Em meio à politização de um boato, Campos critica dependência ao Bolsa Família
Enquanto governo federal, CEF e PF tentam explicar o que teria provocado a corrida aos saques do Bolsa Família nos últimos dias 18 e 19 de maio, o governador de Pernambuco e provável candidato à presidência, Eduardo Campos (PSB), criticou a dependência "sucessória" das famílias pobres ao benefício mensal.
A crítica foi feita durante encontro com vereadores do PSB de Pernambuco, ocorrido nessa segunda-feira (27), em um hotel do Recife. Para Campos, o benefício está passando de "mãe para filha", sem melhorias na vida das famílias.
"Estamos vendo hoje as filhas do Bolsa Família serem mães do Bolsa Família. A gente vai assistir a elas serem avós do Bolsa Família? Como fazemos para que se rompa, se não por uma política de educação transformadora?", disse.
O governador disse que o país deve investir mais em educação para tirar as famílias da dependência. "O país tem e deve segurar as políticas sociais, porque nação que quer ter justiça e equilíbrio, não pode deixar de proteger os vulneráveis. Mas para romper com isso, temos que fazer Educação”, afirmou Campos.
As declarações de Eduardo Campos vêm em meio à investigação da Polícia Federal sobre a origem dos boatos que levaram mais de 900 mil pessoas a sacarem benefício, em 13 Estados, no fim de semana retrasado. Também nessa segunda-feira, Campos disse que devem ser investigados "doa a quem doer".
No sábado (25), após reportagem da Folha, a Caixa Econômica Federal confirmou que, dia antes do início dos boatos, alterou, sem aviso prévio, todo o calendário de pagamento do Bolsa Família. Todos os benefícios, em um total de R$ 2 bilhões, foram liberados de uma só vez nas contas das 13,8 milhões famílias atendidas.
Nessa segunda-feira (27), o presidente da Caixa, Jorge Hereda, reconheceu que o banco, durante toda a semana passada, repassou informação equivocada sobre a liberação de todos os pagamentos do Bolsa Família e pediu desculpas.
O presidente da Caixa disse que, se for chamado, irá ao Congresso dar explicações sobre o caso. O PSDB entrou com um pedido no Ministério Público Federal de investigação sobre a mudança. Também solicitou à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado para que convidasse o presidente da Caixa para se manifestar.
A presidente Dilma chegou a chamar os boatos de "desumanos" e "criminosos". Já a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, chegou a postar no Twitter que os rumores deviam "ser da central de notícias da oposição", depois voltou atrás. Em evento em São Paulo nessa segunda (27), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como "ato de vandalismo" e "brincadeira de mau gosto" os boatos.
Em evento de discussão sobre o programa, em Brasília, no último dia 23, a ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, defendeu os resultados do programa e disse que a maioria das pessoas que recebe Bolsa Família trabalha, e que as regiões beneficiadas apresentam melhores desempenhos.
“Falaram muito que as pessoas iriam deixar de trabalhar, e todos os resultados mostram que o emprego cresceu mais ainda onde temos mais beneficiários, que é no Nordeste. Se dizia que [as famílias beneficiárias] iam ter mais filhos, e temos ampla bases de dados que mostra o contrário, que a taxa caiu nas cidades mais pobres. A taxa de evasão das crianças inseridas no programa é muito menor que a média nacional, e a taxa de progressão é melhor”, afirmou.
De olho em 2014
Apesar de discutir questões nacionais, Eduardo Campos voltou a dizer que não está em campanha e criticou quem quer "antecipar o debate eleitoral." "Respeitamos quem quer fazer esse debate, mas não é o nosso caso, não é bom para o Brasil, e não sendo bom para o Brasil não é bom para o PSB", disse.
O governador ainda citou que a decisão sobre sua candidatura à presidência só será tomada no próximo ano, mas deixou no ar o tom de que o PSB tem um projeto para as eleições presidenciais.
"Em 2014, vamos resolver olhando para o futuro, para a nossa história, como sempre fizemos. Vamos ficar muito tranquilos, temos unidade partidária, temos capacidade de dialogar, de construir unidade em torno de um pensamento estratégico para o futuro da nação, não em torno de pessoas, partidos”, afirmou.
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