Leia a transcrição da entrevista de José Maria Marin à Folha e ao UOL
José Maria Marin, presidente da CBF e ex-governador de São Paulo, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 7.nov.2012 no estúdio do UOL em Brasília.
José Maria Marin – 7/11/2012
Narração de abertura: José Maria Marin tem 80 anos. É o atual presidente da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol.
Marin é formado em direito pela USP. Durante o curso, foi também jogador do São Paulo Futebol Clube de 1950 a 1952.
Mais adiante, na década de 60, iniciou sua carreira política como vereador em São Paulo. Era então filiado ao PRP, do integralista Plínio Salgado.
Apoiador da ditadura militar, José Maria Marin foi deputado estadual pela ARENA, partido de sustentação do regime. Foi também vice-governador de São Paulo na gestão de Paulo Maluf. Assumiu o governo por 10 meses após Maluf deixar a vaga de maio de 1982 a março de 1983.
Com o fim da ditadura, Marin perdeu todas as eleições livres que disputou depois. Para senador pelo PFL, depois tentou ser prefeito de São Paulo pelo PSC. Em 2002, tentou o Senado e também perdeu, PSC. Hoje está no PTB.
Marin foi vice-presidente da CBF até Ricardo Teixeira renunciar em 2012. Assumiu a presidência da entidade e, entre suas funções, está presidir o COL, o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil.
Folha/UOL:Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".
Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL.
E a gravação, em geral, é realizada em Brasília. Mas, hoje, é no estúdio do UOL em São Paulo porque o entrevistado, aqui em São Paulo, é o presidente da CBF, José Maria Marin.
Folha/UOL: Presidente, muito obrigado por comparecer ao estúdio do UOL, aqui em São Paulo. Eu começo perguntando sobre futebol. O sr. tem dado a entender que o técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, vai ser o técnico até a Copa das Confederações, está tudo certo. E depois?
José Maria Marin:Eu procuro acompanhar tudo aquilo que acontece na seleção brasileira de futebol, Fernando. Acompanhar. E a minha a responsabilidade é muito grande, é muito grande. Então, eu procuro dar a maior liberdade à toda comissão técnica.
Quando eu cheguei à presidência da Confederação Brasileira de Futebol, o técnico já estava escolhido, a sua comissão técnica, o diretor de seleções, Andrés Sanchez, e nós demos um voto de confiança tanto ao diretor de seleções como à própria comissão técnica existente.
Nós temos acompanhado os jogos. Eu acho que a seleção, aos poucos, vai adquirindo uma boa forma. Hoje, ela tem uma base. Hoje ela tem um comprometimento total com o desejo, não só da comissão técnica, mas, principalmente, do povo brasileiro de se apresentar muito bem, primeiro, na Copa das Confederações e, posteriormente, na Copa do Mundo.
Folha/UOL: Mas o desempenho na Copa das Confederações, o sr. diria que é muito importante para a permanência do técnico Mano Menezes?
José Maria Marin:Eu acho que não se trata apenas da Copa das Confederações e nem aguardar a Copa das Confederações. Eu acho que toda a partida da seleção brasileira é importante para observação, para análise e para a conclusão.
Folha/UOL: Mas podemos dizer que, hoje, o técnico Mano Menezes está garantido até a Copa do Mundo de 2014?
José Maria Marin:Eu posso garantir a você que ele é técnico atual da seleção brasileira. A comissão técnica desfruta, não só da confiança dele como também da própria direção da CBF. Eu, no cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol, eu não posso, de maneira nenhuma, raciocinar em termos de hipóteses. Você sabe do profundo respeito que eu tenho a você, não é verdade? Da própria imprensa escrita, falada e televisada do Brasil. Mas, em termos da seleção, principalmente, eu acho que a observação do maior responsável pela Confederação Brasileira de Futebol... É muito melhor ele ficar como observador do que ele se manifestar. Por quê? Porque eu não quero, amanhã, de forma nenhuma de que a seleção brasileira e, consequentemente, os jogadores ou a comissão técnica estejam trabalhando sob pressão.
Então, sobre a seleção brasileira, eles têm hoje um excelente diretor de seleções, que é o Andrés Sanchez, um dirigente experimentado, [foi] presidente do Corinthians, um homem que tem uma grande vivência no futebol. E um técnico também de grande competência e com conquistas.
Então, você até me perdoe, mas, sobre seleção brasileira, eu quero me colocar apenas na posição de um observador.
Folha/UOL: Agora, então, como observador que entende de futebol, o sr. já jogou futebol, vou falar de algumas dúvidas que os brasileiros têm. A seleção brasileira, aparentemente, ainda não tem um goleiro titular, não é? Foram vários testados. O sr. acha que, talvez, o Diego Cavalieri, que é do Fluminense, que possivelmente vai ser campeão [do Campeonato Brasileiro], seja esse nome, o sr. tem ideia de quem poderia ser [o goleiro titular da seleção brasileira de futebol]?
José Maria Marin:Olha, ô Fernando... Se eu me manifestar sobre um jogador, é a palavra do presidente Confederação Brasileira de Futebol. Então, se por ventura, amanhã ele for convocado, [vão dizer] olha: “O Marin que insinuou, o Marin que falou”. Eu prefiro, se você me permitir com essa liberdade que você está me dando... É que está ocorrendo uma coisa muito boa, Fernando.
Folha/UOL: O que é?
José Maria Marin:Que jogadores que já jogaram na seleção brasileira estão conversando comigo, se colocando à disposição. Há um termo diferente. Não é se oferecendo, não, não. Se colocando à disposição.
Folha/UOL: Por exemplo?
José Maria Marin:O Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Por coincidência, eu o encontrei num hotel. Eu fui acompanhar um seminário sobre a segurança da Copa do Mundo em Porto Alegre e o Atlético Mineiro [equipe pela qual Ronaldinho joga no Campeonato Brasileiro de 2012]. Na véspera do jogo entre o Atlético Mineiro e o Internacional. E nós nos encontramos por coincidência no hall do hotel.
Folha/UOL: O Ronaldinho...
José Maria Marin: O Ronaldinho Gaúcho. E o próprio presidente [Alexandre] Kalil, presidente do Atlético Mineiro. Na véspera da partida. Porque eu fui acompanhar um seminário sobre segurança da Copa do Mundo e nós ficamos, então, no mesmo hotel.
