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Roberto Romano: Ação contra Lula pode radicalizar Brasil e prejudica Dilma

Manifestantes entram em confronto em frente à casa de Lula

UOL Notícias

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

04/03/2016 11h02Atualizada em 04/03/2016 17h19

“Essa ação contra o Lula pode radicalizar o Brasil.” A afirmação é do professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano. Em entrevista ao UOL, Romano diz que a ação da Polícia Federal nesta sexta-feira (4) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode “criar uma frente de tensão social” muito grande e que o projeto de uma eventual candidatura de Lula à Presidência da República em 2018 é hoje “muito improvável”.

No início da manhã desta sexta-feira, agentes da PF cumpriram um mandado de condução coercitiva contra o ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo, em São Paulo. O mandado de condução coercitiva é um tipo de ordem judicial que obriga o alvo a ser levado pela polícia para prestar esclarecimentos. A ação da PF fez parte da 24ª fase da Operação Lava Jato, que investiga desvios de recursos de estatais, como a Petrobras, e o pagamento de propina a agentes públicos, políticos e partidos.

Para Roberto Romano, a ação da PF contra Lula tem um caráter histórico. “É inédito. É a primeira vez que se vê isso no país. O Brasil já teve presidentes depostos e que foram presos por conta da deposição. Mas um presidente conduzido pela polícia por conta de investigações de corrupção é a primeira vez”, afirma. 

Roberto Romano - Flávio Florido/UOL - Flávio Florido/UOL
O filósofo e professor de ética e política da Unicamp Roberto Romano
Imagem: Flávio Florido/UOL

Romano mostrou-se preocupado com os efeitos colaterais da operação contra o ex-presidente. “É um marco que pode ser positivo se a Justiça e o meio político tiverem capacidade de deglutir isso. Caso contrário, vejo que é possível criar uma frente de tensão muito forte. Os seguidores do Lula não ficarão calados. Podemos ter um embate muito mais radical”, explica.

O professor da Unicamp avalia que a condução coercitiva da qual Lula foi alvo “não foi uma medida drástica” diante das investigações e que as tentativas do ex-presidente de tentar evitar depoimentos e de desqualificar o trabalho da Operação Lava Jato podem ter precipitado a ação da PF.

“Não foi uma medida drástica. Ele tentou evitar os depoimentos, tentou intimidar os investigadores dando declarações que desqualificavam a operação. Essa troca do ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo deixou o cargo nesta semana alegando que setores do PT queriam mudanças na sua gestão], tudo isso pode ter precipitado a ação da PF”, avalia Romano.

O filósofo e professor diz ainda que uma das maiores prejudicadas com a ação desta sexta-feira é a presidente Dilma Rousseff (PT).

“Não é segredo para ninguém que a Dilma nunca teve voo político autônomo. Ela dependia do Leonel Brizola quando estava no PDT e do Lula quando foi para o PT. Se essa operação chegou a esse ponto, é um golpe gravíssimo para ela. Ela fica sem orientador e tutor. É um problema seriíssimo”, analisa.

A oposição se beneficia?

O filósofo avalia que, apesar de travar uma disputa política intensa contra Dilma e o PT, a oposição não deve ser beneficiada diretamente com a ação da PF contra Lula.

“A oposição não tem estratégia nem está preparada para lidar com isso tudo. Não tem massas. Quem pode ganhar com isso não é a oposição, mas alguns setores mais radicais, sobretudo na direita. Em meio a todo esse cenário, personagens folclóricos como um Jair Bolsonaro (PSC-RJ) podem surgir com mais força”, explica.

Romano avalia que, apesar de ação contra Lula ser um "golpe dolorido" em Lula, sua "aura de intocável" não será completamente destruída.

"O Lula sempre usou uma estratégia curiosa toda vez que foi alvo de alguma coisa. Em alguns momentos, ele surgia como o Lula forte, grandão, e criticava as ações contra ele. Em outros momentos, ele bancava o Lula coitadinho, vítima de tudo. Sempre foi assim desde os tempos de sindicalista. Essa ação [da PF] pode fazer com que o Lula coitadinho fique ainda mais evidente com o discurso de que ele está sendo perseguido por ter sido o único presidente operário, o criador do Bolsa Família", diz Romano. 

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