Citado em gravações de Machado com Jucá e Renan, Aécio mantém silêncio
O silêncio foi a estratégia adotada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) em relação às gravações feitas por Sérgio Machado envolvendo o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Aécio é citado nestas e também nas que envolvem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"Aécio está com medo", disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RJ). "O primeiro a ser comido vai ser o Aécio", declarou o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que completou: "o Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio?". "Caiu [a ficha]. Todos eles. Aloysio, Serra, Aécio", falou o senador Jucá.
Desde a divulgação de gravações realizadas por Machado pelo jornal "Folha de S. Paulo", na segunda-feira (23) e nesta quarta (25), Aécio não se manifestou. As citações ao presidente nacional do PSDB levaram o partido a divulgar duas notas negando qualquer acusação envolvendo o mineiro. Na segunda, informou que irá processar o ex-presidente da Transpetro, cuja delação foi homologada no STF (Superior Tribunal Federal). Aécio, entretanto, se calou.
Nesta quarta, o UOL solicitou entrevista com o senador à Executiva Nacional da legenda e ao seu assessor de imprensa, que no meio da tarde informou que o senador estava prestes a entrar em um voo e avisou que retornaria a ligação. Até a publicação deste texto, a reportagem tentou entrar em contato com ele em outras três vezes, sem sucesso. Em sua página no Facebook, limitou-se a compartilhar dois posts do PSDB com as notas.
Entre esta terça e a madrugada de quarta, Neves participou da longa e conturbada sessão na qual o Congresso aprovou, em votação simbólica, a revisão da meta fiscal com a elevação do deficit primário para R$ 170,5 bilhões. Na ocasião, também não deu declarações públicas.
Após a divulgação de sua citação a Aécio, Renan Calheiros divulgou nota se desculpando com o tucano, e disse ter se expressado "inadequadamente". Segundo ele, o senador mineiro expressou "indignação, e não medo" com a delação de Delcídio. A explicação foi similar à da nota do PSDB.
Em entrevista na segunda-feira, dia em que foi forçado a se licenciar do cargo por conta da repercussão da gravação de Machado, Romero Jucá foi questionado sobre o que seria o "esquema" de Aécio, e disse que a conversa se referia à "costura política" da qual ele fez parte para eleger Aécio Neves como presidente da Câmara, em 2001.
"E ele (Machado) disse: 'Você se lembra quando a gente ajudou o Aécio na eleição?'. Ele (Machado) disse: 'Nós ajudamos o Aécio pra eleger o presidente da Câmara porque fizemos acordo na Câmara'. A gente realmente teve uma costura política grande, mas nós conseguimos, eu era vice-líder do PSDB também. Esse foi o contexto dessa conversa", acrescentou.
Sérgio Machado não foi localizado pela reportagem do UOL.
Inquéritos no STF
O nome do ex-governador de Minas Gerais também ficou em evidência nesta quarta por conta da decisão do ministro do STF Gilmar Mendes de enviar à PGR (Procuradoria-Geral da República) o segundo pedido de abertura de inquérito feito ao tribunal para investigá-lo, baseado na delação do senador cassado, Delcídio do Amaral.
Mendes tomou a medida depois de receber explicações apresentadas pela defesa do senador. Antes de avaliar se autoriza ou não a apuração, ele quer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, avalie se mantém o requerimento. Segundo os advogados de Aécio, não há elementos que justifiquem o inquérito.
A PGR pretende investigar a suspeita levantada por Delcídio de maquiagem de dados do Banco Rural, obtidos pela CPI dos Correios, em 2005, para esconder o escândalo que ficou conhecido como o mensalão tucano. O pedido de inquérito também tem como alvos o prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) e o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
No último dia 12, menos de 24 horas depois de autorizar a abertura de um inquérito contra Aécio, Mendes acatou a argumentação da defesa do tucano e suspendeu a fase de coleta de provas sobre o seu suposto envolvimento no esquema de propina ligado a Furnas.
Em sua delação, Delcídio disse ter conhecimento da existência de um esquema de corrupção na hidrelétrica, do qual o senador tucano teria sido beneficiário. Segundo Gilmar, os advogados de Aécio conseguiram demonstrar que não há elementos novos que justifiquem a instauração de um inquérito. "A petição do parlamentar pode demonstrar que a retomada das investigações ocorreu sem que haja novas provas, em violação ao art. 18 do CPP e à Súmula 524 do STF", afirmou o ministro.
Veja abaixo os trechos das gravações em que o senador tucano é citado:
SÉRGIO MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
ROMERO JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[...]
MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...
MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
[…]
MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
JUCÁ - É, a gente viveu tudo.
[…]
SÉRGIO MACHADO - É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.
RENAN CALHEIROS - [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...
MACHADO - [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do...
RENAN - Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
MACHADO - Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.
RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.
MACHADO - Acaba isso.
[…]
RENAN - Estamos perdendo a condição política. Todo mundo.
MACHADO - [inaudível] com Aécio. Você está com a bola na mão. O Michel é o elemento número um dessa solução, a meu ver. Com todos os defeitos que ele tem.
RENAN - Primeiro eu disse a ele, 'Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala'.
MACHADO - [inaudível] Negócio do partido.
RENAN - Foi, foi [inaudível] brigar, né.
MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
[…]
MACHADO - E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.
RENAN - E tudo com medo.
MACHADO - Renan, não sobra ninguém, Renan!
RENAN - Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'
MACHADO - Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.
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