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Amplitude é mais valiosa que quantidade de pessoas em atos, dizem analistas

Manifestantes se reúnem em São Paulo para pedir o impeachment da presidente Dilma - Junior Lago/UOL
Manifestantes se reúnem em São Paulo para pedir o impeachment da presidente Dilma Imagem: Junior Lago/UOL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

16/03/2015 07h00

Ao menos 2 milhões de pessoas protestaram contra o governo federal neste domingo (15) em todos os Estados do país, além do Distrito Federal, segundo dados das PMs locais. Para especialistas ouvidos pelo UOL, entretanto, mais do que o número de pessoas, o que é importante de analisar é que as manifestações conseguiram ter uma grande amplitude nacional, o que dá força à voz das ruas.

Para Ricardo Ismael, cientista político da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio e coordenador do Laboratório de Pesquisa Governo, Desenvolvimento e Equidade, a qualidade é mais importante que a quantidade de pessoas em um protesto.

"Foi uma dos maiores protestos da história. As Diretas Já levaram muita gente às ruas, o impeachment de Collor também. O que tem importância nos protestos de hoje é que tiveram amplitude nacional. A questão de uma analise quantitativa é bobagem, o que vale é a qualitativa", disse Ismael.

O cientista político afirmou que o poder de mobilização causou surpresa a todos. “De fato tivemos uma manifestação que superou as expectativas de todos. Nem os próprios líderes esperavam isso. Os protestos colocam uma questão para o governo, que terá de mudar alguma coisa, falar sobre isso, não pode fingir que não houve nada. A outra pergunta que fica é: vai parar por aí ou teremos mais?”, questionou.

Alberto Saldanha, historiador da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), também acredita que a dimensão de um protesto não pode ser analisada apenas pelo público que vai às ruas.

“Esse critério de maior protesto depende muito do gosto do freguês, é algo relativo. Já houve manifestações gigantes que ocorreram em épocas diferentes. Hoje você tem toda uma rede que possibilita essa mobiliação. Em função da tecnologia, podemos considerar que as anteriores foram maiores, que não tiveram essa influência e conseguiram mobilizar milhares”, afirmou.

Para o historiador, o movimento atual ainda se mostra pouco homogêneo --com líderes não se entendendo--, o que também diminui a força histórica da manifestação. “As manifestações das Diretas Já, pela saída de Collor foram mais fortes. Parte disso porque elas tinham um foco mais direto, concreto”, analisou.

Para o jurista e coordenador do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), juiz Márlon Reis, os protestos deste domingo foram gigantes porque vão além da revolta com o atual governo federal.

“Há uma sensação de descrédito nas instituições democráticas, especialmente no Congresso Nacional, cujos membros estão em grande parte envolvidos em escândalos. Engana-se quem atribui a mobilização popular de hoje à liderança de partidos. No cenário atual, todos os partidos estão na berlinda”, afirmou o juiz.