Topo

Passeata no Rio contra a divisão dos royalties tem até sósia do papa Bento 16

Hanrrikson de Andrade

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

10/11/2011 17h22

Um sósia do papa Bento 16, vivido pelo autônomo Alberto Travesedo, 72, é um dos personagens de maior sucesso na concentração da passeata contra a divisão dos royalties do petróleo, que acontece nesta quinta-feira (10), no centro do Rio de Janeiro.

Morador do bairro de Piedade, na zona norte fluminense, o idoso conta que já distribuiu mais de 80 autógrafos desde que chegou ao evento, além dos vários convites para tirar fotos.

"Estamos aqui hoje para lutar e vencer essa batalha em defesa do Rio de Janeiro. Eles não podem tirar o que é nosso. Se isso acontecer, o Estado vai quebrar e o momento próspero do Rio será destruído rapidamente", diz ele, que garante não ter vínculo com movimentos políticos.

Apesar da caracterização de cunho religioso, Travesedo conta que o personagem já lhe garantiu oportunidades amorosas. "Não estou morto, às vezes uma foto pode levar a um papo interessante e daí por diante", disse.

Segundo o idoso, a ideia de se vestir de Bento 16 surgiu no carnaval de 2007. "Me disseram que eu parecia com ele e eu resolvi montar uma fantasia. Mas a galera gostou e eu já usei essa fantasia em vários eventos", afirmou.

Clima de festa

Os primeiros ônibus lotados de manifestantes oriundos de outros municípios do Rio começaram a chegar ao centro da capital por volta de 14h. O clima do protesto -organizado pelo governo do Estado através do movimento "Contra a Injustiça: Em defesa do Rio"- é de Carnaval antecipado.

Quatro trios elétricos estão distribuídos pela avenida Rio Branco, e buscam animar os manifestantes com diferentes expressões culturais. Os mais concorridos são os carros de som do grupo de funk Furacão 2000 e o que reúne as escolas de samba Unidos da Tijuca, União da Ilha e Caprichosos de Pilares.

O governo estadual --que espera reunir mais de cem mil pessoas-- montou um grande palco na histórica praça da Cinelândia, próxima ao Theatro Municipal, que será o ponto final da manifestação. Artistas populares como Lulu Santos, MC Naldo, Sorriso Maroto, entre outros, se apresentarão assim que a passeata chegar ao local da festa. A mestre de cerimônias será a atriz Cissa Guimarães, e os shows devem terminar por volta de 20h.

Há também outro segmento da passeata de cunho mais político e é provável que um trio elétrico seja utilizado como palanque. Acompanham o ato vários representantes da política do Rio, tais como a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin, o senador Lindbergh Farias

(PT-RJ) e vários vereadores, deputados, entre outros. O governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) garantiram presença na passeata, porém não devem discursar.

Em defesa do Rio

O movimento "Contra a Injustiça: Em defesa do Rio" argumenta que a o novo projeto de distribuição dos lucros obtidos com a exploração do petróleo -cujo substitutivo apresentado pelo senador paraibano Vital do Rêgo Filho (PMDB) foi aprovada no Senado- é inconstitucional, e significaria para os cofres dos Estados produtores um prejuízo irremediável.

O Rio de Janeiro deixaria de arrecadar cerca de R$ 3,2 bilhões já no ano que vem. Segundo o governo do Estado, o prejuízo financeiro poderá comprometer "o pagamento de aposentados e pensionistas, investimentos em projetos sociais e obras de infraestrutura e saneamento, e manutenção de gastos em áreas essenciais como saúde, educação e segurança pública". O Espírito Santo, outro Estado contrário a distribuição, prevê uma perda de R$ 4 bilhões até 2015.

O substitutivo ao PLS 448/11, que trata da divisão dos royalties e participação especial aos entes da federação, está sendo analisado na Câmara e ainda poderá ser vetado ou não pela presidente Dilma Rousseff. De acordo com o governo do Rio, que tem direito a recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra o projeto, a manifestação é "uma batalha por Justiça".

Na expectativa de repetir passeatas históricas que ocorreram no centro do Rio, a exemplo do ato que reuniu quase 200 mil pessoas na luta pelas Diretas, nos anos 80, o governo do Rio decretou ponto facultativo para os 240 mil servidores públicos ativos a partir das 14h, e anunciou que o transporte será gratuito nas barcas, metrô, trens e ônibus para os cariocas e fluminenses que se deslocarem em direção à Candelária nessa faixa de horário.

Além disso, 200 ônibus foram fretados pelo governo do Estado a fim de garantir a locomoção de dez mil manifestantes de municípios como Campos dos Goytacazes e Macaé (grandes produtores de petróleo).