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Leia a transcrição da entrevista de André Vargas ao UOL e à Folha

Do UOL, em Brasília

13/02/2014 06h00

André Vargas (PT-PR), primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, participou do Poder e Política, programa do UOL e da "Folha" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 12.fev.2014 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

 

André Vargas – 12.fev.2014

Narração de abertura: André Luiz Vargas Ilário tem 50 anos. É primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, eleito pelo PT do Paraná.
Formado em administração de empresas, André Vargas foi gerente voluntário de albergues de Londrina  e presidiu a associação de entidades beneficentes do Estado.

André Vargas filiou-se ao PT em 1990. Seu primeiro cargo público foi diretor da Cohab de Londrina, na gestão de Luiz Eduardo Cheida. Depois, presidiu os diretórios municipal e estadual do PT.

André Vargas elegeu-se vereador de Londrina em 2000 e deputado estadual em 2002. Quatro anos depois, obteve uma cadeira na Câmara dos Deputados e foi reeleito para o cargo, em 2010.

André Vargas disputou a prefeitura de Londrina, em 2008, mas terminou em 5o lugar. Em fevereiro de 2013, André Vargas assumiu a primeira vice-presidência da Câmara dos Deputados.

Folha/UOL: Olá internauta, bem-vindo a mais um “Poder e Política Entrevista”. Este programa é uma realização do Jornal Folha de S. Paulo e do portal UOL. A gravação é realizada aqui no estúdio do grupo Folha, em Brasília. O entrevistado desta edição do “Poder e Política” é o deputado federal André Vargas, do PT do Paraná, que também é o primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados.

Folha/UOL: Olá, como vai deputado André Vargas? Começo perguntando: O ex-presidente Lula acaba de declarar que ministros do Supremo Tribunal Federal que pretendem fazer política precisam “mostrar a sua cara”. O senhor acha que o ex-presidente Lula se referiu a qual ministro no Supremo?
André Vargas: Acho que é uma plêiade de ministros ali né?

Mas, quais são eles?
Especificamente acho que o [Joaquim] Barbosa e o, se especula que poderia ser candidato, e o próprio Gilmar Mendes, que nessa última semana entrou em uma polêmica, na minha opinião, absurda e inconsequente mesmo quando atacou o modelo de vaquinha de arrecadação para o deputado [José] Genoino, pro Delúbio [Soares], que se fez em relação às multas do mensalão. Todo mundo conhece o PT, quer dizer, o PT tem 34 anos feitos agora, um milhão e meio de filiados, mais do que filiados, o PT tem muita adesão, tem quem gosta e quem não gosta, mas tem adesão na sociedade e foi atacado exatamente por essa adesão. Eu mesmo sou testemunha de várias pessoas que não são do PT e que me ligaram pedindo a conta do Genoino, por exemplo. Eu acredito que mais foi por isso mesmo.

Por conta da declaração do...
Do Gilmar e da postura do Barbosa que... O Brasil tem uma coisa diferente dos outros países, que é um pouco a crítica que eu faço em relação ao modelo do julgamento do mensalão e em relação a outros temas que vão vir por aí, e que têm repercussão política e também social, que é a questão da transmissão ao vivo das sessões do Supremo. Isso é uma tentação para que os ministros se transformem em popstars, né? Num julgamento de alto interesse, de visão na sociedade, acaba tendo uma tentação, então as opiniões do ministro acabam repercutindo, eles opinam em relação à política, em relação a outros temas e isso...

O senhor acha ruim a transmissão ao vivo?
Eu acho. Eu acho que não é bom não.

Tinha que acabar com ela?
Acho que seria uma alternativa. Refletir sobre isso pelo menos. Não dá pra tratar como se fosse algo natural.

O senhor acha que há espaço na sociedade brasileira para recuar sobre isso?
Acho muito difícil. Muito difícil. Até estava, antes de vir para a entrevista, pensava exatamente isso. Eu afirmo – e não sou só eu – o ministro Teori [Zavascki], por exemplo, quando assumiu, ele deu uma das declarações dele foi exatamente essa, que ele achava um excesso a transmissão. Você veja que há países em que nem fotografia você tira. No Japão só uma fotografia do julgamento da primeira instância, não é nem do Supremo...

Mas não é um bom exemplo, né?
Nos Estados Unidos... Bom, veja, o modelo, no Brasil, o Supremo não é só uma instância do Judiciário, ele é a Suprema Corte. Porque veja, tem a primeira instância lá na base, os municípios, a segunda instância, cinco Estados, e a terceira instância não é o Supremo, é o STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal julga matérias constitucionais, matérias de grande repercussão, imagine você o Supremo julgando a pena de morte? Imagina o nível de pressão, nessa modelagem que tá aí, e, se os ministros forem atender à pressão popular, certamente a pena de morte vai passar. E eu, por exemplo, pessoalmente, sou contra e acredito que não seja a posição da maioria dos ministros. Certamente não, mas tem uma tendência de passar. Talvez os ministros enfrentem essa questão.

Isso acontece nos Estados Unidos em relação aos temas do aborto, então esse aspecto do Supremo é muito perigoso em relação ao julgamento televisivo. Nas questões criminais, que também é outra novidade aqui no Brasil, é a última instância para julgamentos de natureza criminal. Como aconteceu no caso do mensalão, vai acontecer agora em relação ao PSDB, ao chamado mensalão tucano que envolve membros do PSDB. Vai ter um apelo popular, vai ter um julgamento, avaliação da postura, do voto. O ministro vai ao supermercado, vai ao restaurante, é aplaudido de pé ou é vaiado. Acho que não interessa para ninguém isso, mas, também reconheço que dificilmente muda.

O Supremo Tribunal Federal julgou um caso rumoroso, que foi a ação penal 470, também conhecida como mensalão. Agora, deve começar a julgar uma ação penal também que é conhecida como o mensalão do PSDB, ocorrido em Minas Gerais. O PSDB tem dito que, enfim, é inocente, que não tem culpa e etc., mas que, uma vez o Supremo julgando, vai acatar a decisão. No caso do seu partido, o Partido dos Trabalhadores, também acatou a decisão, mas faz uma luta política constante dizendo que o julgamento foi incorreto, não houve justiça e houve erros formais. O senhor acha que deve continuar a fazer isso o seu partido? Essa é a melhor atitude que o PT tem a tomar?  
Bom, eu acho que tem uma reflexão de direção de que seja a melhor decisão a tomar. Talvez, se fosse só a direção descolada da base social e política que nós temos, que o PT é um partido com base social, base social popular, e a base social pressiona por um posicionamento também do partido. Não é só uma decisão onde se reúnem lá o presidente e o executivo nacional, mais algumas lideranças importantes e você se posiciona, não é só isso. Não foi uma decisão, foi uma decisão de base. É uma decisão não, é uma pressão da nossa base. E por que isso acontece? Porque no caso do mensalão, talvez aplique-se novamente ao chamado mensalão tucano, criou-se a teoria do domínio do fato, é algo totalmente novo que em matéria criminal não existe, que é você dizer que, mesmo sem prova, você pode condenar porque a pessoa deveria estar sabendo do que se trata.