Folha/UOL: E o Ronaldinho Gaúcho disse o que para o sr.?
José Maria Marin:E o Ronaldinho, demonstrando, acima de tudo, ser uma pessoa... Além de um grande atleta, uma pessoa educadíssima... Veio em minha direção, eu fui em direção dele, nos cumprimentamos... Ele, de maneira bastante alegre, totalmente à vontade: “Ô, presidente, eu estou á disposição”. Eu falei: “Ótimo, ótimo. Eu tenho certeza disso”.
Folha/UOL: Qual é a sua leitura disso?
José Maria Marin:A minha leitura, veja bem, é que ele tem interesse em voltar a defender a seleção brasileira. Isso é muito bom. E, se ele retornar... E quem decide isso é a comissão técnica. Mas eu estou dando um exemplo. Mas, se ele retornar, veja bem, com o mesmo espírito de luta, com a mesma disposição que o Kaká voltou... O Kaká, jogador consagrado como é o Ronaldinho Gaúcho, jogador totalmente realizado, jogador que defendeu a seleção brasileira tantas vezes com brilhantismo... O Kaká voltou com uma disposição enorme, pelo prestígio que desfruta, até de uma maneira humilde. O Oscar continuou com a camisa 10, o Thiago Silva continuou como capitão. E ele [Kaká] se integrou no grupo como mais um que veio ajudar o grupo. Então, isso é muito importante.
Folha/UOL: Essa experiência de jogadores mais experimentados na seleção, o sr. acha que é necessária numa Copa do Mundo?
José Maria Marin:Seria bom. Seria bom. Quem vai julgar se é necessário ou não é o técnico. A meu ver, a meu ver, se nós pudéssemos misturar, veja bem, a experiência daqueles que vestiram por várias vezes a camisa da seleção brasileira, a experiência desses jogadores consagrados, de reconhecida qualidade técnica, com esses jovens que estão surgindo, seria bom para um Oscar, seria bom para um Neymar e para tantos outros craques que estão surgindo que estivessem ao seu lado outros jogadores com maior experiência, da mesma categoria e que já tiveram oportunidade de defender o Brasil em outras Copas do Mundo. Então, eu acho que isso seria ideal. Mas, quem decide isso é o técnico e a comissão técnica.
Folha/UOL: Presidente José Maria Marin, o sr. é favorável ao uso mais intensivo de tecnologia nas partidas de futebol? Por exemplo, que os juízes possam ter acesso ao videoteipe de uma jogada para tomar uma decisão?
José Maria Marin:Existe muita controvérsia. Na própria Fifa existe controvérsia...
Folha/UOL: Mas o sr., o que acha?
José Maria Marin:...nós vimos, há pouco tempo, Platini [Michel Platini, ex-jogador da seleção francesa de futebol e atual presidente da União das Federações Europeias de Futebol] defendendo ponto vista, a Fifa defende outro. Nós tivemos partidas na Copa do Mundo que causaram grande polêmicas, com equipes sendo eliminadas sofrendo injustiças com a não consignação de gol válido. Então, essa controvérsia existe há muitos e muitos anos.
Folha/UOL: Qual é a sua opinião?
José Maria Marin:A minha opinião... Eu acho [que] tudo aquilo que for possível se aperfeiçoar para se evitar injustiça, injustiça e, principalmente, a revolta do torcedor, eu acho que nós devemos procurar esses meios.
Eu dou até um exemplo. Eu estava conversando com você e com o Fausto. Hoje, bate-se escanteio... Talvez, talvez, eu coloco no condicional, até apresente essa sugestão à Fifa: hoje, quando se bate um escanteio, se a bola sair e voltar ao campo, [o lance] já está invalidado porque a bola saiu. No voleibol, a bola sai muitas vezes da quadra e volta ao campo normalmente. Muitas vezes, [o jogador de vôlei] vai devolver a bola para um jogo quase se ferindo.
Então eu estou dando uma hipótese. Então eu acho que essa questão da tecnologia decidir alguns lances que causam polêmica deve ser estudada com muito carinho na Fifa.
Folha/UOL: Muito bem. Calendário do futebol brasileiro. O sr. acha que precisa, como defendem alguns, que o calendário brasileiro seja adaptado ao europeu, que tenha as mesmas datas do calendário europeu?
José Maria Marin:De forma nenhuma, Fernando. Você é um homem inteligente. Não se pode desejar fazer um calendário brasileiro moldado em calendário europeu. No nosso país, a extensão territorial é muito grande, é um continente. Cabe quase 83% da Europa dentro do nosso país. Não é um campeonato... Vamos adaptar o nosso campeonato ao campeonato espanhol, ao campeonato da França, ao campeonato da Itália. A grandeza territorial não permite isto. Quer dizer, nós queremos fazer um calendário baseado na Itália, na França e na Espanha... Nunca, olhe, nunca vai acontecer isso. Porque o futebol, o futebol não se trata apenas de time grande, dos quatro grandes daqui ou dali. O futebol envolve o Brasil inteiro. Envolve o Brasil inteiro. Envolve mercado de trabalho e motivação em cada cidade.
Folha/UOL: Agora, alguma adaptação no atual calendário seria desejável? O sr. acha que tem como aperfeiçoar um pouco o calendário brasileiro? O que poderia ser feito?
José Maria Marin:Adaptação é uma coisa. Agora, usar como modelo o que acontece no campeonato da Europa isso nunca vai acontecer.
Folha/UOL: Mas o que o sr. acha que poderia ser aperfeiçoado no calendário do futebol brasileiro?
José Maria Marin:Eu acredito que nós precisamos estudar uma forma de, no período da seleção brasileira, um máximo... Veja bem, se tratando não de uma Copa do Mundo e não de uma Copa das Confederações, mas nos amistosos... Um clube, um jogador bastaria para cada clube. Não convocar mais que um jogador em cada clube.
Folha/UOL: Mas, daí, o sr. também não limitaria o uso amistosos? Porque os amistosos são usados para formar a seleção. Se limitar o número de convocações por time, a seleção não vai ser formada.
