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2015, um ano difícil para o PT

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

01/01/2016 06h00

É consenso entre analistas e integrantes da política partidária brasileira: 2015 foi um ano particularmente difícil para o PT.

Atingido por sucessivas crises, o partido sofreu desgastes provocados pela prisão de nomes importantes da legenda por corrupção, como o senador Delcídio do Amaral e o tesoureiro João Vaccari Neto, pelas revelações da operação Lava Jato, pela alta reprovação à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, pelas dificuldades na economia e pela insatisfação da própria base social com os rumos do governo.

Agravado pelo acolhimento de um pedido de impeachment contra Dilma no Congresso, no início deste mês, o atual cenário político anuncia um 2016 pouco previsível, mas com prognósticos eleitorais pessimistas. Para cientistas políticos ouvidos pelo UOL, este ano pode ter marcado o fim de um ciclo para o Partido dos Trabalhadores.

"O PT já é considerado um capítulo da história política recente do Brasil, mas não acredito que ele ainda possa ser um fator de inovação", opina Michel Zaidan, professor e da coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). "Ele já deu a sua contribuição, como o PSDB e o PMDB também já deram", completa.

Para Zaidan, o partido está no seu anticlímax, "recolhendo não os louros" das realizações de 13 anos no poder, "mas os espinhos". "Acredito que o PT não sairá incólume do fim desse processo. Mas o mais grave é sair com um arranhão grande na sua biografia política", conclui.

Ex-governador do Rio Grande do Sul e ministro das Cidades no primeiro governo Lula, Olívio Dutra é um dos fundadores do partido, que celebrou os 35 anos de criação em fevereiro. Duro em suas declarações, o gaúcho diz que o cúpula do partido precisa fazer uma autocrítica "séria e profunda" e deve um pedido de desculpas à sociedade brasileira.

"Este ano realmente mostrou a debilidade do PT no que diz respeito a sua relação com o projeto estratégico de um partido que não surgiu de cima para baixo e foi se deixando envolver em um projeto político que nada tem de transformador, que na verdade é uma imitação desqualificada da política tradicional, contra a qual sempre nos opomos", declara Olívio. "Muitas pessoas ingressaram no PT porque viram a possibilidade de chegar ao poder, e o partido foi deixando isso acontecer".

Desapontados com a mudança na agenda no início do segundo mandato, em decorrência da crise econômica, militantes do partido deram logo no primeiro dia do ano, durante a posse de Dilma, mostras do distanciamento e o desprestígio do partido com suas bases sociais. Após o PT ter dito que tentaria trazer cerca de 30 mil pessoas para assistir à cerimônia, apenas 6.000 apareceram na Praça dos Três Poderes.

Apesar da decepção evidenciada quando diz que o partido virou "exclusivamente institucional", o petista credita a essas bases um papel fundamental em uma possível recuperação dos princípios que nortearam a criação da legenda. "Devem e têm condições de se reanimar, de reincendiar um processo de cidadania importante. O PT pode não liderar esse processo, mas tem que fazer parte", afirma.

O cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, diz que as eleições do ano que vem podem responder "qual foi o tamanho do estrago". "Para que o PT possa ter alguma chance, vai depender de Lula e de algumas figuras como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad", opina. Ele destaca ainda que existe uma crise no sistema partidário, que chama atenção desde as manifestações de 2013, "muito maior que somente o PT".

Mas por que o Partido dos Trabalhadores parece ser o mais atingido? "Certamente há um cansaço com o partido, por estar há muito tempo no poder, mas o problema maior é de outra natureza. Em 1992, o PT foi às ruas cobrando a queda de Collor por conta da corrupção, pela ética na política. A impressão é que aquele discurso foi jogado fora, e isso atinge a duramente a imagem do partido".

No início do ano, a senadora Marta Suplicy deu uma entrevista criticando o próprio partido e afirmou que "ou o PT muda ou acaba". Meses depois, ela se desfiliou da legenda e divulgou vídeo no qual disse que o partido "acabou se desviando do caminho e se contaminando com o poder". Ela se filiou ao PMDB e pretende disputar a prefeitura de São Paulo em 2016.

 

Com a experiência de ter participado da fundação em 1980 e de ter cumprido três mandatos como senador pelo partido, Eduardo Suplicy é categórico: "este foi o ano mais difícil da história do PT".

"Houve alguns erros graves e alguns gravíssimos. Todos eles nos machucaram muito. Foi muito difícil, especialmente por causa de tudo que apareceu na operação Lava Jato. Acredito que a responsabilidade de cada um deve ser apurada para prevenir e corrigir os problemas", diz o ex-senador, hoje secretário de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.

"Devemos procurar agir da forma mais correta e condizente com os propósitos que nos fizeram fundar e acreditar no partido", conclui.