Por exemplo, eu não vou citar o exemplo só do José Dirceu que não tem nenhuma prova, vou citar o exemplo da Kátia Rabello, uma presidente de banco, que tinha chegado recentemente, era uma bailarina, não tinha nenhum tipo de conhecimento, 16 anos de cana. Qual o crime? Me parece que é o empréstimo de em torno 70 milhões de reais e que teria sido entendido como fraude, como um processo de esquentar dinheiro, foi apenas um empréstimo que a SPMB do Marcos Valério pagaria ou empréstimo que nem seria pago. Esse empréstimo foi contabilizado e tal. Ela, vamos dizer, ela não tinha condição de saber. Me parece até, ela tinha assumido recentemente por uma tragédia familiar com a sua irmã. Então vou citar esse exemplo. Se essa teoria do domínio do fato servir para julgar, por exemplo, um caso que pode chegar no Supremo um dia, a fraude do [Banco] Panamericano, o Silvio Santos vai ser condenado? É uma pergunta. Estou fazendo uma reflexão que é fora da política. Então, isso faz com que haja um estímulo quando se observa isso, quando se vai aos autos.

Por exemplo, o [ex-deputado] João Paulo Cunha vai ficar preso por 50 mil reais da campanha, provavelmente. E, claro, que a militância que conhece o João Paulo Cunha, que não é só conhecido em Osasco, São Paulo, mas no Brasil. Mesmo a Câmara, que gosta muito do João Paulo, foi um presidente muito... Você que caminha lá pelo Congresso quando pode, sabe disso. Então, veja, isso faz com que a militância se posicione. Eu acho que nós vamos ainda por muito tempo dizer isso, e esse julgamento do mensalão vai ser reescrito, vai ser redimensionado talvez na história.

Deixa eu apresentar um dado para o senhor. No final do ano de 2013 o Datafolha fez uma pesquisa nacional muito extensa, na qual perguntou aos brasileiros se concordavam com a decisão de condenação e de enviar à prisão os condenados no caso do mensalão. E 80% aproximadamente, um pouco mais, na verdade, disseram que sim, que concordavam. E a taxa, inclusive, dentro da margem de erro, mas numericamente era até acima entre pessoas que se diziam simpatizantes do PT. O senhor diz, por outro lado, que a militância pressiona.  Agora, a pesquisa do Datafolha é uma pesquisa científica, em todos os Estados, e encontrou isso. Eu não estou vendo relação entre o resultado da pesquisa e isso que o senhor está dizendo que a militância pressiona.
Mas veja, é um pouco incômodo o que existe também. Porque você, em relação às questões, à luta política que é feita, porque tem o próprio julgamento, e quando o PSDB faz essa declaração, o PSDB fez dessa bandeira a única bandeira política em relação à ética nos últimos oito anos. Não deu certo eleitoralmente, não foi capaz de acabar com o PT, como diziam, que o PT ia desaparecer, que seria a menor bancada, que muita gente não ia se reeleger... Por que que o PSDB ou setores conservadores da sociedade brasileira, que usam isso como quase um monotema, não consegue atingir seu objetivo? Porque o PT tem a sua militância e tem a sua narrativa dos fatos. A nossa narrativa é que foi, do ponto de vista nosso, um crime eleitoral. Tem que ser punido, um equívoco grande, o Delúbio cometeu um grande equívoco, montaram um empréstimo, um caixa dois online, é surpreendente que isso tenha se aplicado. Agora, daí a dizer, a narrativa que se apresenta de que é o maior escândalo político da bnação, talvez seja o maior escândalo político investigado e tendo chegado às ultimas consequências do Supremo, e essa sensação é claro que impacta na sociedade.

Se julgassem, se tivessem instaurado um procedimento, por exemplo, em relação à privataria tucana, às privatizações, vocês se lembram, o [ex-presidente] Fernando Henrique [Cardoso] foi flagrado falando com um assessor seu, às vezes me foge a memória, acho que é o Pérsio Arida ou é o André Lara Resende, interferindo diretamente nas privatizações bilionárias do sistema telefônico, e que poderia dar a entender que estariam tendenciando para um grupo em detrimento de outro, italianos, espanhóis ou portugueses, uma coisa assim. Se tivesse, no caso do mensalão, uma gravação do presidente Lula, cairia a nação. Então, foi, talvez, do ponto de vista político, um escândalo, que no nosso entendimento foi um crime eleitoral que tem eu ser punido, mas nesse âmbito, e que foi tratado como se fosse a compra de votos dentro do Congresso Nacional. Nós não aceitamos essa narrativa, e vamos continuar defendendo que foi um julgamento fora da curva, e não somos nós que estamos falando, tem muitos juristas que avaliam dessa forma também.

Essa interpretação que o senhor faz é um razão pelas quais levou o senhor, naquele dia em que o Congresso reabriu os trabalhos neste ano, na sessão solene, e, ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o senhor fez aquele gesto com o punho cerrado e passou mensagens aos seus colegas a respeito da presença dele ali naquele momento?
Olha, essa é a segunda vez que me sento ao lado do ministro Joaquim Barbosa. Eu o cumprimentei formalmente, e não teria muito assunto, muito diálogo com o ministro. Ele não me perguntou nada, eu não lhe perguntei nada. E, pela segunda vez, agora um pouco diferente, os meus colegas que estão lá embaixo, sempre, enfim, está do lado dele, manda mensagem, enfim, aquelas coisas. E realmente isso ocorreu. Então não foi nada pensado, foi apenas um cumprimento, tanto que quem pega as fotos, era uma cara boa, de quem tava cumprimentando mesmo, não era nada estou provocando o cara, foi um sinal para ele, jamais faria, seria talvez até uma molecagem, mas era um cumprimento e é um cumprimento cada vez mais comum no PT.