José Maria Marin:Você poderia fazer um revezamento. Porque você forma os amistosos reformando a seleção. O Brasil, nesse período que nós estamos atravessando, o Brasil não participa da eliminatória [para a Copa do Mundo de 2014]. Tem que se preparar de outra maneira. Por quê? Você não sabe, amanhã pode existir até alguma crítica. Seria preferível que o Brasil estivesse disputando a eliminatória porque, aí, se formaria uma seleção e, principalmente, enfrentando os adversários aqui da América Latina. Você sabe muito bem, o jogo de uma seleção brasileira contra uma seleção uruguaia, uma seleção argentina, colombiana, chilena, paraguaia é diferente de um adversário europeu.
Folha/UOL: Por essa proposta sua, veja só, um jogador por time. No caso do Santos, certamente, seria convocado o Neymar. Não adianta, no caso do Santos, que seja um só, não é?
José Maria Marin:O principal, Fernando... O Neymar, eu posso lhe garantir. O Neymar, claro que ele tem uma satisfação, uma honra, em jogar pelo Santos. Mas ele tem uma alegria enorme. Eu garanto. Ele tem uma alegria enorme em defender a seleção brasileira. Tomara, Deus, que todos os jogadores que integrem a seleção brasileira tenham esse espírito alegre, esse espírito, veja bem, de satisfação. O Neymar fica alegre, fica feliz quando põe a seleção brasileira. É esse espírito que nós queremos para todos os jogadores.
Folha/UOL: Mas o sr. não acha que, daí, teria que ser encontrado alguma forma para compensar o time?
José Maria Marin: Sabe que maneira é essa? Já foi encontrada a forma.
Folha/UOL: Qual seria?
José Maria Marin:O Lucas foi vendido por quanto?
Folha/UOL: R$ 90 milhões, R$ 100 milhões...
José Maria Marin:Eu vou lhe dar um exemplo, Fernando. Você é um homem inteligente, um jovem inteligente. Você sabe em que time o Hulk jogava no Brasil?
Folha/UOL: Não sei. [risos]
José Maria Marin:Não estranhe. Você continua sendo um homem inteligente para mim. O Hulk jogou um pouco no Vitória. Porque eu fui procurar saber. Eu fui investigar. O Hulk jogou um pouquinho Vitória. Ninguém sabia do futebol do Hulk. Onde que ele jogou. Onde ele deu os primeiros chutes na bola. E o Hulk foi vendido por uma fortuna para a Rússia.
Bom, por que Hulk, que nunca jogou no futebol brasileiro, foi vendido por essa fortuna? Porque ele pôs a camisa da seleção brasileira. Isso eu lhe garanto.
Folha/UOL: O sr. acha que a formar de ressarcir...
José Maria Marin:O Oscar, o Oscar estava sem jogar. Estava dependendo de decisão de tribunal. Não jogava para o Internacional, não jogava para o São Paulo. Eu entrei no circuito para que o jogador viesse jogar na seleção olímpica. Saiu ganhando o Internacional, saiu ganhando o São Paulo. E o Oscar foi vendido por uma fortuna. Está mostrando na Inglaterra que é craque. Então, a melhor maneira de se pagar os clubes é dando a vitrine. E a grande vitrine é a seleção brasileira.
Folha/UOL: É verdade, agora...
José Maria Marin:Só para encerrar esse assunto: o Paulinho, grande jogador do Campeonato Paulista, mas a grande vitrine para o Paulinho [foi] a seleção brasileira. Eu duvido, eu duvido... Não precisa chegar à Copa do Mundo, porque após a Copa das Confederações... que o Paulinho não seja vendido para o exterior por uma fortuna, uma verdadeira fortuna. Nós pagamos de uma maneira indireta. E muito bem, e muito bem.
Folha/UOL: Quer dizer, o sr. acha, então, que a valorização dos atletas que vão para a seleção compensariam, no seu entender, com folga o prejuízo que os times têm durante o campeonato com a ausência deles?
José Maria Marin:Fernando, eu vou adiantar uma coisa. Surgiu um comentário... Não foi você, não [risos]. Um comentário de que alguns clubes iriam se negar, diante da sua premissa, de que alguns clubes iriam se negar a fornecer jogadores, iam protestar. Direito do clube.
E vou, agora, com seu testemunho, que é muito importante. Se algum clube filiado a Confederação Brasileira de Futebol não desejar que nenhum atleta do seu clube seja convocado para a seleção brasileira, mande uma carta para o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, dizendo textualmente que a vontade do clube, e responsabilidade do seu presidente, que não deseja a convocação de nenhum jogador para a seleção brasileira.
Folha/UOL: Não será punido o clube? Será atendido?
José Maria Marin:Não, não, não. Nenhuma punição. Lá [na CBF], acima de tudo, é uma casa democrática, nós temos que respeitar. Mas à sua responsabilidade.
Você me perdoe se eu não falar o nome do clube: “Marin, fulano de tal merece uma oportunidade. Já é hora de ele merecer uma oportunidade”. Não sou eu quem convoco, não sou eu que escalo. Encontro o dirigente, meu amigo, um grande dirigente, um homem preparado de muita personalidade. “Olha, fulano de tal...”, opa, quase que eu falo o nome do jogador para você [risos]. “Fulano de tal merece uma oportunidade”. Está merecendo oportunidade. Não foi eu que convoquei e nem transmiti nada. Mas esse jogador, hoje, está na seleção. Será que esse presidente vai chegar para mim, ô Fernando, e dizer: “Marin, você me convocou aquele jogador, me desfalcou a equipe”... “Mas você que estava quase virando, não digo meu inimigo, mas ficando chateado comigo, do jogador que veio para a seleção?”
Folha/UOL: Agora, deixe eu, para encerrar esse assunto... A gente tem que correr um pouco com o tempo. O sr. acha possível, no futuro, fazer um calendário de tal forma que os amistosos sejam colocados em algumas janelas dos campeonatos para que, se ocorrer, sejam ocasiões muito raras de jogos do Campeonato Brasileiro ou dos regionais junto com os da seleção? Isso é possível?
José Maria Marin:Talvez. Eu não acredito muito.
Folha/UOL: Mas, pelo menos, reduzir ao máximo?
José Maria Marin:Não, é o objetivo. Esse objetivo existe. Porque você reduzindo, você está selecionando. Mas, Fernando, você não imagina a dificuldade quando se fala em reduzir ou selecionar qualquer coisa em termos de futebol no Brasil.
Nós temos a Série A. Temos a Série B, que está supervalorizada, supervalorizada. Temos a Série C e, agora, temos a Série D.
