Política contra a fome deve mirar desperdício e especulação, segundo painel de especialistas
Padrões insustentáveis de consumo e injustiças no sistema mundial de comércio de alimentos foram apontados como as grandes causas da fome pelos representantes da sociedade civil convidados a discutir segurança alimentar nos Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável na Rio+20.
Os debatedores afirmaram diversas vezes que o problema da fome no mundo é provocado muito mais pelo desperdício e a especulação no mercado internacional do que pelo aumento da população ou a limitação de terra agricultável. Estima-se que 1 bilhão de pessoas passem fome no mundo hoje.
As três recomendações que serão enviadas aos chefes de Estado são: promover sistemas alimentares que sejam sustentáveis e contribuam para melhoria da saúde; programas governamentais para proteger o ambiente devem integrar políticas de segurança alimentar e nutricional; e desenvolver políticas que estimulem a produção sustentável de alimentos voltados para produtores e consumidores.
"Especuladores agora investem em commodities e isso causa problemas enormes para países em desenvolvimento, que agora importam comida", afirmou Martin Khor, diretor executivo do South Centre. Ele foi um dos panelistas a defender que políticas públicas sejam criadas para fortalecer a agricultura familiar nos países mais pobres.
Josette Sheeran, vice-presidente do Forum Econômico Mundial, citou duas vezes o Brasil como modelo de política de Estado para a erradicação da fome. "O Brasil vem conquistando resultados excelentes na redução da extrema pobreza a um custo de menos de 5% do PIB", disse ela, referindo-se ao Bolsa Família.
O italiano Carlo Petrini , fundador do movimento “Slow Food”, defendeu a criação de sistemas de distribuição de alimentos favoráveis ao pequeno agricultor. “Uma cidade como o Rio de Janeiro tem 16 milhões de habitantes e apenas seis pequenos mercados. Isso é ridículo! Não podemos impedir o acesso dos agricultores ao mercado, ao contrário, temos que fomentar a produção local".
A Rio+20 é a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece até o próximo dia 22 de junho, no Rio. Antes da reunião de cúpula da Conferência, o governo brasileiro convidou representantes da sociedade civil para debater dez temas centrais da Conferência. Destes painéis sairão trinta recomendações para os chefes de Estado.
Veja a seguir algumas das frases dos palestrantes na reunião.
Diálogos da sociedade civil na Rio+20: Segurança Alimentar
Luisa Dias Diogo , ex-primeira ministra de Moçambique | “O mundo não pode tratar a fome como um problema demográfico. Deve haver uma recomendação paralela pelo consumo responsável de alimentos.” |
Hortensia Hidalgo (Chile), da Rede de Mulheres Indígenas da América Latina | "Hoje a alimentação é um mercado, mas nós, povos indígenas, defendemos a produção de alimentos aconteça em harmonia com a mãe terra." |
Martin Khor (Malasia), diretor executivo do South Centre | "Nós temos um sistema de comércio mundial que permite aos países desenvolvidos subsidiar a produção de alimentos e força os países em desenvolvimento a baixar suas tarifas e desestruturar sua agricultura. É injustificável que a África não seja autosuficiente em alimentos." |
Renato S. Maluf (Brasil), ex-presidente do Centro de Segurança Alimentar da UFRJ | "A erradicação da fome seria perfeitamente possível caso houvesse comprometimento político. Não podemos sair dessa conferência sem afirmar o direito humano à alimentação." |
Marco Marzano de Marinis (Itália), director executivo da Organização Mundial dos Agricultores | “O papel dos pequenos agricultores tem que ser valorizado para se promover segurança alimentar. É preciso aumentar o financiamento público e pesquisa tecnológica que favoreçam essas pessoas, principalmente os jovens e as mulheres.” |
Esther Penunia (Filipinas), secretária-geral da Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável | “Se os pequenos agricultores produzem 70% da comida do mundo, porque eles ainda são pobres? Os jovens não querem ser agricultores porque vêem seus pais desprezados pelo mundo, sem condições de lhes dar uma vida digna.” |
Carlo Petrini (Itália), fundador do movimento “Slow Food” | “Uma questão fundamental é reduzir o desperdício: 54% da produção mundial vai para o lixo! Outra é acabar com a especulação de alimentos, que é a forma mais perversa de neocolonialismo. A ONU precisa acabar com isso.” |
Mary Robinson (Irlanda), diretora do Instituto Internacional de Desenvolvimento Ambiental | "Não há dignidade quando se tem fome e quando seus filhos choram de fome. Um sétimo da população do mundo está nessa situação, isso é uma violação terrível dos direitos humanos." |
Josette Sheeran, vice-presidente do Forum Economico Mundial | “Quando as pessoas têm fome, elas têm três opções: se rebelam, migram ou morrem. Precisamos dar a essas pessoas mais oportunidades. A fome é o problema mais grave do nosso tempo.” |
Vandana Shiva (Índia), diretora da Fundação de Pesquisa Científica | “Comida não é commodity e não pode estar sujeita à lei do mercado. Lixo é criado pela produção irresponsável e pelo transporte de longa distância, precisamos reconstruir os sistemas de abastecimento local de alimentos.” |
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