De cerrar o punho?
O Genoino, o primeiro a ser preso foi o Genoino, que na minha opinião é o maior símbolo dos excessos do Joaquim Barbosa, veja, o Genoino foi preso, constrangido, com problema de saúde, não se sabe se fica domiciliar ou não, virou uma polêmica a questão da aposentadoria dele no Congresso, e o Roberto Jefferson que também tem um problema de saúde grave, que entendo que também deve ser tratado com humanidade, está sendo tratado de forma absolutamente diferente em relação ao Genoino, são duas histórias, e o ministro Joaquim Barbosa nitidamente, e às vezes aparentemente de forma cínica, vai postergando a decisão em relação ao Roberto Jefferson. Se ele tivesse feito um acordo com delação premiada tudo bem, não foi feito. Ele tem uma pena para ser cumprida tanto quanto o Genoino. Então esse sentimento que foi se construindo, principalmente na aplicação das penas, e a reação do Genoino, porque todos, aqueles que não gostam do PT, aqueles que esperavam um desgaste, imaginavam o Genoino algemado, e não foi isso que aconteceu, foi o Genoino dizendo que estava resistindo. Assim, logo em seguida o José Dirceu. Esse gesto é comum nos atos de resistência.

O gesto do punho cerrado então no dia ali na sessão solene do Congresso que o senhor fez foi...?
Quase um símbolo de... É um ato político. Mas, para companheiros. Não era um ato político para o Barbosa. Realmente, a repercussão disso está na mesa pela solenidade, ela é proporcional realmente à importância...

E as mensagens, que acabaram aparecendo nas fotografias, que o senhor trocou com, não sei com qual colega estava trocando, não sei se o senhor poderia até dizer com quem falava, no momento que alguém falava, não sei se o senhor escrevia, sobre dar uma cotovelada no ministro do Supremo.
Era uma pergunta.

É?
Na verdade me perguntaram “Você já cumprimentou ele?”, eu falei “Não.” “Você não vai falar com ele?”, eu falei “Não.” “Mas ele vai prender o João Paulo Cunha?”. Na verdade não era um colega ali naquela mensagem, era um jornalista que eu não vou falar o nome, é uma jornalista que não foi indiscreta porque fui fotografado por um dos melhores fotógrafos lá do Congresso, eu encontrei com ele ontem até brinquei e falei “Olha, parabéns, você fez um bom trabalho, né? Conseguiu fotografar” e aí eu pergunto, vou falar o quê? Perguntar o quê? Aí, “O João Paulo vai ser preso amanhã?”, enfim, jornalista querendo... “Dá uma cotovelada?” e aí veio à tona, não era a vontade de dar uma cotovelada porque eu não acho que é assim que se faz política.

O ministro Joaquim Barbosa, quando ele desce às polêmicas, ele também se sujeita ao embate político, por exemplo, ele já chamou o Congresso de “submetido ao Executivo”, já chamou os partidos de “mentirinha”, todas essas vezes coincidentemente fui eu, não é a primeira polêmica minha com o Joaquim Barbosa, talvez não tenha tido a mesma repercussão, os punhos cerrados em relação, porque é uma fotografia, uma imagem, mas quando ele atacou os Tribunais Regionais Federais, que nós conduzimos a votação também, as razões nunca foram razões leves, então, quando você faz a pesquisa no Google você vê lá que já teve outras polêmicas, ele não entra numa polêmica propriamente comigo, mas a postura dele gera declarações.

Mas a sua atitude naquele dia o senhor acha que está dentro do que pode ser feito dentro do Congresso?
Ah, sim. Isso é um direito de opinião. Veja, eu sempre faço uma reflexão. Se a presidenta Dilma não o cumprimentasse na posse do papa [Francisco], teria uma repercussão diferenciada do que de fato ocorreu. Ele não a cumprimentou e depois disse que a tinha cumprimentado. Se ela não tivesse cumprimentado provavelmente a interpretação seria de um ato de solidariedade ao José Dirceu, Genoino e... Correto? Por quê? Porque a presidenta nunca se pronunciou em relação esse tema e talvez fosse subentendido nisso uma interpretação, uma discriminação, uma crise entre os poderes. Se há uma crise entre poderes e de tensão entre os poderes hoje em relação ao Supremo e às demais instituições, não só poderes, por exemplo, a associação de juízes ele tratou de “sorrateiras”, tratou de “advogados preguiçosos”. Então, por exemplo, o próprio Gilmar Mendes ele chamou e acusou o Gilmar Mendes, acusou o Lewandowski de “chicaneiro” que é grave, acusou o Gilmar Mendes, não só o Lewandowski, quando o Gilmar Mendes era presidente, no embate, ele falou para o presidente do Supremo de então, o Joaquim Barbosa, “olha o respeito, você não está tratando com seus capangas do Mato Grosso”. São frases e que foram sendo ditas, veja, o Carlos Ayres Britto, nós discordamos da postura dele no julgamento no mensalão, ele julgou praticamente de forma idêntica ao Joaquim Barbosa, seus votos quando estava votando, foi presidente do Supremo e nunca nós nos envolvemos com polêmicas dessa ordem com ele. Ele não se dá o respeito. Ele não se dá o respeito, agora, de novo! Então...

Ele, o Joaquim?
O Joaquim Barbosa não se dá o respeito. Ele se mete em questões e faz julgamentos e pré-julgamentos e ataques. Logo depois dos punhos cerrados ele colocou em julgamento dois casos do PT. O Zeca Dirceu e Lindbergh. Que eram casos eleitorais, circunstâncias muito pequenas das ultimas eleições. Será que não tem nada mais para colocar em pauta?

Mas se o senhor me permite dizer, esse episódio do punho cerrado do senhor ao lado dele na sessão solene do Congresso ocorreu, se eu não me engano era uma terça-feira e, desde a sexta-feira anterior, já estavam na pauta esses casos.
Ah, já estavam? Pois é. Mas é que a fotografia... E isso vai sendo alimentado, é claro, pode ter acontecido, mas o ânimo dele e do próprio Gilmar Mendes contra o PT é evidente. Nós não estamos nos fazendo de vítimas.

Por que que eles estão fazendo isso?
Eu entendo que o Gilmar Mendes deve ter seus motivos, eu conheço o ministro Gilmar Mendes, imaginava dele uma outra postura. Acredito que aquela questão lá da CPI do Cachoeira onde se falava que ele poderia ser chamado, tinha um ruído muito grande, acho que aquele ruído depois ele trouxe à tona que o presidente Lula teria estado com ele e pedido, enfim, aquelas coisas, eu acho que aquele momento teve uma inflexão muito pesada e desde então o ministro Gilmar Mendes tem olhado para o PT de forma muito severa. Essa última movimentação dele foi ruim, e por isso que o presidente Lula colocou nesses termos, porque veja, nem pode ser diferente. Nós temos uma democracia, o Congresso Nacional todo ele é eleito, não tem ninguém nomeado ali, e veja, e ele tem tido um tratamento em relação a, principalmente ao Joaquim Barbosa, na minha opinião, muito injusto. Porque o Congresso Nacional, com as suas dificuldades, ele tem votado os temas do país, né? Não tem faltado com o país.

De volta ao ministro Joaquim Barbosa, nesta semana ele acabou revogando uma decisão de um colega, Ricardo Lewandowski, várias na verdade, não uma, uma especificamente no caso do ex-ministro José Dirceu, o senhor deve ter tido conhecimento. O que o senhor achou dessa decisão do ministro Joaquim Barbosa?
Bom, do ponto de vista... Eu não sou advogado e não convivo lá, mas me parece de uma atitude assim, que não é comum também, mais uma daquelas que está fora da curva e que poderia ter sido feita de outra forma, poderia se levar ao pleno, como se faz normalmente. Aumenta a temperatura, tanto que todos os jornais, principalmente a Folha de S. Paulo traz a informação de que há um clima muito ruim lá em função disso. Porque é mais ou menos assim, acredito eu, se acontece com o Lewandowski, acontece com qualquer outro em determinado outro momento. Se fica comum, o ministro que é o substituto que tomou uma decisão, ele evita uma decisão sub judice, né? Por mais engraçado que fosse. Então eu acho que é um equívoco grande, uma tensão grande e o ministro Joaquim Barbosa ele não aposta na unificação do poder, eu estou dando minha opinião, ele não está à altura de ser presidente de um poder, ele não se comporta como presidente de um poder, ele se comporta como um ministro polêmico, o ministro que mais divide do que une e aí...

Mas se ele não está à altura de presidir o Supremo alguma providência tinha que ser tomada então? O senhor está falando que ele não está à altura...
Bom, eu estou, veja, é minha opinião. Já relatei aqui pelo menos umas dez posturas do Joaquim Barbosa que não estão à altura...

Ele foi indicado pelo ex-presidente Lula que é do seu partido, né?
É, mas... Quando você assiste àquele filme “Pelé o eterno” que mostra as boas jogadas do Pelé, você fica mais impressionado ainda com o grande jogador que foi o Pelé. O Lula, as cenas que vêm à mente são os acertos, mas esse, na minha opinião foi, não um equívoco, porque depois que você nomeia o ministro do Supremo ele se institucionaliza, ele tem um poder, você não nomeia alguém para fazer a sua política. Mas, é estranho realmente que alguém nomeado pelo governo do PT tenha esse ânimo contra um partido. Ao final das contas, na minha opinião, o Joaquim Barbosa está canalizando as energias não só daqueles que não gostam do PT, daqueles que não gostam da política.

Tem um segmento da sociedade que acha que a política é o mau, que político é tudo isso, que político é tudo ladrão, que eu acho que tudo bem, mas, tem até adesivos que vemos em carros “odeio políticos do Brasil”, até um dia perguntei pra um cidadão “E dos Estados Unidos, você gosta? E da Europa, você gosta?”. Esses são aqueles que tem, e veja, e se tem problemas, todo dia estão acontecendo coisas no país, é a classe política que tem, bem ou mal, conduzido o país, e se fosse mal, o país estava pior do que estava no passado. Então, veja, e o Joaquim Barbosa acaba canalizando essa energia da antipolítica, do conceito moralista, aquele que está acima da realidade. A gente estava falando aqui do mensalão, falava do mensalão mineiro, mas se você fosse remeter à questão do [Fernando] Collor, à questão dos anões do orçamento... A questão do financiamento eleitoral, a questão dos crimes eleitorais eles se misturam na relação com administração pública.

Agora, a mesma sociedade que condena e está correta, quando você vai para uma campanha, temos campanha eleitoral agora, o caixa dois é crime, e o caixa um é condenado também porque ele é julgado todo dia, quando uma empresa doa pra campanha, fica declarado lá que doa, e ficam as pessoas especulando, porque que doa, será que ele deveria ter doado. Uma vez até o [Luiz Carlos] Rauli, por exemplo, que é da minha cidade, meu amigo, que é do PSDB, nós somos adversários, mas temos boa relação, falaram que ele recebeu um dinheiro do Bradesco e um dia relatou uma matéria que poderia ter... Mas, o Bradesco doou para ele e deveria doar para o PSOL? Quer dizer, é uma doação legal, à luz do dia e que fica sendo julgada. Então, a questão eleitoral, tem muita hipocrisia nisso. Então eu acho que essa energia da antipolítica de quem nem quer se dar o trabalho de conhecer os meandros da política está sendo canalizado no ministro Joaquim Barbosa hoje.

A propósito de financiamento de campanha, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, fez uma arrecadação, o senhor já mencionou aqui na entrevista, grande para pagar uma multa por conta do processo no qual ele foi condenado, o processo do mensalão. O valor arrecadado por Delúbio Soares e o número de doações em poucas semanas foi superior ao valor arrecadado da mesma forma com essa conta publicada na internet pela presidente Dilma Rouseff e pela então candidata Marina Silva em 2010. Foi um fracasso essa arrecadação em 2010. Agora, cerca de 4 anos depois, um pouco menos, Delúbio Soares tem um grande sucesso nesse tipo de arrecadação.
Genoino também, né?

Genoino também, é.
É, porque o Genoino inaugurou. A gente não pensou que ia ter esse reflexo.

Mas o que isso significa? Vai haver uma nova forma de arrecadação desse jeito nas campanhas ou o senhor acha que não?
Eu acho que tem uma situação de comoção da militância petista, e como disse militância petista não é só filiado ao PT. Eu mesmo recebi ligação de pessoas ligadas a partidos de direita, semiconfigurados partidos conservadores, querendo doar para o Genoino, muito especificamente para o Genoino, pelo respeito que ele tem no Congresso, e não vem ao caso claro, a pessoa me pediu, a pessoa nem conseguiu doar. Muitos que não conseguiram doar para o Genoino, acabaram canalizando as doações para o Delúbio. Foi feita uma organização, foi feita uma arrecadação, foi feita ligação, tem uma situação de comoção, eu acredito que as doações em relação às campanha na internet vão ser maiores do que aquelas que foram. Eu mesmo era secretário de comunicação e a Blue State, que é dos Estados Unidos, trabalhou conosco e eles faziam uma aposta e eu falava, olha aqui é uma questão cultural, você não tem ainda a doação individual como a adesão, nos Estados Unidos, a adesão significa também uma adesão financeira e aqui ainda não tem essa relação. É só ver o dízimo da igreja, né? Não são todos que pagam, cada um paga como pode. Eu acredito que vai crescer muito, os partidos vão apostar, agora não sei em que proporção, realmente não dá pra comparar. Agora, em relação ao Delúbio, que eu sei, e em relação ao Genoino houve uma campanha organizada pelos seus amigos que são muitos, são muitos.