Eu invoco até o testemunho de alguns dos seus colegas de que alguns até pregavam a extinção da Série D. E nós, então, dentro dessa observação sua, dentro desse critério, que é salutar, que você está mencionando, 40 clubes na Série D. Agora, procurando selecionar, reduziu para 32. Houve um protesto geral. Não só os 40 que começaram participando, mas, agora, mais equipes querem participar. Eu até aproveito o prestígio e o conceito desse programa, que uma das últimas equipes que me procurou pessoalmente, foi o Juventude, do Rio Grande Sul. Um clube com muita tradição, mas com muita tradição. Eu não posso dizer “entra” e “sai”, não. Eu mandei para os departamentos. Eles querem participar da Série D. E um clube com muita tradição no futebol brasileiro. Eu não decido nada pessoalmente. Eu mando para os departamentos competentes.
Folha/UOL: Entendi. Um clube de São Paulo, o São Paulo Futebol Clube, acaba de anunciar que vai requerer, retroativamente até 1997, um ressarcimento pelo fato de ter, segundo o clube, prejuízos por conta de jogadores convocados. O valor monta até a R$ 18 milhões. Como responder a isso, a CBF?
José Maria Marin:Quem vai responder é o nosso departamento jurídico. A CBF responde através de seus departamentos. Eu não sou dono da CBF, eu sou o maior responsável. Responsável eu sou e assumo.
Folha/UOL: É legítimo esse pleito?
José Maria Marin:Eu não posso discutir antecipadamente e nem dar a minha opinião se pode ou se é legítimo. Eu acho que é legítimo qualquer pessoa se dirigir à CBF pleiteando o que deseja. É legítimo. Como também é legítimo que a CBF estude dentro do seu departamento competente. Nesse aspecto, deve ser o nosso departamento jurídico, o Dr. Carlos Eugênio, que estava há muito mais tempo na CBF do que o José Maria Marin, e também o departamento financeiro. Eu não entro nem nas preliminares e nem no mérito
Folha/UOL: Vamos falar um pouco da CBF. O sr., presidente da Confederação Brasileira de Futebol é também o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo. Há quem entenda haver um conflito de interesse entre as duas funções. O que o sr. acha?
José Maria Marin:Eu acho que não existe nenhum conflito. Primeiramente, gostaria de dizer que não fui eu que criei essa situação. Absolutamente. Eu cheguei e já existia essa situação. O ex-presidente Ricardo Teixeira era presidente da CBF e também presidente do COL. É uma sociedade devidamente registrada na junta comercial. Não fui eu que criei seus estatutos. É registrado na junta comercial. Então, eu já cheguei e já existia essa situação. Então, eu não posso me alongar porque eu vou procurar apenas, isso sim, cumprir a minha missão dando continuidade, tanto como presidente da CBF, quanto como presidente do COL.
Folha/UOL: O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, numa entrevista até aqui, neste programa [o Poder e Política], falou claramente que ele considera desejável que dirigentes de entidades que comandam esportes no Brasil que tenham nos seus estatutos uma regra que limite o número de mandatos dos seus dirigentes. Qual é a sua opinião sobre isso?
José Maria Marin:Duas coisas. Primeiro, que não se aplica a mim. Eu vou cumprir o mandato. Então, não se aplica de jeito nenhum a mim. Existe a questão do estatuto e existe, também, a questão de foro íntimo de cada dirigente. Eu acho que essas observações não atingem e não irão atingir José Maria Marin.
Folha/UOL: Mas o sr. acha que seria salutar para a CBF, que é uma entidade importante no dia-a-dia dos brasileiros que amam o futebol, que essa entidade adotasse tal regra de limitação do número de mandatos dos seus dirigentes?
José Maria Marin:Fernando, quem decide isso são os presidentes das federações e os presidentes de clubes.
Folha/UOL: Mas a sua posição pessoal?
José Maria Marin:A minha posição vai ficar demonstrada ao final do meu mandato. A minha posição vocês vão conhecer. O meu mandato termina em 2015. Vocês vão conhecer a minha posição. Vocês vão ver claramente a posição do José Maria Marin.
Folha/UOL: O sr. não pretende [exercer] mais um mandato?
José Maria Marin:Eu vou cumprir a minha missão. Vou fazer o possível, tudo que estiver ao meu alcance para apresentar uma CBF, acima de tudo, moderna. Uma CBF com a sua sede própria. Já compramos a sede própria, já estamos instalando a sede própria, onde a principal é fazer um museu de acordo com as tradições e com as conquistas do futebol brasileiro. O acervo do futebol brasileiro é o maior do mundo e necessita de um museu o mais depressa possível. Então, eu espero aumentar, e muito, a receita da CBF, ampliando os patrocinadores e, acima de tudo, que é muito importante, deixando a CBF em perfeita condições para quem me suceder.
Folha/UOL: Como o sr. vai conduzir a sua sucessão?
José Maria Marin:Quem escolhe são os clubes, quem escolhe são os clubes.
Folha/UOL: O sr. não é candidato à mais um mandato? Então, posso entender que o sr. é favorável à renovação?
José Maria Marin:Eu vou cumprir a minha missão. Terminar o meu mandato. Eu estou preocupado em fazer uma boa administração. Eu não estou preocupado em sucessão, o que vai... Tenho duas preocupações pela frente. Primeiro, a Copa das Confederações. E uma grande missão que é a Copa do Mundo. A nossa responsabilidade é muito grande. Então, a minha preocupação principal...
E digo mais, falo com você com toda sinceridade, ô, Fernando. Tendo como objetivo a Copa do Mundo, eu não tenho compromisso com ninguém. O meu objetivo é Copa do Mundo, um compromisso com o torcedor brasileiro. Com o torcedor brasileiro eu tenho um compromisso. E não vou ficar comprometido com quem quer que esteja, a não ser o que é muito importante: o torcedor. E o torcedor, o que quer? Além da construção das várias arenas que estão sendo executadas no Brasil, o torcedor quer, acima de tudo, a construção de uma grande seleção. Isto é o sonho do torcedor. Isto é o desejo do torcedor. No que depender de nós para não repetir... Eu era garoto, tinha 17 anos, era atleta do São Paulo Futebol Clube. [Não repetir] o que aconteceu em 1950, nós vamos dar todo o nosso esforço, todo o nosso sacrifício, todo o nosso trabalho e, o que é muito importante, toda a nossa coragem para tomar atitude. O que for preciso tomar, em termos de decisão, eu assumo essa responsabilidade. Eu vou tomar decisões visando, acima de tudo, o melhor para a seleção brasileira e aquilo que é desejo do torcedor brasileiro.
