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"Presidente Trump?" É possível ter uma ideia de como o magnata pensa em seu governo

Seth Perlman/AP
Imagem: Seth Perlman/AP

Patrick Healy

05/05/2016 06h00

Donald Trump agora é o presumido candidato presidencial republicano, mas também está altamente ciente de que muitos em seu próprio partido (e, francamente, muitos americanos) estão com medo e ansiosos diante da ideia de vê-lo no Salão Oval. Nem mesmo ele sabe ao certo como um país dividido se ajustaria aos primeiros 100 dias de um governo Trump.

Mas o que ele sabe é o que deseja fazer nesses primeiros meses. Em uma série de entrevistas recentes, ele esboçou planos que incluem confrontos com líderes empresariais em torno de empregos e papéis chave para generais militares, executivos e, possivelmente, até familiares na orientação sobre a condução do país.

Pouco depois da eleição de 8 de novembro, o presidente eleito Trump e seu vice-presidente (provavelmente um governador ou membro do Congresso) começariam a entrevistar candidatos para a cadeira aberta na Suprema Corte para escolher rapidamente um indicado nos moldes do ministro Antonin Scalia.

Ele então lançaria uma ofensiva de charme para "formação de um governo baseado em relacionamentos", talvez convidando os líderes republicanos Paul D. Ryan e Mitch McConnell para escapar do frio outono de Washington e trocar ideias em sua propriedade Mar-a-Lago, jogando golfe e comendo lagostas.

No dia da posse, ele iria a um "belo" baile de gala ou dois, mas se concentraria principalmente em revogar as ordens executivas de Obama envolvendo imigração e telefonando para os presidentes-executivos de empresas para ameaçar a adoção de medidas punitivas caso transfiram empregos para fora dos Estados Unidos.

E ao final de seis primeiros 100 dias como 45º líder da nação, o muro com o México estaria projetado, a proibição de imigração de muçulmanos estaria em vigor, a auditoria do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) estaria em curso, assim como os planos para revogação da Lei do Atendimento de Saúde a Preço Acessível.

"Sei que no momento as pessoas não sabem ao certo como seria um presidente Trump", ele disse. "Mas tudo ficará bem. Não estou concorrendo à presidência para tornar as coisas instáveis para o país."

O "New York Times" entrevistou Trump três vezes ao longo dos últimos dois meses, mais recentemente no sábado, assim como vários conselheiros de campanha e confidentes do candidato.

A possibilidade de Trump no Salão Oval (um resultado que antes parecia fantasioso) se tornou menos remota na noite de terça-feira, quando o principal adversário do magnata, o senador Ted Cruz do Texas, abandou a disputa, enquanto o governador de Ohio, John Kasich, fez o mesmo na quarta-feira.

Apesar de sua visão radical de como refazer o país e toda sua conversa ultrajante sobre temas juvenis, como o tamanho de seu órgão genital (sem falar nas pesquisas que o mostram atrás de Hillary Clinton), não é impossível que em 20 de janeiro o político mais subestimado na história americana assuma a presidência.

Apesar de confessar certa surpresa com seu sucesso, Trump cada vez mais soa como um homem que acha que sabe onde estará daqui oito meses, assim como o poder sem igual que terá. Ele já falou sobre transformar o Salão Oval em uma poderosa sala de reuniões, empoderando os líderes militares em detrimento dos especialistas em relações exteriores nos debates sobre segurança nacional, e continuando a falar de modo duro sobre os adversários. Ele poderá postar menos no Twitter, mas todos ainda assim saberiam o que ele pensa.

"Como presidente, trabalharei desde o primeiro dia com meu vice-presidente e equipe para deixar claro que a América mudará de muitas formas para melhor", disse Trump em uma entrevista por telefone no sábado. "Não podemos nos dar ao luxo de perder tempo. Quero um vice-presidente que me ajude a ter rapidamente um grande impacto no Capitólio, e a mensagem será clara para a nação e para as pessoas no exterior de que o governo americano passará a usar seu poder de modo diferente."

Mas ele também reconheceu que poderá enfrentar protestos significativos e incessantes, até mesmo milhares de manifestantes se reunindo durante sua cerimônia de posse no Capitólio próximo.

Trump disse que tentará unir os republicanos, democratas insatisfeitos e independentes ao longo dos próximos seis meses antes das eleições de novembro, e então trabalhar para mostrar aos americanos que seu maior interesse é lutar pelas necessidades deles. Ele argumentou que o fato de não ter precisado depender de doadores ricos para financiar sua campanha acabará provando ter apelo junto a muitos eleitores, ao perceberem que ele não é "comprado".

"Sei que nem todos gostarão de tudo o que eu fizer, mas não estou concorrendo para ser o presidente favorito de todos", disse Trump. "As coisas estão gravemente erradas neste país. As pessoas estão sendo prejudicadas, as empresas estão sendo prejudicadas. Estou concorrendo para promover grandes mudanças rapidamente."

Vários amigos e aliados de Trump disseram que "negociar" é a palavra que ele mais usa para resumir seus primeiros 100 dias de governo. Ele deseja colocar pessoas de vontade forte (executivos e generais são mencionados com mais frequência) no comando das agências de governo e no alto escalão do governo, e então orientá-los a negociarem acordos e planos com os líderes do Congresso e autoridades estaduais, assim como seguradoras e outras empresas do setor privado. Ele diz que conseguirá realizar as coisas que prometeu ou continuará tentando, ciente de que seus apoiadores vão querer sua cabeça caso não consiga.

