O papel de Dilma no dia D de Lula
Antes de prestar depoimento, Lula foi ao encontro da militância que se aglomerava nas ruas de Curitiba na companhia dos escudeiros Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, senadores do PT, e de João Pedro Stédile, líder do MST. Dilma Rousseff não apareceu nas fotos. Também não integrou a comitiva que saiu de Brasília para acompanhar o petista.
Ela saiu de Porto Alegre num voo de carreira da Azul. Viajou até Curitiba sem ganhar cumprimentos ou receber pedidos de fotos de outros passageiros. Ou seja, Dilma passou despercebida num dia crucial para Lula, o PT (Partido dos Trabalhadores) e o futuro da esquerda. Isto, na semana em que o afastamento da presidência pelo Senado completa um ano --será nesta sexta-feira (12).
O tratamento foi a altura da relevância política que tem hoje, avalia o cientista político Carlos Melo. “O eleitorado parece não dar muito mais importância para o que a ex-presidente Dilma tem a dizer. Parece que ela já é página virada”.
Quando Dilma falou para os apoiadores de Lula, não provocou grandes emoções. Ela discursou no ato na Praça Santos Andrade, realizado depois do depoimento do ex-presidente. Tomou o microfone sem ouvir o “olê, olê, olá, Dilma, Dilma” que antecedia os discursos na eleição. O boa-noite do público não foi caloroso e não se ouviram aplausos durante os cinco minutos que falou.
Enquanto isto, a bandeira de um coletivo voava em direção a Gleisi, que estava no mesmo palco que Dilma. Lula acenava e jogava beijos para vários militantes que se dirigiam a ele. O convite para Dilma discursar surpreendeu o blogueiro político do UOL Josias Souza.
“Eu não entendo por que o PT ainda insiste em convidar Dilma Rousseff para estes eventos. Se a situação está ruim, com Dilma presente fica pior”.
Desautorizada por Lula
Até Lula divergiu das atitudes da pessoa que escolheu para sua sucessão como presidente. A afirmação ocorreu durante o depoimento ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira. O contexto da avaliação foi quando comentava o tipo de relação que Dilma manteve com outras forças políticas em seu governo.
“Se a presidenta Dilma tivesse me seguido, não tinha tido o impeachment", declarou o petista.
O blogueiro Josias Souza percebeu a situação e ressaltou que Lula age como se ela não tivesse ganhado duas eleições pelo PT.
“O curioso é que Lula nos seus últimos discursos, nas suas últimas aparições públicas, ele fala do passado e do presente como se não existisse Dilma Rousseff. Então é muito espantoso que o PT leve Dilma Rousseff para um evento desse”.
O cientista político Carlos Melo diz que a única justificativa é reforçar o discurso de golpe. Na avaliação dele, colocar no palco a presidente que sofreu impeachment serve para reforçar essa mensagem à militância.
“Tentando imaginar, pode ser dentro deste roteiro, dentro desta narrativa da vitimização, colocar mais um símbolo do que o PT diz ser um golpe", analisa.
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