Folha/UOL: Presidente, ainda sobre o cargo de presidente da CBF, uma vez, aqui também neste programa [o Poder e Política], o Ronaldo, ex-jogador de futebol que está no COL agora, falou, por hipótese, que, no futuro, gostaria de ser um dirigente do futebol brasileiro sugerindo que, no futuro, poderia, enfim, quem sabe, ser presidente da CBF. O sr. acha que o Ronaldo, ex-jogador, poderia dar um presidente da CBF?
José Maria Marin:O Ronaldo é um vencedor. Um vencedor como atleta. Vencedor como empresário. Um homem respeitado no mundo inteiro. É muito bom, eu fico muito feliz e muito alegre que um atleta... Nem ex-jogador, um atleta com o prestígio, com a fama, como o Ronaldo, pelo qual eu tenho o maior e mais profundo respeito, nosso colega no COL, está ajudando muito futebol brasileiro... [Eu fico muito feliz que ele] tenha externado o seu pensamento. Isso é muito bom.
Folha/UOL: O sr. vê com simpatia o nome dele?
José Maria Marin:Com muita simpatia. Mas com muita simpatia. O Ronaldo deu uma grande contribuição ao futebol brasileiro.
Folha/UOL: Ronaldo presidente da CBF, então, é uma ideia boa no futuro?
José Maria Marin:Como dirigente, eu não quero direcionar, veja bem, o objetivo do Ronaldo para esta ou para aquela direção. O Ronaldo dirigente, em qualquer sentido, me agrada.
Folha/UOL: Inclusive na CBF?
José Maria Marin:Dirigente ele pode ser de clube, de federação, de CBF. Faz parte do jogo democrático.
Folha/UOL: É uma hipótese?
José Maria Marin:Eu respeito, eu respeito e digo isso com a maior convicção. Esse desejo dele ou essa manifestação dele, totalmente natural. E ele está à vontade. Por quê? Ele deu uma grande e enorme contribuição ao futebol brasileiro. Em todos os sentidos. E, inclusive, um exemplo para a nossa juventude.
Folha/UOL: Gestão da CBF: quando sr. assumiu, foi informado que seriam revistos, analisados alguns contratos da gestão anterior. Em que pé estão essas análises? O que foi feito?
José Maria Marin: Estamos estudando. Dentro do possível, temos chamado alguns patrocinadores, conversando com eles, dialogando com esses patrocinadores. E temos, acima de tudo, encontrado boa vontade de uma parte considerável desses patrocinadores. E, espero, espero, até terminar o nosso mandato...
Folha/UOL: O sr. pode dar algum exemplo, ou não?
José Maria Marin:Não entendi.
Folha/UOL: Algum exemplo de contrato revisto?
José Maria Marin:Veja bem, na maioria ou na quase a totalidade dos contratos existe a cláusula de confidencialidade. Existem mesmo. E eu tenho que respeitar. Mas, com o andar dos entendimentos, naturalmente... Por exemplo, então, você já deve ter tomado conhecimento através da imprensa, que a TAM deixará de nos patrocinar.
Folha/UOL: Isso. Já ia mencionar. Ela vai deixar de patrocinar?
José Maria Marin:Isso. Nós já estamos em entendimento com outra empresa ou outras empresas. Estamos com entendimentos...
Folha/UOL: Agora, só para entender, a TAM, de fato, está saindo, vai deixar de ser patrocinadora e uma outra companhia aérea, talvez, entre no lugar?
José Maria Marin:Nós estamos procurando que uma outra companhia entre no lugar. E, como achamos perfeitamente natural, a TAM, depois de vários anos patrocinando a CBF, por qualquer circunstância, por qualquer motivo não deseja mais, vamos procurar outra.
Folha/UOL: Uma reportagem da Folha, até a propósito da TAM, mostrou recentemente que uma parte dos recursos do patrocínio iam para um amigo do seu antecessor, Ricardo Teixeira. Esse episódio ajudou, inclusive, até nessa decisão da TAM de querer interromper o processo?
José Maria Marin:Não. Que eu saiba, não. Não contribuiu, não. Eu acho que a TAM, pelo que eu soube através da imprensa, mudou a sua direção. Se eu não me engano, agora é uma empresa chilena que entrou. Então, isso, naturalmente, deve ter contribuído. Mas, ao meu ver e junto a CBF, não teve nenhuma relação, de acordo com as notícias que chegaram no nosso conhecimento, com a questão de patrocínio ou o que foi divulgado. Foi uma questão interna, muito mais, acredito, da TAM.
Folha/UOL: Entendi. A companhia que pode substituir a TAM como patrocinadora pode ser uma companhia aérea também do exterior? Porque, até aqui no Brasil, nem há tantas disponíveis?
José Maria Marin:Nós estamos conversando...
Folha/UOL: Inclusive com companhias do exterior?
José Maria Marin:Nós abrimos o leque de conversação.
Folha/UOL: Estamos com o tempo mais ou menos estourado, eu ia pedir para a gente fazer um bate-bola mais rápido aqui. Transparência na Confederação Brasileira de Futebol: em 2011, anterior, portanto, à sua chegada, houve um bônus que foi repartido entre os integrantes funcionários do COL. Bônus de R$ 2,39 milhões. Esse tipo de premiação, de partilha e de bônus ainda continua sendo feita dentro da CBF? E de que forma o sr. acha que, talvez, transparência em relação a isso ajudaria, até, a melhorar a imagem da Confederação?
José Maria Marin:Isso foi no COL. E isso, veja bem, faz parte do contrato assinado com a Fifa. Então, não envolve CBF. É uma questão interna da Fifa.
Folha/UOL: Entendi. Ainda, então, sobre a CBF: o Ministério Público, recentemente, disse que é importante que a cidade-sede São Paulo divulgue o contrato que fez para sediar a Copa do Mundo em todos os seus detalhes. O contrato tinha uma cláusula de confidencialidade. Só que agora a autoridade está dizendo que tem que ser divulgado. Por que ele não foi divulgado, qual é a sua opinião a respeito?
