Topo

Mesmo abaladas por segundo desastre, Malásia e Austrália ainda buscam avião desaparecido

Keith Bradsher e Chris Buckley

Em Kuala Lumpur (Malásia)

22/07/2014 08h37

Dois dos países mais afetados pela perda do voo 17 da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia, Malásia e Austrália, ainda estão ativamente envolvidos na busca por outro avião malasiano que desapareceu há mais de quatro meses, lidando com duas investigações de acidentes aéreos que exigem o envolvimento de muitas das mesmas pessoas.

Martin Dolan, o comissário-chefe do Birô Australiano de Segurança dos Transportes, disse que passou o fim de semana indo e vindo entre os dois esforços. Ele enviou dois investigadores à Ucrânia para examinar os destroços do voo 17 --um piloto e um engenheiro aeronáutico--enquanto cuidava da licitação para contratação da empresa que realizará a busca no fundo do sul do Oceano Índico pelo voo 370 da Malaysia Airlines.

"Nós estamos um pouco sobrecarregados", ele disse, acrescentando que uma verba extra do governo australiano, para a investigação do voo 370, possibilitará ao birô lidar com ambos os casos.

A Austrália enviou 45 funcionários à Ucrânia, incluindo os dois do Birô Australiano de Segurança dos Transportes.

A Malásia, como país de registro dos dois aviões, ambos Boeings 777-200, está ainda mais sobrecarregada, enviando 133 pessoas à Ucrânia. Entretanto, a Malásia delegou grande parte da busca pelo voo 370 à Austrália, já que acredita-se que o avião tenha caído a cerca de 1.600 quilômetros a oeste de Perth.

A Austrália anunciou que Angus Houston, o ex-chefe das forças armadas australianas que vinha liderando a busca pelo voo 370 desde seu desaparecimento no sul do Oceano Índico, em 8 de março, foi enviado à Ucrânia. Ele supervisionará a recuperação, identificação e repatriação dos restos mortais dos 27 australianos que estavam a bordo do voo 17 quando caiu --mais cidadãos do que qualquer outro país a bordo do avião, com exceção da Holanda e da Malásia.

"Ele permanecerá na Ucrânia o tempo que for necessário para concluir a tarefa", disse o governo australiano em uma declaração, que não citou o nome do substituto na supervisão do esforço em andamento para encontrar o voo 370.

Houston permanecerá coordenador do Centro Conjunto de Coordenação de Agências da Austrália, que supervisiona a busca pelo voo 370, mas sua vice, Judith Zielke, comandará a agência enquanto ele estiver na Ucrânia.

"Os esforços de busca pelo MH370 continuam não afetados pelos fatos recentes", disse o centro de coordenação por e-mail, em resposta às perguntas. "Encontrar o voo MH370 malasiano é uma alta prioridade para o governo australiano, assim como para a Malásia, China e outros países envolvidos nos esforços de busca."

Na Malásia, o ministro da Defesa, Hishammuddin Hussein, continua supervisionando a investigação do voo 370, principalmente porque era o ministro dos Transportes em exercício quando o avião desapareceu com 239 pessoas a bordo. Outra autoridade, Liow Tiong Lai, foi nomeado ministro dos Transportes há quatro semanas e está supervisionando a resposta de seu país ao voo 17, voando para Kiev na noite de sábado para isso.
 

Trajeto do voo MH17 - Arte/UOL - Arte/UOL
Voo ia de Amsterdã (Holanda) para Kuala Lumpur (Malásia)
Imagem: Arte/UOL

Hishammuddin, que aprecia os holofotes e é um dos principais candidatos a suceder seu primo, Najib Razak, como primeiro-ministro algum dia, convocou uma coletiva de imprensa para discutir o voo 17 de ausência de Liow. Mas esse evento foi cancelado após o governo malasiano ter decidido que Liow permaneceria a principal voz do governo sobre o assunto.

O governo malasiano tem se esforçado para mostrar ao seu povo que pode responder plenamente ao desastre do voo 17, após críticas consideráveis aqui e no exterior por sua resposta inicial ao caso do voo 370, quando pediu a governos estrangeiros que procurassem pelo Golfo da Tailândia, a nordeste, apesar de suas próprias forças armadas terem rastreado o avião pelo radar enquanto cruzava a Malásia e desaparecia do outro lado do Estreito de Malaca, a oeste.

Na Mesquita Sultan Abdul Samad, a maioria das pessoas que saía das orações demonstrava mais consternação com o caos no local do desastre do que com quem precisamente foi responsável pelo abate do avião, apesar de muitas terem dito que a Rússia era sua principal suspeita.

"Eu me importo mais com o bem-estar dos mortos", disse Amin Mohammed, um funcionário de aeroporto na faixa dos 20 anos. "Nós esperamos que os corpos voltem em bom estado. Eu não sei quem culpar. Veremos isso depois." Ele acrescentou: "Às vezes não dá para ficar claro quem está por trás de um evento".

Mohammed Amar Bin Azwant, que está estagiando no aeroporto, disse que o clima estava pesado entre os funcionários nos últimos dias, enquanto esperavam por notícias de identificação dos corpos e de serem trazidos para casa.

"Nós não sabemos quem causou isso. Na minha opinião, foram os russos, mas pode haver uma conspiração", ele disse. "O povo malasiano está muito furioso no momento. Nós estamos principalmente furiosos com os corpos das pessoas."

Outros disseram que o desastre aéreo foi outro golpe na imagem da Malásia, apesar da calamidade estar fora do controle das autoridades malasianas.


"Nós estamos preocupados porque, em quatro meses, tivemos dois casos assim", disse Mohammed Syaihan Liah, um oficial naval. "Parece que os russos devem ser responsáveis", ele disse, apesar de ter acrescentando de não estar claro porque a companhia aérea não mudou a rota do avião.

A maioria das companhias aéreas continuou sobrevoando a Ucrânia à medida que os combates se intensificavam ali nos últimos meses, incluindo a Singapore Airlines, que tem uma reputação de cautelosa, mas também tinha um avião no extremo leste da Ucrânia quando o jato da Malaysia Airlines foi abatido.

"A Singapore Airlines estava usando rotas aéreas aprovadas internacionalmente sobre partes da Ucrânia até a semana passada", disse a companhia aérea. "Elas estavam abertas para voos comerciais pela autoridade nacional que administra aquele espaço aéreo."

Hafidezuddin Raja Abdullah, um gerente de uma empresa manufatureira, disse que estava descontente com a forma como o governo malasiano estava lidando com o desastre, mesmo com o governo não tendo nada a ver com sua causa.

"Isso causa outra perda de confiança no governo malasiano", ele disse.

"Isso estava além do controle do governo malasiano, mas a resposta foi muito, muito lenta", ele disse. "O MH370 já tinha trazido má reputação ao país. Foi uma resposta imatura naquela ocasião. Desta vez a resposta foi melhor, por não estarem diretamente envolvidos. Mas nós malasianos gostaríamos de ver uma resposta mais rápida, não ficar aguardando por outros agirem."

* Michelle Innis, em Sydney (Austrália), contribuiu com reportagem.