Vista, Macapá e Belém devem ficar sob risco de temporais com rajadas de vento de até 80km/h", informa a Climatempo.
Imprevisibilidade dos extremos
Questionado sobre quando e como as regiões serão atingidas pelos extremos climáticos, Barbosa afirma que faltam dados e infraestrutura no país capazes de precisar essas informações.
Com as ações do homem provocando esses extremos cada vez mais frequentes junto às ações naturais, é preciso de muita máquina e muitos dados para a gente tentar interpretar e produzir previsões mais precisas. Só que a infraestrutura de dados no país, assim como em outros países periféricos, é precária e estamos bem aquém dos países desenvolvidos.
Com mais infraestrutura para pesquisar fenômenos climáticos, Barbosa acredita que "daria para entender melhor como eles vão atingir as regiões e, com isso, preparar respostas melhores aos municípios", a exemplo de políticas públicas, investimentos em infraestrutura de prevenção de tragédias e conscientização da sociedade sobre a chegada e os impactos socioambientais dos extremos climáticos.
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