O Supremo Tribunal Federal, ainda nessa área do financiamento de campanha, está para julgar uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil que vai, se aceita, determinar que sejam banidas as doações de empresas, das chamadas pessoas jurídicas. O senhor é a favor? É contra? E no caso disso acontecer, como será a reação do Congresso?
Veja, eu não acredito que aconteça para essa eleição. Você não pode mudar a regra do jogo com o jogo em andamento. E você não pode tirar um tipo de financiamento, que é legal, hoje, que é transparente, porque é online, hoje a cada 30 dias você tem que prestar contas, não sei as doações do partido, mas que também é legal e tem a sua legislação, por uma doação que não existe ainda. Você tem que ter um outro financiamento.

Nós do PT defendemos o financiamento público de campanha, e há muito tempo, não é de agora, é uma bandeira antiga do partido. Eu pessoalmente sempre digo que o financiamento já é em parte público porque os meios de comunicação têm isenção tributária, com tabela cheia. Isenção tributária para rádio e televisão, todo horário gratuito é gratuito para os partidos, não é gratuito para a população.  E o fundo partidário que também, em certa medida, é um recurso público, em certa medida não, é um recurso público. Então, você teria que adicionar a esses valores outros valores necessários para uma campanha nacional com esse modelo de voto, que é o modelo proporcional, que faz com que todos que façam campanhas em todos os lugares. Então você não tem só a campanha da Dilma, campanha do Alckmin, do [Alexandre] Padilha, ou a campanha do Aécio e as campanhas majoritárias. As campanhas dos deputados são cada vez mais majoritárias. Então isso também encarece as campanhas.

Mas qual vai ser a reação do Congresso no caso de vir essa decisão do Supremo banindo as empresas?
Ora, se acontecer isso hoje antes da eleição provavelmente nós não vamos ter eleição. Vai ter uma eleição sem emoção nenhuma, a informação não vai chegar.

Mas supomos que fique para um outro ciclo eleitoral.
Ora se criar, acho que ainda assim o Supremo não tem a competência e nós infelizmente não temos, pelo menos na prática não está acontecendo, que é a competência constitucional de fazer as reformas necessárias. Nós vamos votar esse ano ainda, acredito, uma modelagem de reforma política, acho que nesse bojo é que o debate do financiamento tem que acontecer, porque na medida que você muda o financiamento você tem que mudar o modelo também e substituir um financiamento por um outro financiamento. As campanhas custam, a população para ser estimulada à votação, para ser levada à votação ela tem que ter um número, um nome e um número de candidato, cinco candidatos nessa próxima eleição. Então, você sabe o volume de informação?

Eu brinco, quando eu falo sobre campanha. Tem a guerra, a disputa estratégica de informação, tem a aérea e tem a infantaria. Quem faz a infantaria são os deputados. A infantaria é o corpo-a-corpo, o dia-a-dia, os cabos eleitorais, as pessoas. Então, se isso não vai acontecer mais, o que vai acontecer pra você ter uma campanha? Eu acredito que está acontecendo, não só com a questão do financiamento, algumas medidas estão sendo tomadas e inibitórias, está tornando a eleição uma coisa triste, uma coisa criminalizada previamente. Eu acho que é ruim isso. Eu acho que a campanha tem que ser vista como uma festa da democracia.

O senhor é filiado ao PT, deputado federal pelo PT, tem cinquenta anos. Teve alguma outra filiação partidária antes PT? Sempre no PT?
Sempre no PT.

Desde quando?
Desde 80... É que a formalidade da minha filiação, a minha adesão ao PT, vamos dizer assim, foi na campanha de 89, quando o Lula empolgou as massas.

O senhor então já era filiado em 80 quando o Henrique Pizzolato se candidatou a governador do Paraná.
Eu me lembro, me lembro.

Conhecia Pizzolato? Teve relação com ele naquela época?
Eu encontrei ele acho que uma vez quando ele foi a Londrina. Eu era um militante de base, então eu o vi de passagem num evento do partido.

Por que que Henrique Pizzolato teve um comportamento diferente dos outros condenados no mensalão?
Veja, cada um... Nesse processo do mensalão a estratégia de defesa, um dos grandes equívocos na estratégica de defesa foi permitir que quem tem foro e quem não tem foro privilegiado fosse votado só aqui no Supremo. Não dá pra dizer que foi... Foi um erro inclusive da estratégia de defesa adotada. Mas cada um adota sua estratégia de defesa, cada um tem suas decisões, se eventualmente tivesse acontecido com outro companheiro, João Paulo, ou qualquer outro companheiro que tivesse ido embora, são dirigentes do partido, deputados, ex-deputados, o Pizzolato não era mais, quando ele ocupou o cargo, já não era mais um dirigente do partido. Ele era um filiado do partido que estava em uma função importante. Eu não posso fazer julgamento de valor porque cada um tem a sua estrutura para aguentar o chumbo dessa ordem.

Há companheiros do senhor no seu partido que disseram que ele fez muito mal ao PT ao tomar essa atitude, o senhor concorda? Ao ir para a Itália.
É, eu acredito que não seja só no PT. Porque veja, se fosse o Delúbio, se fossem companheiros dirigentes do partido, realmente seria muito ruim. Mas ainda assim teria que ser respeitado. Agora, no caso do Pizzolato ele não tem essa representatividade partidária, ele estava no processo mais ou menos como poderia estar outro funcionário de alto escalão, que lógico, tem a nossa solidariedade. Eu nunca mais vi o Pizzolato. Eu era deputado estadual quando ele foi pro Banco do Brasil, era presidente estadual do Paraná, fui por sete anos, então nunca encontrei o Pizzolato, e ele trabalhava em uma área importante do Banco do Brasil., nunca mais encontrei. Então, ele provavelmente estava ali, certamente também porque que era filiado do PT, mas também era funcionário do Banco do Brasil, também porque tinha competência na área e eventualmente tomou suas decisões. Então ele não participava de nenhum foro de decisão, diferentemente do Delúbio, do João Paulo, do José Dirceu, do Genoino que participavam de reuniões da direção do partido, permaneciam militando no PT e, aliás, permanecem militando no PT porque têm as suas opiniões e que estão sendo dadas, né?

