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De Sarney a Suplicy, veteranos dão adeus com choro, desabafo e elogio de ex

Do UOL, em São Paulo

19/12/2014 06h00

As últimas semanas da atual Legislatura foram marcadas por várias despedidas de veteranos do Congresso Nacional, como os senadores José Sarney (PMDB-AP), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS) e o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara dos Deputados. Nas sessões que marcaram as saídas dos parlamentares, houve choro, desabafo, autocrítica e até elogios de ex-mulher.

Sarney arrependido exalta Maranhão

Sarney deixa a política após 60 anos, 24 deles cumpridos no Senado Federal. Em discurso nessa quinta-feira (18), o ex-presidente criticou a mídia, que, segundo ele, não reconhece os avanços ocorridos no Maranhão, seu Estado natal, que ele disse estar na “vanguarda” do país. “Nossa mídia faz parecer que o Maranhão é exemplo de um crescimento menor, mas na realidade, ele está numa vanguarda", disse, a um plenário vazio.

O senador criticou o atual sistema político e fez uma longa defesa da reforma política. Nesta declaração, referiu-se à ditadura militar como “revolução”. "Acabaram as lideranças no Brasil. Talvez a coisa pior que a revolução fez no Brasil foi ter acabado com os partidos no Brasil.”

Saio feliz, sem nenhum ressentimento, diz Sarney em despedida

No discurso, Sarney ainda fez uma mea culpa tardia, ao se dizer arrependido de ter assumido cargos públicos após ter sido presidente da República. Segundo ele, é preciso proibir ex-presidentes de assumir cargos públicos, até mesmo os eletivos, após deixarem o comando do país.

"Até fazendo uma mea culpa, arrependimento. Penso que é preciso proibir que ex-presidentes ocupem qualquer cargo público mesmo que seja cargo eletivo. Nos EUA é assim e eles passam a ter uma função que é uma função que serve ao país. Eu me arrependo, eu acho que foi um erro que eu fiz ter voltado depois de presidente à vida pública e esse arrependimento me trouxe a convicção de isso é uma das coisas necessárias", disse Sarney.

Ao falar sobre seu tempo na Presidência, Sarney disse ainda ter "cicatrizes que ainda sangram" referentes ao período em que governou o Brasil (1985-1990). "Só Deus é testemunha do que isso me custou e das cicatrizes que ainda hoje sangram", disse.

Suplicy: elogios de Marta e críticas ao PT

Na última quarta-feira (17), em sua sessão derradeira após 24 anos ininterruptos de Senado, Suplicy foi bem mais prestigiado que o colega maranhense. Depois de um longo discurso, proferido quase sem pausas, no qual relembrou sua trajetória na Casa, o senador foi homenageado com apartes de  vários colegas, entre eles os oposicionistas Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes (PSDB-SP), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Em vários momentos Suplicy conteve-se para não chorar. Após ser elogiado pela ex-mulher, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), ficou com a voz embargada.

“Quero parabenizá-lo pela determinação na busca pelos seus ideais de vida. Isso o caracteriza como um parlamentar que sempre foi extremamente coerente, determinado, competente atrás dos seus ideais”, disse a senadora. “Quero desejar boa sorte e que tudo continue muito bem na sua vida. Parabéns”, concluiu.

“Querida senadora Marta, quem sabe estejam nossos filhos, Eduardo, André e João, vendo ou ouvindo essas palavras generosas de vossa excelência. Por toda parte onde caminho em São Paulo, sobretudo nas áreas mais carentes, sou testemunha da admiração e respeito que vossa excelência granjeou”, respondeu Suplicy.

Derrotado por José Serra (PSDB-SP) nas eleições, Suplicy associou sua derrota a um “tsunami” imposto sobre o PT em São Paulo. “Todos nós, do PT, especialmente em São Paulo, precisamos estar atentos e pensar porque houve esse verdadeiro tsunami e como vamos procurar corrigir eventuais erros que aconteceram para que possamos ter bastante sucesso nas próximas eleições. Mas é da democracia, e temos que enfrentar.”

Contrariando expectativas, Suplicy concluiu seu discurso final sem cantar, como fez em vários momentos no Senado.

O choro de Henrique Alves

Diferentemente de Suplicy, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, não segurou o choro durante a despedida da Casa, na noite de terça (17). Há 44 anos na Câmara, o parlamentar recebeu homenagens de governistas e opositores.

Líder do PT, Vicentinho (SP) afirmou que “vai ter a Câmara antes e [a Câmara] depois de Henrique Eduardo Alves”. O tucano Nilson Leitão (MT) disse que “a história da Câmara se confunde com a história de Alves.”

Aos prantos, o presidente da Casa tirou os óculos, limpou as lágrimas com um lenço, mas não se manifestou. Alves disputou as eleições para o governo do Rio Grande do Norte e acabou derrotado por Robinson Faria (PSD).

Henrique Alves - Folhapress - Folhapress
Henrique Eduardo Alves chora ao despedir-se
Imagem: Folhapress

Pedro Simon defende Joaquim Barbosa

Realizada no último dia 10, a sessão de despedida de Pedro Simon durou cerca de quatro horas, em razão das sucessivas interrupções para homenagens dos colegas. O senador gaúcho, de 84 anos, deixa a política após 60 anos, 27 deles no Senado, após não ter conseguido a reeleição --Lasier Martins (PDT) sagrou-se vitorioso no Rio Grande do Sul.

No discurso, Simon exaltou os que combatem a corrupção e saiu em defesa do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa e de Sérgio Moro, juiz da Operação Lava Jato. "Bem-aventurado Joaquim Barbosa. Bem-aventurado Sérgio Moro. Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade. Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política”, afirmou.

Ao lado da família, Simon também chorou enquanto era homenageado pelos colegas. 

Pedro Simon - Geraldo Magela/Agência Senado - Geraldo Magela/Agência Senado
O senador Pedro Simon (PMDB-RS)
Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado