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Agnelo coloca sigilos à disposição da CPI; requerimento deve ser votado nesta quinta

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

13/06/2012 11h32Atualizada em 13/06/2012 18h03

Numa postura diferente da adotada na terça pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que disse à CPI que não via justificativa para a quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), decidiu, voluntariamente, nesta quarta-feira (13) colocar à disposição da comissão os seus sigilos. "Ouvi uma vez de um homem do povo que quem não deve, não teme", afirmou o governador em depoimento à CPI do Cachoeira nesta quarta-feira (13). Ao anunciar a sua decisão, partidários do petista o aplaudiram efusivamente.

Na tarde desta quarta, Perillo voltou atrás e procurou o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE), e colocou à disposição da CPI do Cachoeira seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Araújo disse que a forma como ele foi questionado pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), o colocava como investigado e, por isso, não foi possível chegar a esse acordo para fazer a quebra de sigilos do governador goiano. Segundo Araújo, “não há nada a esconder, e o PSDB tem confiança na idoneidade do governador Perillo”.

“Meu patrimônio hoje é bem modesto para um médico com mais de 30 anos de trabalho”, disse. A autorização foi concedida após o governador ter mencionado que está sendo acusado de enriquecimento ilícito. Um dos principais questionamentos da comissão está relacionado à casa que Agnelo e sua mulher adquiriram em 2007.

Após Agnelo oferecer a quebra de sigilo, um requerimento assinado por 16 parlamentares foi entregue à secretaria da CPI. O requerimento deve ser votado amanhã.

O requerimento pede quebra de sigilo dos dois governadores -- Agnelo Queiroz e Marconi Perillo -- nos últimos cinco anos. "Quem for contrário à quebra do sigilo do Perillo e do Agnelo tem que votar amanhã. Agnelo não precisava, porque já colocou à disposição da comissão voluntariamente. Mas, se alguém entender que seja [quebrado] por dez anos, não temos nenhum problema com isso", disse o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos signatários do requerimento.

Falando por cerca de uma hora aos parlamentares, Agnelo disse sofrer perseguição política, criticou a imprensa por divulgar informações que seriam falsas e exaltou feitos do seu governo.

 

 

Agnelo respondeu a perguntas do relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), e agora responde a questões levantadas por deputados e senadores --mais de 20 se inscreveram para fazer perguntas ao governador.

 "O grupo aqui investigado, a organização aqui investigada, tramou a minha derrubada, um governo legitimamente eleito pelo povo do Distrito Federal, e não agiu só, mas valeu-se das falsas acusações plantadas no noticiário, vozes com acesso às tribunas do nosso país, valeu-se da boa fé de pessoas ao misturar mentiras e meias-verdades para me desgastar e me tirar do governo do Distrito Federal", afirmou.

O governador negou que o contraventor Carlinhos Cachoeira ou qualquer outra pessoa tivesse influência no seu governo para indicar empresas ou nomear servidores públicos.

O governador do Distrito Federal apresentou à CPMI cópias das declarações de Imposto de Renda dele e de sua esposa. “Está aí para ser comprovado que não tenho nenhuma pendência com a Receita Federal”, disse.

Em alguns momentos, chegou a haver bate-boca entre alguns dos parlamentares presentes, que pediam a palavra com base no artigo 14 do regimento da Casa, que prevê réplica para o parlamentar citado na fala de outro.

Depoimento de Perillo

Ao depor na CPI na terça, Perillo foi indagado pelo relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), se estaria disposto a abrir o seu sigilo bancário e telefônico. Houve bate-boca com parlamentares aliados do governador, que defenderam que o pedido de quebra de sigilo só pode ser feito por meio de requerimento.

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Em resposta, Perillo disse que não achava que havia fundamentação para isso. "Não vejo, sinceramente, motivos suficientes, justificativas plausíveis, fundamentação para que haja quebra de sigilo bancário e telefonico, mas essa decisão não me cabe, mas à comissão e ao Tribunal de Justica", afirmou.

Relações com a Delta

Sobre as denúncias de favorecimento à empresa Delta em contratos de recolhimento de lixo em Brasília e região, Agnelo Queiroz disse que a empresa entrou no DF a partir de uma licitação de 2007, apresentando um preço 30% mais baixo do que as concorrentes. O governador desafiou qualquer pessoa a citar o nome de indicações políticas feitas por seu governo para favorecer a Delta.

Segundo disse Agnelo à CPI, seu governo não era "amigo" da empresa Delta nem do grupo de Cachoeira e que justamente por isso tentaram derrubá-lo do posto. "É por isso que queriam me derrubar, queriam derrubar o governo eleito que estava impedindo que o crime entrasse no DF", afirmou. Informou que a Delta possui apenas um contrato com o governo do DF para as atividades de varrição de rua e recolhimento do lixo, assinado na gestão anterior e que só foi mantido por decisão judicial. Segundo ele, 26 dias depois de assumir o governo do DF, em janeiro de 2011, ele ordenou uma auditoria em todos os contratos, incluindo os prestados pela Delta e identificou problemas na pesagem do lixo, o que aumentava o preço dos serviços prestados. Segundo Agnelo, com a instalação da balança para o lixão houve uma redução de gastos que antes eram de R$ 1,3 milhões por mês para R$ 350 mil por mês.

Relações com Cachoeira

Ainda de acordo com Agnelo, ele se encontrou com o bicheiro Carlinhos Cachoeira apenas uma vez, quando visitou a fábrica da farmacêutica Vitaplan em Anápolis (GO). Sobre as relações do contraventor com o governo do DF, o governador disse que o grupo de Cachoeira tentou entrar no sistema de bilhetagem de ônibus no DF, mas Agnelo teria impedido. "É verdade que a trama existiu", disse à CPI. Segundo o governador petista, antes de sua gestão, havia 2.000 cartões clonados, o que gerava um gasto de R$ 9 milhões por mês, cifra que teria sido reduzida para R$ 3 milhões mensais.

“Eu fiz uma visita à Vitapan, que era de propriedade do senhor Cachoeira, e na oportunidade ele estava presente”, disse Agnelo. “Esse foi o único contato que tive com ele. Não tenho absolutamente nada com o senhor Cachoeira”, completou.

Em resposta a uma pergunta do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), Agnelo negou ter se encontrado com Cachoeira nos Estados Unidos, em visita que teria feito com representantes de laboratórios, e em Anápolis.

Dúvidas que Agnelo precisa responder

A Delta foi beneficiada em contratos de lixo do DF?Agnelo diz que só manteve os contratos por conta de uma liminar da Justiça. Cachoeira usa o direito constitucional de ficar calado. A Delta nega ter cometido qualquer irregularidade. A PF indica que Monteiro é suspeito de receber propina para estender os contratos.
Qual era a relação de Agnelo com Cachoeira?Agnelo afirma que se reuniu com o contraventor, dono de um laboratório, uma vez. Cachoeira usa o direito constitucional de ficar calado. A PF diz que Agnelo era citado como "zero um" nas ligações e que pediu encontro com Cachoeira.
Qual era a influência de Cachoeira no governo do DF?Agnelo diz que o contraventor tentou se infiltrar e não conseguiu.Os secretários de Governo e da Saúde dizem o mesmo. Cachoeira usa o direito constitucional de ficar calado. A PF suspeita que a quadrilha indicou membros do governo, em especial na área de limpeza pública.