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Em 6 meses, 3 assessores de Temer são relacionados a escândalos de corrupção

Assessor de Temer, Fillipelli (foto) é preso em operação da PF - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Assessor de Temer, Fillipelli (foto) é preso em operação da PF Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Amaral e Nathan Lopes

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

23/05/2017 12h09

Preso nesta terça-feira (23), o ex-vice-governador do Distrito Federal Nelson Tadeu Fillipelli (PMDB) é o terceiro assessor especial do presidente da República, Michel Temer (PMDB), envolvido em escândalo de corrupção nos últimos seis meses. Ele foi exonerado logo após a prisão.

Além de Fillipelli, o advogado José Yunes e o suplente de deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) também são investigados por supostamente estarem envolvidos em esquemas de pagamentos de propina. Ambos foram citados por delatores em delação premiada no âmbito da operação Lava Jato.

Fillipelli foi alvo de um mandado de prisão no âmbito da Operação Panatenaico, que investiga um esquema de corrupção no Distrito Federal envolvendo a reforma do estádio Mané Garrincha, usado na Copa de 2014. O esquema causou superfaturamento de cerca de R$ 900 milhões na obra, segundo as investigações.

Até esta segunda-feira (22), Filipelli despachava do terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete de Temer, no mesmo pavimento. O ex-vice-governador do DF era um dos responsáveis pela articulação política do presidente com o Congresso Nacional ao lado de Loures.

Segundo a PF (Polícia Federal), constam indícios de que, enquanto vice-governador de Agnelo Queiroz (PT), entre 2011 e 2014, Fillipelli “se associou e cometeu delitos de corrupção e lavagem de dinheiro”.

Segundo delação da JBS, Loures era o intermediário de Temer para receber propina - Bruno Santos/Folhapress - Bruno Santos/Folhapress
Segundo delação da JBS, Loures era o intermediário de Temer para receber propina
Imagem: Bruno Santos/Folhapress

De acordo com os investigadores, ele fez “diversos pedidos de propina à [empreiteira] Andrade Gutierrez”, responsável pela reforma no Mané Garrincha. “Inclusive, recebera propina para o seu partido PMDB, entre 2013 e 2014, tendo recebido valores ilícitos também da construtora Via Engenharia”.

"Os indícios demonstram até agora que Fillippelli cometeu diversas vezes o delito de corrupção e de lavagem de dinheiro e ainda de associação criminosa com os demais membros da ‘quadrilha’, como Agnelo Queiroz”, dizem os investigadores.

Na decisão, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, requereu o bloqueio de bens e ativos do então assessor de Temer no valor de R$ 6 milhões.

O UOL não obteve, até o momento, um posicionamento do ex-vice-governador sobre a operação de hoje.

Em nota, a Andrade Gutierrez diz que "segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado".

A Via Engenharia não irá se pronunciar.

Assessor recebeu mala com R$ 500 mil, diz PF

Já Loures foi acusado, em delação da JBS, de receber propina em mala de viagem. Ele aparece em um vídeo gravado pela PF com uma mala com R$ 500 mil repassados pela empresa. Segundo o empresário Joesley Batista, Loures foi indicado por Temer para cuidar dos interesses do grupo. Em troca de propina, ele teria viabilizado nomeações e operações para a companhia.

Temer e Loures são alvos de um inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) que apura a suposta prática de obstrução de Justiça e corrupção passiva. Na semana passada, uma decisão do Supremo afastou Loures de seu mandato como parlamentar.

Loures ainda não se pronunciou sobre as acusações. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Temer disse que Loures é uma pessoa de "boa índole" e que mantém com ele uma "relação institucional".

Vídeo mostra deputado ligado a Temer recebendo propina

Band Notí­cias

Amigo de Temer diz que recebeu R$ 4 milhões sem saber

Já Yunes foi apontado como receptor de propina no valor de R$ 4 milhões em seu escritório em São Paulo pelo ex-vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Odebrecht, Cláudio Melo Filho.

De acordo com o delator, o dinheiro seria destinado ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Os R$ 4 milhões seriam apenas uma parte do montante de R$ 10 milhões supostamente pedidos por Temer ao então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, em jantar no Palácio do Jaburu.

Yunes pediu exoneração do cargo de assessor especial de Temer em dezembro do ano passado. O advogado, amigo pessoal de Temer há mais de 50 anos, afirmou na época que iria se afastar do Planalto para preservar sua “dignidade” após ver o nome “jogado no lamaçal de abjeta delação”.

Yunes (à esq.) pediu exoneração do cargo após escândalo - 21.jun.2013 - Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress - 21.jun.2013 - Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress
Yunes (à esq.) pediu exoneração do cargo após escândalo
Imagem: 21.jun.2013 - Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress

No entanto, em fevereiro, Yunes prestou depoimento espontâneo ao MPF (Ministério Público Federal) e disse ter recebido do doleiro Lúcio Funaro, a pedido de Padilha, o pacote com “documentos”, em 2014. O envelope teria sido retirado por um emissário. De acordo com depoimento de Melo Filho, o pacote continha dinheiro. Yunes nega saber o conteúdo.

Funaro foi preso na Lava Jato e é apontado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também preso na operação.

Mais um auxiliar direto citado

Outro assessor de Temer, o ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), também foi citado na delação premiada da Odebrecht pelo ex-diretor da empreiteira, José de Carvalho Filho.

Apesar de nunca ter sido nomeado formalmente no Diário Oficial da União, Mabel despacha do terceiro andar, a poucos gabinetes de distância de Temer, e, até então, de Loures.

Mabel foi acusado de ter pedido propina em troca da aprovação de uma emenda à Medida Provisória 183/2004, que reduziria alíquotas do PIS/Pasep e da Cofins na importação e comercialização de produtos agropecuários. Ele não se pronunciou sobre o caso.