José Maria Marin:Primeiro, eu também não me encontrava quando foi assinado esse contrato ou esse convênio. Isso cabe exclusivamente ao Ministério Público e, naturalmente, junto à Prefeitura de São Paulo. A CBF, absolutamente, não tem nada a ver com isso.
Folha/UOL: O sr. acha bom que sejam divulgados esses contratos?
José Maria Marin:Eu acho... O principal é que as contas serão apresentados junto ao Tribunal de Contas, ou do município ou do Estado. E serão... O órgão adequado para julgar essas contas.
Folha/UOL: Entendi. Ricardo Teixeira, o seu antecessor, até há alguns meses recentes, ele recebia por conta de uma consultoria que prestava à CBF. Ele continua sendo um funcionário ou consultor renumerado pela CBF até hoje?
José Maria Marin:Continua por uma razão muito simples. Nós temos muitos contratos. Muitos contratos e que continuam sendo examinados. Tem que haver uma consulta quase que constante para nós sabermos, principalmente, algumas minúcias que precisam ser esclarecidas.
Folha/UOL: E ele dá consultoria sobre isso, é isso?
José Maria Marin: Conversamos, quando existe... Temos muitos contratos em exame. Alguns contratos, inclusive, que deverão ser renovados. Então, nós trocamos ideias e essa consultoria tem sido muito válida até hoje, até hoje.
Folha/UOL: Eu tenho um número aqui, presidente, que foi divulgado à época. Até junho, o valor do contrato dele era de aproximadamente R$ 100 mil reais. É mais ou menos isso que foi mantido?
José Maria Marin: É mais ou menos isso.
Folha/UOL: E vai ser mantido, o sr. imagina, até quando esse contrato entre CBF e Ricardo Teixeira?
José Maria Marin:Eu espero, este ano [2012], devemos acabar de fazer análise de todos os contratos. São vários contratos. Eu espero que neste ano essa análise estará terminada. Espero terminar neste ano [2012].
Folha/UOL: Aí, então, seria encerrada a relação de consultoria entre Ricardo Teixeira e CBF?
José Maria Marin:Eu acredito que, encerrando o período de exame dos contratos assinados anteriormente, eu acredito que no próximo ano [2013] não haverá necessidade dessa consultoria, que até hoje tem sido muito válida e necessária.
Folha/UOL: Eu não vou fazer nenhum juízo de valor aqui, mas é notório que durante a gestão anterior, sobretudo no final, houve um abalo para a imagem da CBF, não é? Abalada a imagem da CBF, daí houve a troca, o sr. assumiu, saiu Ricardo Teixeira. Tem alguma atitude que o sr. acha que, na sua gestão, poderia tomar para melhorar a imagem da CBF em relação ao que foi na gestão anterior? E, aí, eu até pergunto: a gente sempre tem dúvidas sobre os contratos de patrocínio embora eles tenham cláusula de confidencialidade. Não há um nível maior de transparência que poderia ser aplicado, ainda que exista confidencialidade? Salários de funcionários, os custos da entidade. Isso não é muito conhecido.
José Maria Marin:Eu queria esclarecer que nós temos auditoria na CBF e as contas da CBF, elas são julgadas por uma assembleia geral. As contas são colocadas, apresentadas para todas os presidentes de federações, às 27 federações, e aos clubes, aos presidentes de clubes. Então, não é uma coisa fechada. Não é uma coisa sigilosa. Está lá. Qualquer presidente de federação, qualquer presidente de clube pode pedir essas contas e serão apresentadas. E funciona uma auditoria junto à CBF.
Folha/UOL: Não seria melhor já colocar na internet, à disposição de qualquer pessoa?
José Maria Marin:Mas a maioria ou a totalidade dos patrocinadores... É uma condição. Uma primeira condição é que haja confidencialidade. Se nós fizermos isso com um patrocinador, nós vamos afugentar a maioria. E a CBF, graças à Deus, não é com José Maria Marin, eu já encontrei a CBF em boas condições no campo financeiro em razão desse comportamento, desse procedimento do ex-presidente Ricardo Teixeira. Ou seja, a confidencialidade desses patrocinadores que já estavam lá.
Folha/UOL: E sobre a administração interna da CBF, eu digo, os custos operacionais, salários de todos os seus integrantes, bônus, prêmios, funções? Esse tipo de informação, será que em relação a esse tema, poderia haver mais transparência?
José Maria Marin:Eu acho... Já existe isso. Já existe essa transparência. Na CBF, não é o presidente que estabelece o salário dos funcionários. Quando eu cheguei à CBF, todos os diretores apresentaram o seu pedido de demissão para que eu ficasse totalmente à vontade. A maioria esmagadora permaneceu nos seus cargos, porque eu não quis [demiti-los], de maneira nenhuma. Estou chegando à CBF, vou substituir todo mundo e vou colocar quem? Primeiro quem conhece o trabalho lá e quem já está familiarizado. Então, funcionários de absoluta confiança do Ricardo mas que também eu conhecia a competência e capacidade no campo jurídico ou no campo financeiro. Agora, seria temerário eu chegar e querer fazer uma transformação total. Aos poucos, paulatinamente, nós estamos fazendo uma reposição de algumas peças que nós julgamos serem necessárias.
Folha/UOL: Copa do Mundo: não é segredo que nas Copas do Mundo, quem já assistiu uma sabe, há jogos que são pouco atraentes para o público local. Vamos dizer, no Brasil, um jogo entre Irã e Costa Rica. É difícil atrair público para encher esses estádios tão grandes. O que a CBF junto com a Fifa poderão fazer, essas duas entidades, para garantir que os estádios estejam cheios, inclusive nesses jogos menos, vamos dizer, atraentes?
José Maria Marin:É difícil você, antecipadamente, Fernando, dizer que “vamos usar essa fórmula que vai dar certo”.
Folha/UOL: Quais são as possibilidades?
José Maria Marin:Isso acontece em Copa do Mundo. Eu acredito, inclusive, que muitos virão ao Brasil pela Copa do Mundo. Mas, também, muitos virão para fazer turismo, conhecer o nosso país. Então, esse aspecto que num jogo de seleções menos famosas, com menos craques, com menos, vamos dizer, menos artistas no palco, infelizmente isso vai ocorrer.
