Área alagada do Pantanal cai 39% em 5 anos, diz estudo: 'Sinal alarmante'
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O Pantanal brasileiro está alagando uma área cada vez menor e ficando seco por períodos cada vez maiores no ano. A constatação faz parte do mapeamento anual de cobertura e uso da terra do Pantanal, produzido e divulgado pela rede de pesquisas MapBiomas nesta terça-feira (12) .
Em 2023, o Pantanal teve uma área alagada de 3,3 milhões de hectares, 38% a menos que em 2018, quando ocorreu a última grande cheia do bioma, cobrindo 5,4 milhões de hectares.
Se comparada a 1988, quando as áreas alagadas ocupavam 6,9 milhões de hectares, a redução foi ainda maior, de 61%.
"A redução significativa dessa área alagada é um sinal alarmante para a biodiversidade e a sustentabilidade do bioma", diz Eduardo Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas.
Esse processo compromete a dinâmica das inundações sazonais, essenciais para a manutenção dos habitats de diversas espécies e para o ciclo de nutrientes na região. Com menos água disponível e períodos mais curtos de inundação, muitas espécies, tanto da fauna quanto da flora, enfrentam dificuldades para se adaptar
Eduardo Rosa
Menos tempo
O Pantanal tem, em regra, áreas alagadas por mais de três meses no ano, entre fevereiro e abril. Mas, segundo o estudo, a tendência é de redução desse período.
Já os períodos de seca —entre julho e outubro— estão cada vez mais longos.
Nesse cenário, diz Rosa, animais que dependem das cheias, como peixes, aves e mamíferos aquáticos, sofrem com a escassez de alimentos e de locais para reprodução. As plantas, que são adaptadas a ciclos de alagamento e seca, também podem ser impactadas.
"A perda de áreas alagadas também afeta as comunidades humanas locais, que dependem da pesca, do ecoturismo e da pecuária em campos naturais renovados pelas cheias. A falta de água impacta a produtividade desses setores, prejudicando a economia e a segurança alimentar da região", explica.
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Pastagens avançam
De acordo com o estudo, a mudança no padrão de cheias e secas tem impacto na incidência de queimadas. Somente entre 2019 e 2023, a área queimada total no Pantanal foi de 5,8 milhões de hectares.
Segundo a análise, entre 1985 e 1990, as áreas naturais passaram por um processo de conversão pelo fogo e viraram, majoritariamente, pastagens —um tipo de uso do solo que está cada vez mais presente no bioma.
Em 1985, 57% das áreas do bioma com uso humano era ocupada por pastagens, o que correspondia a 4,8 milhões de hectares. No ano passado, a fatia passou para 77%, ou 11,4 milhões de hectares.
Principais usos de áreas alteradas pelo ser humano no Pantanal:
- Pastagem - 77%
- Agricultura - 12%
- Mosaico de usos - 8%
- Silvicultura e outras áreas - 1%
- Áreas urbanas - 0,5%
- Mineração - 0,1%
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Rosa diz que a expansão da agricultura e das pastagens, principalmente no planalto da Bacia do Alto Paraguai, afeta diretamente o regime hídrico do Pantanal e contribui para as secas extremas vistas recentemente.
Quando áreas de florestas e vegetação savânica são convertidas em pastagens e agricultura, a capacidade de infiltração e retenção de água no solo diminui. Isso torna o solo mais suscetível à compactação e à erosão e diminui a capacidade de absorção das águas das chuvas. Esse processo desequilibra os ciclos hidrológicos
Eduardo Rosa
Composto por patamares, serras, chapadas e depressões, o planalto da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai integra os biomas do Cerrado e da Amazônia e desempenha um papel fundamental na hidrologia da planície pantaneira.
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O ciclo funciona assim: a água das chuvas que chega ao Pantanal cai na região do planalto e enche o rio Paraguai. Cheio, o rio transborda e represa as águas das chuvas que caem no leste do bioma (onde fica a região de planície).
Entre 1985 e 2023, o mapeamento mostra que o uso das terras da bacia hidrográfica pelo ser humano saltou de 22% para 42%, impactando ainda mais o ecossistema.
Para Rosa, considerando a projeção de aumento de eventos extremos, como secas e chuvas intensas, o futuro do Pantanal é preocupante.
Com a redução das áreas alagadas e o impacto das mudanças climáticas, o bioma pode se tornar cada vez mais vulnerável à degradação e à perda de biodiversidade. Para minimizar esses efeitos, é importante implementar políticas de conservação da água, recuperação de áreas degradadas e promoção de práticas sustentáveis que respeitem a dinâmica natural do bioma
Eduardo Rosa
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