"Ele não se afastará da agenda que estabeleceu, nem um pouco", disse Roger Stone, um consultor e confidente de longa data. Stone se recusou em descrever em detalhes suas conversas privadas com Trump, exceto dizer: "Tendo dito milhares de vezes 'Eu vou construir um muro', ele terá que construir um muro. Ele disse que revogaria acordos comerciais, então seus eleitores vão exigir que ele revogue acordos comerciais. Ele sabe disso".

A América moderna nunca viu algo como um governo Trump. Líderes empresariais e até mesmo figuras do entretenimento sem experiência em política já foram eleitos governadores, é claro, e insurgentes como Newt Gingrich ascenderam ao poder.

Mas isto é diferente. Um empreendedor imobiliário de Manhattan e astro bombástico de reality show, Trump seria um presidente como nenhum outro. Entretanto, a maioria dos historiadores sugere que o país se ajustaria: ele se veria rapidamente consumido pelas tarefas urgentes e normalizadoras de formar um Gabinete o nomear os ocupantes de cargos importantes, assim como tranquilizar Wall Street e o público de que é capaz de governar os Estados Unidos.

"Trump está prevendo que conseguirá fazer todas essas coisas, mas sua tarefa seria enorme e seu poder seria limitado por precedentes, pela burocracia e pela Constituição", disse Robert Dallek, um historiador. "Até mesmo nas questões de comércio e imigração, onde Trump diz que fará mudanças revolucionárias, o Congresso tem que aprovar essas coisas. Muita gente tem algo a dizer. O presidente não é um rei."

Mas Trump prometeu nas entrevistas que cumpriria suas promessas de campanha, mesmo que provem ser explosivas.

Em seu primeiro dia de governo, ele disse, ele se reuniria com as autoridades de Segurança Interna, generais e outros (ele não mencionou diplomatas) para adoção de medidas para selar a fronteira sul e designar mais agentes de segurança ao longo do perímetro. Ele também telefonaria para os chefes de empresas como Pfizer, Carrier Corp., Ford e Nabisco e os alertaria de que seus produtos enfrentariam sobretaxas de 35% por estarem transferindo empregos para fora do país. Democratas e alguns republicanos alertaram que os mercados financeiros reagiriam mal e que as posições protecionistas de Trump jogariam o país em recessão, mas ele insistiu que o comércio está "matando o país" e "os mercados ficarão bem".

"As negociações bilaterais com o México começariam rapidamente por causa do muro e logo também contaria a presença de presidentes-executivos no Salão Oval", ele disse. "O Salão Oval seria um local incrível para negociar. Ele imporia respeito imediato ao outro lado, uma compreensão imediata das prioridades da nação."

Quanto a qual líder estrangeiro ele chamaria primeiro como presidente, ele disse: "Eles não seriam necessariamente uma prioridade".

"Temos que adotar uma posição mais dura com os países estrangeiros", disse Trump. "No momento somos como policiais do mundo. Logo, eu não os chamaria de imediato para me ver ainda mais emaranhado."

Bem ou mal, ele contaria com a atenção da nação como nenhum outro presidente moderno, e não simplesmente por sua queda por redecorar em dourado e rebatizar aviões e prédios (assim como tudo em que põe suas mãos) com seu nome. (Para registro, ele disse não ter nenhum plano ambicioso de reforma.)

"Os primeiros 100 dias dele seriam eletrizantes", disse Ari Fleischer, um ex-secretário de imprensa do presidente George W. Bush. "A questão seria se ele será capaz de passar da retórica acalorada de campanha para o trabalho sério de elaborar uma presidência baseada em bom senso e na necessária formação de coalizão."

Fleischer disse ser possível que Trump faça o ajuste, dados seus comentários frequentes sobre negociar com democratas e republicanos para chegar a acordos.

"Esse lado dele me intriga", disse Fleischer. "Ele fica repetindo o quão bem se dá com as pessoas. É quase como se Trump estivesse fazendo um jogo astuto. Hoje realizando uma campanha dura. Depois se mostrando um ótimo negociador." Ele acrescentou: "É claro, se ele vencer ele contará com alguma força e impulso semelhante a um mandato. Isso ajudaria".

Trump parece ciente de que seus primeiros meses podem vir a ser consumidos na tentativa de obtenção da confirmação para seu Gabinete e talvez do novo ministro da Suprema Corte, assim como pelas nomeações por toda a burocracia.

Ele deixou claro que não tem interesse em delegar essas tarefas e que deseja assegurar que seus nomeados compartilhem sua filosofia de governo. Uma de suas principais assessoras, sua filha Ivanka, provavelmente permaneceria em sua empresa, mas ele disse que buscaria conselhos dela e de seu marido, o empresário Jared Kushner, notando que familiares já serviram em governos anteriores.

Até mesmo postos que poderiam parecer incidentais em um universo Trump, como o embaixador dos Estados Unidos na ONU, aparentemente passaram por sua cabeça.

"Eu penso no embaixador na ONU, no secretário de Defesa e no secretário do Tesouro, mas penso mais em primeiro vencer", disse Trump. "Caso contrário, estou desperdiçando tempo. Quero pessoas nesses cargos que se importem em vencer. A ONU não está fazendo nada para colocar um fim aos grandes conflitos no mundo, então é preciso um embaixador que vença, ao realmente sacudir as coisas na ONU."