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Risco de guerra nuclear entre as Coreias cresce com ditador jovem, diz especialista

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

06/04/2013 06h00

A atual tendência da Coreia do Sul de não aceitar provocações violentas da Coreia do Norte, a ascensão de um ditador jovem e inexperiente e o sucesso dos testes nucleares norte-coreanos são os fatores que deixam a atual crise entre as Coreias mais tensa do que nas vezes anteriores, na opinião do diretor do programa de não proliferação de armas no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, Mark Fitzpatrick, um dos principais especialistas sobre armas de destruição em massa no mundo.

Segundo o especialista, o primeiro fator de tensão é a mudança de postura do governo sul-coreano que está disposto a mostrar aos vizinhos do norte que não aceita mais nenhum tipo de provocação violenta. 

“O episódio de 2010 deu à Coreia do Norte a impressão de que eles podem provocar a Coreia do Sul sem que sofram nenhum tipo de penalidade”, disse. 

Naquele ano, a Coreia do Norte bombardeou o navio sul-coreano Cheonan e a ilha de Yeonpyeong matando, no total, 50 pessoas. Na época, a reação branda da Coreia do Sul evitou uma guerra. No entanto, para Fitzpatrick, agora os sul-coreanos agiriam de maneira diferente.

“Um ataque simples com armas convencionais contra forças sul-coreanas levaria a uma resposta militar por parte da Coreia do Sul. Por sua vez, esta ação forçaria o aumento da escalada de agressões que, se não for parada, poderia resultar em uma guerra de grandes proporções com o uso de armas nucleares e químicas”, afirmou Fitzpatrick ao UOL.

Outro fator que agrava a crise é Kim Jong-un, o atual líder norte-coreano. Para Fitzpatrick, o ditador é muito novo e inexperiente. A idade do ditador é incerta, mas é estimada entre 28 e 30 anos.

Quem é Mark Fitzpatrick

  • - diretor do programa de não proliferação de armas no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres
    - trabalhou por 26 anos no Departamento de Estado dos EUA
    - especialista em armas de destruição em massa

O arsenal nuclear norte-coreano também deixa a atual crise ainda mais tensa. A Coreia do Norte já efetuou três testes de bombas nucleares, em 2006, 2009 e 2012.

A cada teste realizado, o governo tem mais êxito. O último, feito em fevereiro de 2012, pode ter gerado uma explosão equivalente a até 15 kilotons, segundo alguns especialistas. A explosão da bomba atômica em Hiroshima, no Japão, durante a 2ª Guerra Mundial, gerou uma explosão equivalente a 16 kilotons.

Segundo Fitzpatrick, baseado na produção conhecida de plutônio na Coreia do Norte e nos testes realizados, é possível dizer que o país possui de quatro a dez bombas atômicas. No entanto, os norte-coreanos não possuem tecnologia suficiente para explodir uma dessas bombas nos Estados Unidos ou na Europa. 

Na verdade, não se sabe nem mesmo se um dos mil mísseis do país conseguiria transportar a bomba atômica, o que não significa que a Coreia do Norte não tenha outros meios de explodí-la. 

Na opinião de Fitzpatrick, os norte-coreanos não conseguiriam nem ao menos atingir com um míssil a ilha norte-americana de Guam, no Pacífico. No entanto, suas armas chegam com facilidade ao Japão e a qualquer cidade sul-coreana. 

O pesquisador não acredita que os norte-coreanos estejam dispostos a explodir uma bomba atômica como provocação. No entanto, durante um conflito, se o regime de Pyongyang perceber que está perdendo, existe o risco de uso da arma.

“Seria suicídio se a Coreia do Norte resolvesse atacar nações mais poderosas. Porém, se os norte-coreanos perceberem que estão perdendo uma guerra ou se o regime notar que corre o risco de acabar, uma arma nuclear pode, sem dúvida, ser usada”, afirmou. 

Outro risco é o do uso de armas químicas. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, a Coreia do Norte tem o terceiro maior estoque mundial de armas químicas e não hesitaria em usá-las durante uma guerra. 

“Sabemos que eles possuem principalmente gás mostarda e sarin. O uso de ambos é fatal e os norte-coreanos têm treinamento suficiente para que a ameaça seja real”, disse Fitzpatrick.