Folha/UOL: Não poderia ser distribuído ingresso mais barato, nesse caso?
José Maria Marin:Mas isso, Fernando, nós podemos, veja bem, observar de longe porque existe a empresa responsável pela venda, pela distribuição dos “tickets”, que chamam. É que cabe a ela decidir. Agora, é muito difícil para nós que estamos organizando chegar para a empresa que organiza: “ó, você deve fazer isso”. É muito difícil. Então, a nossa posição é muito mais de expectativa e, se procurados para darmos uma opinião, nós vamos dar a opinião. E a sua [opinião], eu concordo com você.
Folha/UOL: Presidente, é verdade que a relação da CBF não é a melhor possível com o Palácio do Planalto?
José Maria Marin:Não... Olha, nós temos o maior respeito e admiração pela atuação da presidente [da República, Dilma Rousseff]. Ela, veja bem, merece o nosso parabéns pelo que está fazendo em termos da infraestrutura. Nós estamos totalmente integrados. Cada um trabalha de um lado. O governo está trabalhando de um lado, a CBF está trabalhando do outro lado. O COL também, lado a lado. O COL está lado a lado. O ministro Aldo Rebelo [do Esporte] tem comparecido em vários eventos conosco. Como o Brasil é muito grande e são várias arenas a serem visitadas, eu não digo nem vistoriadas, visitadas, de vez em quando vamos juntos, de vez em quando ele vai para um lado, o Marin vai para outro. O Bebeto vai para um lado, o Ronaldo vai para outro. Então, nós nos dividimos para atender a demanda de visitas as diversas arenas existentes no Brasil. Então, existe uma integração total. O governo está muito bem representado, no COL inclusive. Muito bem representado no COL. Temos dialogado quase que diariamente. Eu quero, inclusive, fazer justiça ao ministro Aldo Rebelo. Ele tem sido um grande companheiro, um grande parceiro. E nós temos os mesmo objetivos. E o que é muito importante, uma integração completa.
Folha/UOL: Mas o sr. sabe que em outras épocas o presidente da CBF tinha encontros mais regulares até com o presidente da República. Essa relação mais próxima com a Presidência da República hoje não existe. Certo ou errado?
José Maria Marin:Mas isso é fácil de explicar. Olha aqui: quando se fala de relação mais próxima, você deve se referir ao ex-presidente Lula. O Lula, eu respeitosamente chamo de um presidente boleiro. O Lula é do futebol. O Lula adora o futebol. O Lula frequenta estádio de futebol. Nós já marcamos: o primeiro jogo do Campeonato Paulista [de 2013] é Santos, que foi o campeão, contra o São Bernardo, que subiu. Então, nós já marcamos. Vamos assistir juntos um jogo em São Bernardo entre Santos e São Bernardo. Por quê? Vamos almoçar e vamos para o jogo. Por quê? O presidente, ele não é torcedor de véspera. E outra coisa que eu quero dar meu testemunho: o presidente Lula entende de futebol, não é apenas um corintiano fanático, não. Ele gosta, entende de futebol e frequenta estádio. Então, há uma diferença muito grande, há uma diferença muito grande. A presidenta e o presidente, até nesse aspecto.
Então, eu respeito profundamente o comportamento da presidente [Dilma Rousseff] como respeito, veja bem, e fico feliz do Lula ser um boleiro que nem o Marin. Porque ele é um boleiro. Na Olimpíada, ele me ligava quase todo dia acompanhando a seleção olímpica. Então, veja bem, é questão de gosto. Por isso, eu disse que o ex-presidente sempre estava ligado. Porque ele é boleiro, com o devido respeito. O Lula, naturalmente, vai ver esse programa.
Folha/UOL: E a Dilma não é boleira?
José Maria Marin:Não... Mas veja, ela, naturalmente, deve gostar de outro esporte e a gente respeita. Mas há essa diferença: que o Lula é boleiro, corintiano fanático.
Folha/UOL: O sr. foi político muitos anos. Enfim, ocupou cargos públicos. É filiado ao PTB, mas agora está um pouco afastado da vida política partidária. Mas, ainda assim, que avaliação o sr. faz do governo Dilma Rousseff?
José Maria Marin: Eu acho que é um governo de continuidade. O governo do presidente Lula foi um governo bom, muito bom. O desenvolvimento do Brasil alcançou todas as camadas sociais e ela está dando continuidade. Então, merece até os nossos cumprimentos. Quer dizer, deu continuidade a uma coisa boa e o país está tranquilo. O mercado de trabalho está aí. E, nesse aspecto, vamos aproveitar para dizer, que a Copa do Mundo no Brasil deu um impulso muito grande pela quantidade enorme de empregos que gerou em todo o Brasil. E, principalmente, o grande legado que vai deixar, o grande legado que vai deixar.
Folha/UOL: Não posso deixar de perguntar: em quem o sr. votou para a presidente em 2010?
José Maria Marin:Em quem eu votei? Mas olha, eu estou com os meus 80 anos, a minha memória nem anda boa, viu? [risos]
Folha/UOL: Não posso deixar de perguntar uma outra pergunta delicada que tem saído na mídia de vez em quando. Quando o sr. foi deputado estadual, anos 70, fez discursos na Assembleia Legislativa e algumas pessoas entendem que alguns discursos que o sr. fez, muito ácidos, duros, acabaram levando à prisão e depois à morte do jornalista Vladimir Herzog, que era da TV Cultura. O que o sr. tem a dizer sobre esse episodio?
José Maria Marin:Pura intriga.
Folha/UOL: Por quê?
José Maria Marin:Pura intriga. Porque, muito ao contrário. Primeiro, eu fui o governador [do Estado de São Paulo] que extinguiu o Dops [Departamento de Ordem Política e Social]. Fui procurado por várias pessoas. O delegado do Dops, quando fui governador, era o delegado [Romeu] Tuma. Quantas pessoas foram procurar, que acharam que estavam sendo presas injustamente, mandava soltar. Nunca, quando fui governador, nunca tive um único problema com o presidente Lula... Nunca... que era [sindicalista] à época das greves. Nunca tive. Pelo contrário. Então é uma intriga, uma mentira. Nunca tive nada, absolutamente nada, a ver com isso. Nada. Pura intriga. Intriga, intriga.
Não acham nada para me atingir no campo do futebol e vão procurar inventar coisas que nunca ocorreram, nunca ocorreram.