Deputado André Vargas, por que que a imagem do Congresso é sempre tão ruim aos olhos da população?
Bom, eu diria que o esforço de interpretar isso não poderia ser tão rápido assim e careceria, na minha opinião, de pesquisas mais aprofundadas em relação ao Congresso, não só aquelas quantitativas que aparecem aí. Eu tenho a compreensão de que primeiro, quando você elege um Congresso, quase metade da população não votou naqueles candidatos ali, né? Porque o voto é proporcional, votou em candidatos que não se elegeram cujos votos somaram para a legenda, para isso e para aquilo. Então metade já não votou. Então já tem uma metade que diz “eu não me represento aí, não me reconheço, meu candidato não votou”, então primeiro fato.

É um poder diluído, são 513, e cuja definição das funções, o parlamento, por exemplo, no modelo brasileiro, ele participa de todas as decisões da Presidência da República, por mais que você tenha todas as medidas provisórias elas passam pelo Congresso e você põe lá a marca do Congresso, para esse lado, para aquele lado e tal. E o Congresso tem votado e tem participado de todas as conquistas que o Brasil tem tido, teve a crise econômica, fundo soberano, royalties para a educação, Minha Casa Minha Vida, aliás, fui o relator do minha casa minha vida, votei por unanimidade e brinco sempre, ue não virou notícia, se tivesse dado uma briga na votação provavelmente ia ter virado notícia. Mas o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, tem um grande impacto na população, mas na fase da execução quando as pessoas acessam a esse bem ou essa política pública, já não se vê mais o Congresso, porque o poder já é diluído, não é baseado em uma figura só, 513 deputados e mais 81 senadores, mas quando a pessoa se beneficia de uma política pública ela vê no sistema presidencialista ou o presidente da República ou o governador ou o prefeito.

E eu acho que aparece mais, a cobertura da política vai mais pelo viés do fora da curva. O deputado do castelo aparece mais dos que muitos deputados que não têm castelo, que vivem com dificuldade, eu acompanho lá dia-a-dia no Congresso, são todos homens e mulheres de bem, que levantam de manhã, que trabalham muito, que correm, correm em função dos seus interesses sim, mas a grande maioria de seus interesses estão em sintonia com os interesses da coletividade. É atrás de uma emenda, é atrás de um projeto de lei, enfim, eu acho que um pouco isso a situação do Congresso. Eu também não vejo também muita diferença com alguns Congressos no mundo inteiro, é um poder de muitas caras.

O país passa por um momento de certa polarização a respeito de fatos que têm acontecido, teve um fato no Rio de Janeiro em que um adolescente acusado de furtos foi capturado por algumas pessoas, espancado, deixado nu e acorrentado a um poste. Daí houve opiniões a favor, opiniões contra, uma coisa muito polarizada. As manifestações de rua continuam acontecendo no país, a primeira morte relacionada diretamente a esses episódios, de um cinegrafista da TV Bandeirantes, e também muitas discussões sobre a razão pela qual isso ocorreu. Por que está havendo essa polarização tão grande no país no momento?
Claro que sempre é possível você buscar interpretações mais profundas e é necessário que se faça. Mas eu acredito que nós temos uma dinâmica muito forte, uma alteração muito forte no comportamento da população, que não vem só do acesso à informação, todos estão com uma televisão, um jornal online na mão.

Mas o que o senhor achou desses dois episódios que eu citei, da morte do cinegrafista e do rapaz, do adolescente preso a um poste?
Acho que são duas coisas diferentes. Há um desalento, quando você tem uma sociedade que vai avançando economicamente, ainda que não na velocidade que você quer, você tem alguns termos que você tem que enfrentar. Veja, estamos falando de educação em tempo integral, alguns estão falando. Tem que ter dinheiro pra fazer, e você vê, não está acontecendo hoje, mas tem um processo, tem um fluxo. A primeira infância tinha direito a educação, então você tem que construir unidades educacionais para a pré-infância, saúde é um grande problema e você tem algumas reações, [programa] Mais Médicos e tal. A questão do emprego não é um grave problema, a não ser a questão da juventude, que aí eu seccionaria para analisar o segundo caso, e também esse primeiro. Porque se tratava, parece que era um adolescente.

Você acha que as pessoas têm o direito de fazer o que fizeram?
Não, não têm o direito. Agora, há um desalento da população com relação à segurança pública. Nós não estamos, a esquerda principalmente, sempre fizemos um discurso que primeiro tem que construir escola e depois presídio. O Brasil não tem mais isso, tem que construir escola e também presídio. O preso não pode ser condenado à barbárie, ele tem que ser condenado a ser preso, tem que ser tirado de circulação, mas ele não pode ser colocado para ser estuprado e arrebentado dentro de um cárcere como está acontecendo. Nós estamos enfrentando de forma muito lenta a questão carcerária e a questão da segurança pública no Brasil. Então tem alguns avanços, no próprio Rio de Janeiro, acredito que o modelo que o Rio de Janeiro encontrou que junta um pouco de política pública, um pouco de polícia humanitária, mas tem que ter repressão forte. Porque se as pessoas não acreditam nisso, que a polícia não vai chegar, que a guarda civil não existe, elas vão tomar a justiça pelas próprias mãos, isso que acontece alguns momentos.

E isso o senhor acha ruim?
É muito ruim. O outro caso me parece que há subgrupos que se apresentam na manifestação sem nenhuma causa clara, mas com um único objetivo de fazer aumentar a tensão social. Talvez até com a aparente compreensão de “ó, vamos aumentar a tensão social”, eu mesmo achava isso quando era adolescente. Minha mãe era voluntária de um grupo de assistentes sociais, espírita, ela fazia assistência social, eu falava para minha mãe, eu tinha 17 anos, “a senhora está acomodado o capitalismo, tem que deixar aumentar a tensão pra gente fazer a revolução”. Era uma visão. E tem jovens que...

O senhor não pensa mais assim hoje?
Não, eu não penso. Acho que nós estamos em um processo que temos que fazer as transformações todos os dias. Todo mundo fica um pouco mais flexível ao longo do período. Mas analisando hoje a dinâmica, não só no Brasil, nos outros países, não existe mais isso. Você tem que necessariamente fazer com que a vida das pessoas melhore e as pessoas se realizem mais como pessoas, e o Estado tem função nisso. E é isso que me encantou no PT, por conta dessa visão de que, no processo você vai aprimorando as relações e as pessoas também vão sendo mais gente, tendo mais cidadania.

