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Previsões erradas de El Niño intrigam cientistas em busca de respostas

Poça de água se destaca em meio ao solo seco e rachado no fundo da represa Alamden em San Jose, na California, EUA - Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Poça de água se destaca em meio ao solo seco e rachado no fundo da represa Alamden em San Jose, na California, EUA Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Brian K. Sullivan

Da Bloomberg

05/02/2015 17h43

No que tange a El Niño, 2014 e 2015 poderiam ser os anos que abriram caminho para mil estudos acadêmicos.

Desde março, os prognosticadores vêm dizendo que El Niño estava a caminho. O único problema é que ele não chegou. Chame-o de período de El Niño fantasma, uma sirene de padrões climáticos que não chegaram, avistada tremulando nas cintilantes águas do Oceano Pacífico equatorial.

Toda ocorrência do El Niño gera pesquisas, mas esta - ou a falta dela - com certeza gerará mais. Parte da razão é que apesar de que alguns padrões meteorológicos globais reagiram como se El Niño fosse ocorrer, as principais características do fenômeno nunca se materializaram. Se há algo que os cientistas odeiam, é não entender por que algo aconteceu.

"Um destaque deste ENSO é quão errados estavam os modelos que predisseram um evento importante em 2014", disse Matt Rogers, presidente da Commodity Weather Group LLC em Bethesda, Maryland.

El Niño ocorre quando a superfície da área aquece mais do normal e se dá uma reação correspondente na atmosfera que altera os padrões meteorológicos do mundo inteiro. O processo é chamado El Niño/Southern Oscillation (El Niño/Oscilação no Sul - ENSO).

A região equatorial do Oceano Pacífico ficou algumas vezes mais quente nos últimos doze meses, mas isso não significou uma reação nos céus sobre ela.

Nesta semana, a Secretaria Australiana de Meteorologia disse que atualmente a área está em um estado neutro e já começou a época do ano onde as "ocorrências de ENSO decaem naturalmente".

Previsões

O Centro de Previsão do Clima dos EUA, que atualmente mantém uma probabilidade de 50 a 60 por cento de que El Niño se forme até março, tem agendado divulgar sua última avaliação hoje de manhã. É verdade, os EUA utilizam critérios um pouco diferentes do que os da Austrália, portanto não haverá uma comparação de igual para igual.

A Agência Meteorológica do Japão, que também emite atualizações sobre o Oceano Pacífico, disse que condições similares às de El Niño se deram em todo o oceano mesmo que a atmosfera não tenha reagido. Isto não é tão estranho quanto soa, porque as temperaturas na superfície do mar têm beirado níveis suficientemente quentes para formar um El Niño.

Outros indicadores do fenômeno têm sido ambíguos no melhor dos casos. Em abril, alguns pesquisadores achavam que um El Niño forte estava a caminho e que isso faria com o que mundo experimentasse o ano mais cálido da história.

Bem, El Niño forte não apareceu, e mesmo assim o mundo teve o ano mais quente já registrado, disseram as agências meteorológicas e espaciais dos EUA no mês passado.

Efeito dos padrões

A região nordeste dos EUA pode ter invernos tranquilos nos anos de ocorrência de El Niño, ao passo que no sul do país o inverno pode ser mais chuvoso. Dezembro foi mais quente do que o normal em grande parte do nordeste, mas o mesmo não ocorreu em janeiro. Nesse mês, o Central Park de Nova York registrou uma temperatura média de -1,2 graus Celsius, 2,7 graus abaixo do normal, disse o Serviço Meteorológico Nacional.

El Niño pode causar condições de seca em todo o Brasil. Mas embora tenha havido secura no país, esta foi causada por uma massa de água mais quente no Oceano Atlântico, disse Joel Widenor, meteorologista da Commodity Weather, no mês passado.

Agora, o mundo está começando a época do ano em que fica difícil prever o que El Niño fará. Entre março e maio, os modelos informáticos costumam ter problemas para compreender o que está acontecendo no Oceano Pacífico.

Eis uma previsão em que provavelmente você possa confiar:

"O simples fato de ter havido uma maior atenção para a possibilidade de ocorrência de El Niño aumenta a probabilidade de que haja muitas publicações científicas", disse Michelle L'Heureux, meteorologista do Centro de Previsão do Clima em College Park, Maryland.