Folha/UOL: Mas, de fato, os seus discursos... Tem um discurso do sr., nos anos 70, muito duro contra a TV Cultura, a forma como a TV Cultura era conduzida, justamente na época em Vladimir Herzog foi preso. E é, realmente, uma coincidência muito grande. O seu discurso na Assembleia e, depois, a prisão dele.
José Maria Marin:Eu torno a insistir: é tudo intriga. Não tive nada a ver com isso. Eu fui um deputado atuante. Muito atuante. Pura intriga. Não encontraram nada para falar do Marin dirigente esportivo e passam a lançar uma intriga que não tem a menor procedência. E quem me conhece, quando fui governador... E, inclusive, fui eu, no meu governo, fui eu extingui o Dops.
Folha/UOL: O sr. acha que talvez, por conta, enfim, desse episódio, isso dificulte um pouco a aproximação entre CBF e Presidência da República com a presidente Dilma Rousseff?
José Maria Marin:De jeito nenhum. De jeito nenhum, porque isso é pura intriga. Pura intriga. Pura intriga.
Folha/UOL: Mas o sr. não era crítico à TV Cultura na época?
José Maria Marin:Eu, eu, eu era deputado na ocasião. Hoje, hoje, eu sou José Maria Marin, presidente da CBF. Eu sou o presidente da CBF, José Maria Marin. Querer fazer uma análise, um julgamento do atual presidente da CBF invocando coisas do passado do qual, do qual eu não posso ser acusado de nada, absolutamente nada, nada, é uma intriga muito grande de quem, de quem não achou nenhum motivo, nenhum motivo para me criticar como dirigente esportivo.
Depois que eu deixei o governo, fui por seis anos presidente da Federação Paulista de Futebol. Seis anos. Pela primeira vez, um clube do interior foi campeão do campeonato. Eu saí, eu saí com o melhor atestado de antecedentes como presidente da federação de futebol. Nunca, nunca, nunca recebi qualquer crítica sobre meu comportamento como presidente, como homem e como dirigente.
Agora, agora, procuram através da intriga, da intriga, querer, querer atrapalhar a nossa administração como presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Mas não vão conseguir. Porque, torno a insistir: uma intriga, uma intriga muito grande. Por quê? Porque não encontraram nada, mas nada, nada, nada que pudesse atingir a conduta do José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
Folha/UOL: Sobre esse episódio, só para concluir: na época específica, o sr. tinha crítica sobre como a TV Cultura era comandada?
José Maria Marin:Eu, eu poderia, eu poderia até eventualmente fazer alguma crítica a um organismo, a uma empresa, a uma organização. Poderia, eventualmente, fazer. Mas não procurar atingir uma pessoa. De maneira nenhuma.
Procure na minha vida toda, como dirigente esportivo, como governador, se eu alguma vez procurei atingir individualmente alguma pessoa ou a honra de alguém individualmente. Se eu persegui alguém individualmente. Se eu, se eu, se eu maculei alguém individualmente. Eu muito ao contrário, muito ao contrário. Eu sempre fui um homem conhecido pela conciliação, pela concórdia e pela tolerância. E tenho várias pessoas, várias pessoas que, amanhã, tenho certeza absoluta, ao tomar conhecimento dessa infâmia, dessa injustiça comigo... Porque não conseguiram nada, nada, absolutamente nada!
Primeiro, começaram dizendo que eu, eu, José Maria Marin, tinha me apoderado uma medalha, de uma medalha. Para me desestabilizar antes de eu tomar posse, antes de eu tomar posse [como presidente da CBF]. Uma medalha... Quando fui apontado como sucesso do Ricardo. E, agora, agora... Mas eu provei, à frente da Confederação Brasileira de Futebol, eu provei quem era José Maria Marin. Não conseguiram. Agora, vem essa infâmia. Grande infâmia. Grande infâmia. Grande intriga. E todos que me conhecem, todos que tiveram a oportunidade de me conhecer pessoalmente, sabem que isso não passa de uma intriga, de uma infâmia. Por quê? Porque não encontraram nada, absolutamente nada para me criticar como dirigente de futebol. Então, infelizmente, temos que enfrentar esse dissabor.
Folha/UOL: Presidente José Maria Marin, da Confederação Brasileira de Futebol, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao portal UOL.
José Maria Marin:Eu que agradeço a oportunidade. Eu... Ao finalizar... Deus me deu muita confiança, mas muita confiança, em toda a minha vida. Eu sou filho de um imigrante espanhol. Meu pai lutava boxe. Ganhava a vida dando murro. Mas, graças a uma família pobre, de origem pobre, e graças ao futebol, eu me formei em Direito pela USP.
Fui vereador, reeleito, presidente da Câmara Municipal [de São Paulo]. A Câmara que está hoje lá, atual Câmara, fui eu inaugurei a Câmara. Quase a metade do orçamento da Câmara foi devolvida à prefeitura.
[Fui] deputado [estadual] oito anos, vice-governador, governador. Vice-presidente da CBF. Seis anos presidente da Federação Paulista de Futebol. Estou casado há 55 anos, namorei três anos e fiquei noivo dois anos.
Deus me deu tudo que um homem poderia esperar da vida. Me deu muito mais do que eu esperava e, talvez, muito mais do que eu merecia. E eu tenho uma confiança muito grande, primeiro, em mim. Toda essa infâmia, essa infâmia, essa intriga, que parte de um mentiroso... [Ele] contou, certa vez, que viajou comigo para Cochabamba. Eu nunca estive em Cochabamba. Eu nunca estive na Bolívia. Que eu tive encontro com personagem político. Eu nunca tive esse encontro. Nunca tive esse encontro. Então, a mentira, a infâmia não irá prevalecer de forma nenhuma. Não é sobre o José Maria Marin, não. Sobre a minha vida inteira. A minha vida inteira de portas abertas. De portas abertas. Talvez, alguém não se conforme que um ex-jogador de futebol, filho de um imigrante, chegue, primeiro, a governador do seu Estado e, depois, um ex-atleta chegue a presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Eu até entendo, então devo perdoar essa raiva, essa raiva, esse ódio. Não vou dizer inveja, não. Mas esse ódio, essa raiva. Como eu aprendi também: os cães ladram, mas a caravana sempre passa.
Folha/UOL: Muito obrigado.
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