Como que o PT durante a campanha eleitoral deste ano, o país todo e a própria presidente Dilma que deve concorrer à reeleição, devem responder a essas manifestações que aparentemente vão continuar, com maior ou menor intensidade?
Eu não acredito naquele volume das manifestações. Eu estava lá no Congresso, estava na Presidência nesses dias, estava lá frente a frente, nos dois dias, nos dois momentos, o momento mais tenso quando eles subiram na abóboda, realmente ali foi o momento mais difícil, mas eu vi naquelas manifestações uma espontaneidade de um público majoritariamente jovem que não tinha uma pauta definida, era difusa, mas tinham várias pautas, tinham várias pautas, um aprimoramento no sistema de saúde, educação, enfim, a juventude, na minha opinião, pleiteia algo que o Brasil precisa de fato, a qualificação dos empregos, porque tem muito emprego, mas o custo de vida está muito alto também, o acesso às políticas públicas e mesmo aos planos de saúde então. Isso em especial Brasília, você sabe o custo de vida aqui.

Eu acredito que temos que dialogar com as manifestações, ver como algo normal, sempre quando tem o grupo G-20 lá, em Davos, cada vez mais o aparato de segurança é muito forte, quando tem um encontro de cúpula de países, e tem manifestação e tem quebra pau, então a polícia tem que se especializar em conter, em garantir a segurança de todos, mas vamos tratar como algo normal. O PT surgiu, eu não estou dizendo que o PT tem que estimular essas manifestações, porque tem um segmento da população que não está presente nessas manifestações, tem um segmento que deva ter seus motivos para manifestar, mas está em outra frente, com outra perspectiva, e você tem que dialogar com naturalidade, com normalidade, mas com ordem.

Porque veja, esses meninos, dos chamados black blocs, me parece algo que beira o crime, a manipulação de jovens, jogando, numa pressão, contra a polícia ou contra as instituições, e que expõe. Foi um jornalista, mas poderia ser um desses meninos que deve ter pai, que deve ter mãe e que deve saber será se ele tem clareza do que ele tá desempenhando ali? Então por isso que a polícia tem que agir com inteligência, sofisticação que hoje está sendo exigido das forças de segurança em relação às manifestações. E a Copa tem que acontecer normalmente, vai ser uma grande festa e se ganhar o título então... Melhor.

E se não ganhar?
Se não ganhar vamos tocar a vida porque nós ganhamos algumas e perdemos outras. Nós perdemos uma aqui no Brasil, aliás, quando se vai fazer Copa, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar a construção dos estádios é polêmica. Na África do Sul foi assim, disseram que não iam fazer a Copa, fizeram. Disseram que ia ficar muito caro, foi feito. E a África do Sul não se tornou um país pior depois da Copa, se tornou um país melhor depois da Copa do Mundo. No Brasil em 50 também se discutia, quem vai colocar o recurso no Maracanã, isso é uma polemica salutar e cada vez mais normal porque tem transparência, as pessoas ficam sabendo e isso é muito bom.

Vamos falar um pouco mais de política. O PMDB que é um partido aliado ao governo federal é o aliado preferencial do PT na disputa presidencial, até porque o candidato a vice-presidente deve repetir o de 2010, sendo o atual vice, Michel Temer, tem reclamado o PMDB por se sentir desatendido na atual fase da reforma ministerial.
O que não é incomum, né?

O que está acontecendo com o PMBD e o PT?
Não é o PMDB e o PT. É o PMDB e o governo. É claro que o governo, sendo de uma petista... Nós, do PT, temos uma ótima relação com o PMDB no Congresso, uma ótima relação com o PMDB no Senado. Aliás, no Senado é que mudou muito, já teve tensões maiores. Ocorre que, essa é a minha opinião, o PMDB é um partido grande, um partido que, na medida em que você tem vários espaços também as divisões aparecem mais claramente, o que é normal. Se o PT fosse o partido aliado também teria as divisões, qual grupo foi atendido, qual grupo não foi atendido. E me parece que está havendo um pouco de inabilidade do governo. Eu reputaria...

De quem, da presidente Dilma Rousseff? O governo é ela.
O staff político.

Mas ela é que dá as ordens, a gente ouve falar que ela manda muito.
Eu também já ouvi falar. Me parece que...

Então ela tem responsabilidade?
Não, todos temos responsabilidade. Todos temos que construir a melhor relação com o PMDB. Porque o PMDB é um partido importante e tem o vice-presidente da República. Tem uma chapa. Vai ter dois candidatos, a Dilma e o Michel [Temer]. Nós temos interesse em fazer o máximo de voto possível para que essa chapa seja vitoriosa.

Mas por que o PMDB tem reclamado, e sobretudo a ala da Câmara dos Deputados do PMDB tem dito que se sente desassistida e que prefere nem mais falar nada a respeito de como participar do governo?
Veja, eu convivo naturalmente, pelas minhas funções, com o PMDB da Câmara. Muito cotidianamente. A queixa do PMDB é de que eventualmente seus nomes não estavam sendo atendidos, a exigência em relação aos seus nomes era demasiada. “Ah, esse não serve, aquele não serve”. Veja. A presidenta tem que ser blindada, a presidenta é a presidenta da República. Tem que haver a sondagem primeiro, ver as alternativas. O PMDB tem um leque grande de alternativas, de ex-ministros, de ex-governadores.

O PMDB da Câmara deu, no segundo período depois das manifestações, nós tínhamos 130 deputados votando com o governo. Você se lembra? A base ruiu. O PMDB nos ajudou muito no segundo semestre. Votamos matérias importantes. Votamos o Orçamento, ao final. Votamos a alteração no Plano Plurianual e na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], que impactam no superávit primário, redistribuindo justamente o superávit primário para os Estados.

Mas o que que está acontecendo com a articulação?
Eu acho que nós temos uma articulação ainda ineficiente, e quando digo isso assumo a responsabilidade.

E por que que ela é ineficiente? Por que a presidente não opera uma mudança nisso?
Aí é uma questão da presidenta. Como você disse, ela toma as decisões. E não me parece que é uma questão de nomes, me parece mais uma questão de estilo. Nós, parlamentares, não somos acionados para ajudar nessa interlocução.

A gente ouve dizer que a presidente Dilma Rousseff não se dá bem, não tem boa relação com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, que é deputado federal do PMDB do Rio de Janeiro. É isso mesmo?
Eu não perguntei para a presidenta e ela nunca me disse nada. Do ponto de vista do Eduardo, o que eu tenho falado com o Eduardo, ao final do governo, a relação estava sendo aprimorada, vamos dizer assim. Estava num momento de aproximação grande no final do ano. E voltou agora com esse nível de tensão.  Tem aspectos que têm a ver com o governo e tem aspectos que têm a ver com a visão também de que parte do PMDB quer apoiar nacionalmente e também se ver livre nos Estados, para fazer a composição que quer. Se quer apoiar fulano, se quer apoiar sicrano. Se não apoia a chapa nacional, se apoia e faz acordo com o Eduardo Campos. Enfim, também tem isso. Eu acredito que nós vamos chegar a um entendimento.

