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Barbosa decide julgar recursos semelhantes do mensalão de forma unificada

Fernanda Calgaro e Guilherme Balza

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

14/08/2013 14h37Atualizada em 14/08/2013 16h13

O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), anunciou nesta quarta-feira (14), na reabertura do julgamento, que irá julgar unificadamente os recursos semelhantes apresentados pelos réus condenados. Os demais recursos serão julgados indivualmente, réu por réu.

O STF começou, às 14h25, a analisar os recursos dos réus condenados no julgamento do mensalão. A segunda fase do julgamento é retomada mais de um ano depois do início do julgamento, em 2 de agosto do ano passado. O UOL está transmitindo ao vivo a sessão.

Barbosa decide unificar recursos semelhantes do mensalão

Barbosa enumerou os cinco tipos de recursos semelhantes que pretende julgar unificadamente: redistribuição dos embargos a outro relator; o cancelamento dos votos e notas taquigráficas; incompetência do Supremo para julgar os réus que não têm foro privilegiado; metodologia do julgamento; e a nulidade dos votos do ex-ministro Ayres Britto, que presidia a Corte quando os réus foram julgados.

O ministro Joaquim Barbosa observou que a defesa de diversos réus contestou a supressão das falas dos ministros em plenário sob o argumento de isso fere o regimento da Corte. No entanto, Barbosa afirma que o próprio regimento, em seu artigo 33, prevê o cancelamento de falas.

Os ministros retomam o julgamento com a análise dos embargos de declaração, tipo de recurso que serve para pedir esclarecimentos ou questionar pontos obscuros dos votos dos magistrados. Eles também são usados para contestar as penas e pedir redução das multas, mas não têm força para mudar uma decisão.

Hoje, a Corte está incompleta, com dez integrantes de um total de 11, por causa da ausência esperada do ministro Teori Zavascki, de luto pela morte da sua mulher, que morreu segunda-feira (12). Ele estará de licença até semana que vem.

Por esta razão, a pauta foi mudada de última hora: os ministros iriam começar decidindo se vão aceitar ou não os embargos infringentes, nome dado aos recursos com poder de reverter uma condenação. A polêmica envolvendo esses embargos é que eles estão previstos no regimento do STF, mas não na lei. Assim, há ministros que entendem que são cabíveis e outros que discordam.

Condenados

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil
José Genoino, ex-presidente do PT
Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT
Deputado João Paulo Cunha (PT-SP)
Marcos Valério, empresário e publicitário
Ramon Hollerbach, ex-sócio de Marcos Valério
Cristiano de Mello Paz, ex-sócio de Marcos Valério
Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil
Rogério Tolentino, advogado e ex-sócio de Marcos Valério
Simone Vasconcelos, ex-gerente da SMP&B
Vinícius Samarane, vice-presidente do Banco Rural
José Roberto Salgado, ex-diretor do Banco Rural
Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural
Roberto Jefferson, deputado cassado (PTB-RJ)
Deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP)
Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL
Pedro Corrêa, deputado cassado (PP-PE)
João Cláudio Genú, ex-assessor do PP na Câmara
José Borba, ex-deputado (ex-PMDB-PR)
Romeu Queiroz, ex-deputado (PTB-MG)
Carlos Alberto Rodrigues, ex-deputado (PL-RJ)
Enivaldo Quadrado, ex-sócio da corretora Bônus-Banval
Breno Fischberg, ex-sócio da Bônus-Banval
Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB
Pedro Henry (PP-MT)

Para evitar eventual empate na questão, o presidente do Supremo, Barbosa, resolveu iniciar com a análise dos embargos de declaração.

Antes do início da sessão, o ministro Marco Aurélio afirmou que espera que os demais magistrados não leiam os votos por escrito quando forem acompanhar o relator. Nesse caso, ele espera que os ministros digam apenas que seguem o relator para otimizar o tempo

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se despede amanhã do cargo, disse que espera que o julgamento dos recursos do mensalão seja bastante rápido porque os embargos de declaração "não se prestam àquilo que a defesa pretende, ou seja, um rejulgamento da causa.”

Condenações

Dos 37 réus na ação penal, 25 foram condenados. No julgamento, os ministros entenderam que houve desvio de dinheiro público e empréstimos fictícios para abastecer um esquema de compra de apoio parlamentar no início do primeiro governo do ex-presidente Lula (2003-2006).

Pela lei, no entanto, as penas só podem ser executadas após acabar a fase de recursos e a sentença final tiver sido publicada. Todos os 25 condenados apresentaram embargos de declaração.

Durante os quatro meses e meio de julgamento, dois ministros se aposentaram por terem atingido a idade-limite, de 70 anos, e deixaram o STF. Foram substituídos por Zavascki, que tomou posse em novembro do ano passado, e por Luís Roberto Barroso, que assumiu em junho deste ano.

Apesar de não terem participado da primeira etapa do julgamento, eles estão aptos a julgar os recursos.

Pela pauta divulgada no site do STF, o plenário deve começar pelos embargos de Rogério Tolentino, ex-advogado do publicitário Marcos Valério, apontado como operador do esquema.

Tolentino foi condenado a seis anos e dois meses de prisão em regime semiaberto, além de multa de R$ 404 mil (valor que ainda passará por correção monetária), por lavagem de dinheiro e corrupção ativa. A defesa pede que o tribunal considere a legislação mais antiga, que prevê uma pena mais branda.

A ordem dos réus que terão seus embargos julgados em seguida deverá ser comunicada pelo presidente do Supremo durante a sessão.

Cronologia do mensalão

  • Nelson Jr/STF

    Clique na imagem e relembre os principais fatos do julgamento no STF

Normalmente, as sessões terminam por volta das 19h, mas Barbosa já disse que elas poderão se estender conforme a necessidade.

Além das sessões ordinárias do plenário, que acontecem às quartas e quintas, os magistrados também poderão resolver fazer sessões extras às segundas para agilizar o julgamento dos recursos. 

Gurgel

A subprocuradora-geral da República Helenita Acioli assumirá interinamente o cargo de procuradora-geral da República a partir desta quinta-feira (15).

Ela irá acompanhar parte do julgamento dos recursos do mensalão até que o substituto do atual procurador-geral, Roberto Gurgel, seja indicado pela presidente Dilma Rousseff, o que ainda não tem previsão para acontecer.

Gurgel deixa o posto nesta quarta após exercer dois mandatos, entre os anos de 2010 e 2013.

Segurança reforçada

Embora não tenha sido marcada nenhuma manifestação no local, a PM (Polícia Militar) informa que irá monitorar de perto qualquer movimentação e não descarta a hipótese de diferentes grupos menores se reunirem em frente ao STF, na praça dos Três Poderes, para protestar. Se for preciso, homens da PM serão deslocados para lá.

O entorno do tribunal também foi cercado por grades isolando o prédio da praça. Do lado de dentro, o esquema de segurança estará reforçado com mais 40 agentes desarmados, assim como foi na primeira parte do julgamento, no ano passado. Eles serão responsáveis pelo controle de entrada no prédio no período do julgamento. No plenário, parte dos 243 assentos será reservada para advogados e imprensa e o restante, liberado para o público em geral.

O clima ao redor do STF, no entanto, era calmo na tarde desta quarta-feira, sem a presença de manifestantes.