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Regime irá propor cessar-fogo, diz ministro sírio a jornal

Do UOL, em São Paulo

20/09/2013 04h30

O vice-primeiro-ministro da Síria, Qadri Jamil, afirmou em entrevista ao jornal britânico "The Guardian" nesta quinta-feira (19) que a guerra civil no país não pode ser vencida por nenhum dos lados, e que o regime do ditador Bashar al-Assad deve propor um cessar-fogo na conferência de Genebra (Suíça), ainda sem data para ser realizada, que irá debater o futuro da Síria.

Segundo ele, nenhum dos lados é forte o suficiente para vencer o conflito, que já dura dois anos, e causou a morte de mais de 100 mil pessoas. "Nem a oposição armada nem o regime são capazes de derrotar o outro lado. E este balanço de forças não irá mudar tão cedo", afirma.

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O comentário do político é a primeira proposta que a Síria levará para o encontro que EUA e Rússia tentam agendar há meses. Além disso, Qadri Jamil afirma ao jornal britânico que Damasco irá propor "o fim das intervenções externas, um cessar-fogo e o lançamento de um processo de paz no qual o povo sírio possa usufruir de autonomia e democracia sem interferência externa".

Jamil está no comando das finanças do país e disse ao "The Guardian" que a economia da Síria perdeu, devido à guerra, cerca de U$ 100 bilhões (R$ 240 bi), equivalente a dois anos de produção normal.

Diálogo na Suíça

A conferência de Genebra trata-se da aguardada segunda tentativa de por à mesa membros do regime sírio e da oposição armada para debater. O primeiro intento, em junho de 2012, durou um dia e não contou com a participação de nenhuma das partes do conflito. Os líderes da oposição afirmam que não irão à conferência ou abrirão diálogo a menos que Assad renuncie. O ditador detém o poder na Síria há 13 anos.

Na entrevista, Qadri Jamil afirmou que, caso seja aceito pelos rebeldes, o cessar-fogo deverá ser mantido "sob observação internacional", que pode ser fornecido por exércitos de paz da ONU ou monitores, "desde que partam de países neutros ou aliados".

Jamil reclama que os EUA tentam dar ao braço ocidental da oposição armada - a SNC (Coalizão Nacional Síria) - o controle do debate, o que tiraria o equilíbrio do encontro em Genebra. A questão é confrontada pela Rússia, parceira do regime sírio, que defende a participação de outros dois grupos da oposição: a NCB (Coordenação nacional para a mudança democrática na Síria) e uma delegação dos Curdos (grupo étnico que habita o nordeste do país). Ao contrário da SNC, estes grupos não exigiriam a renúncia de Assad para abrir negociação.

O ministro aponta ainda que o relatório da ONU que aponta o exército sírio como responsável pelo ataque químico de 21 de agosto, que matou mais de mil pessoas, não foi "totalmente objetivo".

Segundo ele, os foguetes inspecionados e apontados como carregados com gás sarin são, de fato, de produção soviética. No entanto, teriam sido importados na década de 1970, posteriormente levados à Líbia, onde foram carregados com químicos por Muamar Gaddafi e "exportado aos fundamentalistas sírios depois da queda do regime líbio".

Renovação no regime

Jamil é um dos dois ministros de gabinete de partidos seculares que assumiram cargo no ano passado, acabando com o monopólio do partido Ba'ath, do ditador Assad. A posse destes ministérios foi, afirma, "uma forma de mostrar aos dois lados que o governo está disposto a quebrar o caráter unilateral do regime e desfazer o medo da oposição de sentar-se à mesa para negociar".

Durante a entrevista ao "The Guardian", ele afirma que seus comentários estão alinhados com a posição do partido, mas também representam o governo sírio. "O regime sírio, em sua forma anterior, terminou. Para seguir com as progressivas reformas, agora precisamos que o Ocidente e todos os envolvidos na Síria saiam 'de cima de nossos ombros'".