Como eu disse, nós somos membros do Congresso Nacional e estamos prontos, muitos de nós, você conhece, o deputado [José] Guimarães [PT-CE], eu, o ex-líder [Cândido] Vaccarezza. O próprio Arlindo [Chinaglia]. Nós temos muita relação, até pelas relações cotidianas e pessoais no Congresso Nacional, e podemos ajudar o governo. Ir ver, e fazer as sondagens, as sondagens informais, nesse momento de composição de governo, as sondagens informais elas deixam de expor a presidenta da República a uma situação de tensão.

A presidente da República, ela própria, costuma ligar para os senhores?
Não, não acontece.

O ex-presidente Lula, quando presidente, costumava ligar para alguns deputados?
Também não. Também não era assim.

Mas havia uma abordagem diferente na época do ex-presidente Lula?
O seu gabinete estava todo dia fazendo o colchão, cotidianamente, no Congresso Nacional. A ministra Ideli [Salvatti] [das Relações Institucionais] faz isso também. Ela se esforça por fazer isso. Tenta fazer. Mas para ela tem que ser delegado um trabalho que é de formatação do governo.

Quem o senhor acha que vão ser os candidatos mais competitivos contra a presidente Dilma Rousseff na oposição?
Eu sou daqueles que acha que o PSDB ainda tem, por mais que seu candidato me parece que ainda não está com seu staff montado, porque às vezes fica opinando sobre vários assuntos ao mesmo tempo... Quem está mais focado é o Eduardo Campos, o mais profissionalizado, vamos dizer assim, que entra no debate nacional com maior precisão, vamos dizer assim. Se olhar o desempenho pessoal dos candidatos, Eduardo Campos. Se olhar a estrutura partidária, Aécio Neves tem uma estrutura partidária grande.

Todos os dois têm crises a serem administradas grandes, principalmente essa questão dos palanques regionais. São Paulo, por exemplo, essa situação do PSB se vai junto ou não vai, se vai ter candidato ou não vai. O Aécio Neves percorre São Paulo e o [governador Geraldo] Alckmin não vai estar junto. Eu acho que eles são equivalentes. Acho que uma coisa e a outra eles são equivalentes. São candidatos que têm um desafio grande. Agora, eles têm uma necessidade, os dois, de fazer, cada um, um quarto dos votos da nação.

Agora há ainda dúvidas também em relação à solidez da liderança hoje que as pesquisas mostram para a presidente Dilma Rousseff quando chegar mais adiante na campanha. Há quem duvide que essa solidez possa ser segurada e há evidente os que acham que não, que pode até ganhar no primeiro turno. O senhor acha que há uma solidez já da candidatura da presidente Dilma Rousseff a ponto de até permitir uma vitória no primeiro turno?
Eu acho que solidez tem, e ela vai liderar durante todo o processo, na minha opinião, com em torno de 40% dos votos, 40%, 42%. E nós vamos ter uns 20% de indecisos até mais à frente.

[Vence no] primeiro turno?
Não, eu acredito que nós vamos chegar próximo. Acho que vamos ter segundo turno no Brasil. O Lula teve, duas vezes, a presidenta... O PT está preparado para enfrentar dois turnos. Olhando os candidatos concorrentes, porque também toda eleição você tem que ver o que está disponível. Muitos brincam que o Lula é um candidato forte, que é um reserva muito forte.

Ele é?
Ela não é reserva porque ele não é candidato. Está apoiando a Dilma e vai agir para isso, e vai ser um cabo eleitoral importantíssimo.

Mas, eventualmente, se chegar em junho, momento realmente da decisão, e houver dúvidas fundadas a respeito da capacidade do projeto Dilma-Temer vencer... em junho, [se houver] muita dúvida, a possibilidade de Lula vir a ser candidato existe, muito dos seus colegas falam.
Eu não acredito nisso. Eles falam, falam para mim, falam para vocês, e eu não acredito.

Mas o senhor ouve isso?
Eu ouço isso, mas sou daqueles que têm a seguinte visão: o presidente Lula está...

Mas por que ele não seria candidato se houvesse risco de Dilma perder?
Risco de perder toda eleição tem.

Mas tem risco maior e risco menor.
Mas eu acho que vai ser um risco pequeno. O cenário não é esse. O cenário... Nós não teremos um sobressalto grande na economia, nem para crescimento grande nem para recessão. Nós não teremos um sobressalto grande. Não teremos um sobressalto, analisou uma pesquisa aqui, em relação à inflação –aliás, a inflação está mais ou menos na meta, até está melhorzinha do que outros períodos aí. Nós não teremos uma... Todas as manifestações acho que elas vão acontecer em tom médio, acho que esses atos de violência afastam os legítimos manifestantes do outro período, comparando com junho. Acho que afasta.

Na prática os nossos concorrentes têm muita confusão para administrar entre eles. Entre eles e, quando digo entre eles, é: permanece a crise em São Paulo. O governador Alckmin não anda com o Aécio, não está andando com o Aécio. E trabalha por um duplo palanque que, na prática, é estimulado por José Serra. Que, na minha opinião, tem um foco de cuidar da vida e deixar que Aécio cuide de vida dele. Mais ou menos como aconteceu nas últimas eleições do Alckmin. Então é uma situação de tensão grave no maior colégio eleitoral. Não tem palanque. Eles têm dificuldade de montar um palanque no Rio e vão ter uma candidatura duvidosa em Minas Gerais. O Aécio é forte em Minas Gerais e deve ter...Mas já aí o Eduardo Campos não tem o palanque. No Nordeste, não está livre para o Eduardo Campos. Ele tem dificuldade no Ceará, tem dificuldade na Paraíba, tem dificuldade grande na Bahia. De montar o seu palanque. O próprio Aécio também tem dificuldade. Então não está simples também a situação dos nossos concorrentes.

Isso quer dizer que está tudo aberto?
Tudo aberto, e veja, não tem uma situação consolidada de quem vai polarizar de fato com a presidenta. É claro que preparar para a eleição de dois turnos sabendo que nós temos que fazer o máximo de voto possível para chegar muito perto, o mais próximo possível da taça. E aí no segundo turno, levar a taça.

Deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara dos Deputados, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Eu que agradeço, e parabenizar pelo trabalho de fundo, de debate sobre esse tema tão importante que é a política nacional.