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Cardozo nega que carta seja tradução e diz que processará quem o chamou de "vigarista"

O diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello (atrás) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concederam entrevista para falar sobre o caso do cartel do metrô em SP - Marcello Casal Jr - 26.nov.2013/Agência Brasil
O diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello (atrás) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concederam entrevista para falar sobre o caso do cartel do metrô em SP Imagem: Marcello Casal Jr - 26.nov.2013/Agência Brasil

Do UOL, em Brasília

28/11/2013 16h43Atualizada em 28/11/2013 17h03

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, criticou nesta quinta-feira (28), a politização das investigações sobre o cartel do metrô durante governos do PSDB em São Paulo e negou que um documento mostrado por tucanos como adulterado seja uma tradução. "A pessoa que quer esclarecer os fatos não politiza uma investigação", disse em entrevista coletiva em Brasília. Ele afirmou ainda que processará por danos morais os políticos que o chamaram, entre outros adjetivos, de "sonso" e "vigarista".

O documento foi entregue por Cardozo à Polícia Federal para investigação, e, depois disso, o ministro foi criticado pelos tucanos, que o acusaram, entre outras coisas, de prevaricação.

Na entrevista de hoje, Cardozo criticou duramente o PSDB. "É curioso. Aquele que pede investigação, na lógica deles [tucanos], tem que se defender. É a investigação do mensageiro independentemente da mensagem. O ministro da Justiça é mensageiro da ocorrência de eventuais crimes. [Isso] é um vil pretexto para criar uma cortina de fumaça."

Ele negou que os documentos apontado como "dossiê dos aloprados" pelo PSDB sejam a tradução uns dos outros. Os tucanos afirmam que a tradução teria sido refeita de modo a incriminar os políticos da legenda.

"Nós comparamos os dois documentos. São documentos diferentes. Tradução significa verter de uma língua para outra. E não modificar, acrescentar dados. Aquilo que é dito de acréscimo na carta em português está coaduno. As empresas mencionadas estão mencionadas em outras passagens. Imaginar que isso é enxerto de um petista é ignorar que há outras coisas aqui."

Cardozo afirmou ainda que irá processar criminalmente aqueles que o difamaram. "O dia em que um ministro de Estado da Justiça aceitar ser chamado de vigarista, sonso, não no sentido de abobalhado, mas no sentido de dissimulado, aceitar ser chamado de membro de quadrilha, e não reagir, ele não defende seu cargo. Processarei aqueles que utilizaram palavras injuriosas, caluniosas ou difamatórias em relação ao meu cargo. Processarei criminalmente por danos morais."

 

Entenda a polêmica dos documentos

A lista de políticos tucanos supostamente envolvidos no escândalo veio a público na semana passada após a divulgação de um suposto depoimento do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer que apontava a "existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os governos [Mário] Covas, [Geraldo] Alckmin e [José] Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM.

Segundo os tucanos, o depoimento teria sido mudado em sua tradução. Eles acusam o deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT-SP) de ter feito a tradução incriminando o PSDB, o que não apareceria no documento original.

Em junho, a Polícia Federal anexou esse conjunto de papéis ao inquérito que investiga a atuação do cartel que teria combinado preços em licitações do Metrô e da CPTM durante governos do PSDB.

O dossiê é formado por três documentos. O mais antigo é uma carta anônima escrita em inglês e enviada ao ombudsman da Siemens na Alemanha em junho de 2008. Ela denuncia irregularidades em licitações das quais a empresa participou e fala em pagamento de propina, sem citar nomes.

Há também entre os papéis uma versão em português da carta, com o acréscimo de um parágrafo que aponta o PSDB como destinatário da propina e outras mudanças. Nesta semana, os tucanos exibiram essas diferenças como se fossem evidência de que os documentos foram falsificados.

O terceiro documento é um relatório mais recente, que oferece mais detalhes sobre licitações que a Siemens teria ajudado a fraudar e cita políticos do PSDB que teriam ligações com lobistas que teriam distribuído a propina paga pelas multinacionais.

Cardozo disse que seu papel é mandar a PF investigar o caso. "Não sei se são verdadeiros [documentos]. Mandei investigar", disse Cardozo. Ele negou ainda a versão dos tucanos de que o PT estaria usando o caso para desviar atenção das prisões de ex-dirigentes condenados pelo mensalão. "Disputa política não há. Quem conduz a invstigação é a Polícia Federal, tão elogiada. A Polícia Federal investiga todos igualmente.

Ele disse ainda que há coisas sendo inventadas. "A cada dia se cria uma coisa nova, a cada dia se inventa uma situação nova."

A empresas Alstom e Siemens são investigadas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no procedimento aberto após a Siemens delatar a existência de cartel em licitações do Metrô e da CPTM.