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Cavendish diz ter acertado 5% de propina a pedido de Cabral para integrar obra do Maracanã

Cavendish (o terceiro da esquerda para a direita) participou de festa em Paris que ficou conhecida como a "farra dos guardanapos" com Cabral e secretários dele - Reprodução/Blog do Garotinho
Cavendish (o terceiro da esquerda para a direita) participou de festa em Paris que ficou conhecida como a "farra dos guardanapos" com Cabral e secretários dele Imagem: Reprodução/Blog do Garotinho

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

07/08/2017 14h33Atualizada em 08/08/2017 17h58

O empresário Fernando Cavendish, ex-dono da empreiteira Delta, afirmou nesta segunda-feira (7) à Justiça Federal que acertou pagamento de 5% de propina, pedida segundo ele pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), para que sua construtora integrasse as obras do estádio do Maracanã para a Copa do Mundo. Em prisão domiciliar desde julho de 2016, Cavendish é interrogado na tarde de hoje na 7ª Vara Criminal, do juiz Marcelo Bretas, em processo da Operação Saqueador, desdobramento da Lava Jato no Rio.

“Nos crimes apontados na denúncia, houve um fato, a obra do Maracanã, naquela época o então governador Sérgio Cabral era uma pessoa da minha proximidade, fui a ele conversar sobre a obra do Maracanã, e a possibilidade de a minha empresa de participar do consórcio. Nesse momento, o então governador entendeu meu pedido, disse que tinha um acerto com a Odebrecht, de um acerto do pagamento de 5% de propina. Falou que aceitou, que se eu acertasse, teria um entendimento do pagamento dessa propina.”

Cavendish, que é réu no processo, disse que Cabral "deixou claro esse compromisso da propina com a Odebrecht, de 5%, que eu teria que pagar o mesmo valor" para que a Delta, então controlada pelo empresário, fizesse parte do consórcio da reforma, também composto pela Andrade Gutierrez.

Segundo o empresário, o dinheiro era entregue a Carlos Miranda, acusado de ser um dos operadores de Cabral, que por sua vez repassava os valores ao ex-governador fluminense.

“Esse pagamento específico foi feito em dinheiro. Orientei uma pessoa da minha confiança, Claudia. Disse que o Carlos Miranda ia procurá-la e ia informar o valor. Foi um pagamento ao longo da execução da obra, da qual nos afastamos por conta da crise. Pagamento se deu ao longo da obra”, relatou Cavendish, sem contudo informar quanto teria sido pago a Cabral.

No dia 10 de julho, também em depoimento ao juiz Bretas, Cabral reconheceu ter recebido recursos ilícitos de "sobras de campanha", ato conhecido como caixa dois, mas negou, de forma indignada, que cobrava propina sobre obras pública no Rio. "Nunca houve 5%. Que 5% é esse? Que maluquice é essa?", respondeu o réu ao ser questionado pelo juiz da 7ª Vara. O 

Segundo o advogado Rodrigo Rocha, que defende Cabral, "as declarações do Sr. Cavendish são o produto do seu rancor pessoal, por ter tido a sua empresa declarada como
Inidônea pelo ex Governador, com a sanha do Ministério Publico Federal de conseguir que alguma testemunha diga a palavra propina. E conseguiu".

Nesta segunda, Cavendish também afirmou que não fez pagamentos para o caixa dois de Cabral, mas para a viabilização de obras com a sua construtora.

Operação Saqueador

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro deflagraram a Operação Saqueador, no âmbito da Lava Jato no Rio, em junho de 2016 para investigar supostos desvios de R$ 370 milhões em obras públicas atribuídas à Delta. Além de Cavendish, foram denunciadas mais 22 pessoas que estariam envolvidas em esquema de lavagem com verbas públicas federais.

O MPF investigou a atividade da empreiteira Delta e constatou que, entre 2007 a 2012, a empresa teve 96,3% do seu faturamento oriundo de verbas públicas, chegando ao montante de quase R$ 11 bilhões. Desse total, mais de R$ 370 milhões foram lavados, por meio de pagamento ilícito a 18 empresas de fachada, criadas pelos chamados "operadores" do esquema.

Segundo as investigações, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, os empresários Adir Assad e Marcelo Abbud eram os responsáveis por criar as empresas fantasmas que lavavam os recursos públicos, por meio de contratos fictícios, que eram sacados em espécie, para o pagamento de propina a agentes públicos, de forma a impedir o rastreamento das verbas.

A empresa fez sem licitação, por exemplo, o Parque Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Cavendish afirmou nesta segunda-feira que conhecia Adir Assad de nome, como o responsável por uma empresa capaz de fornecer “dinheiro em espécie”, o caixa dois.

Segundo o empresário, devido à grande quantidade de obras em andamento da Delta, a empresa tinha necessidade de ter dinheiro em caixa para “negociar pagamentos de alimentação, locação de carros e afins” nos locais das obras. Esse dinheiro era disponibilizado por Assad, que, segundo Cavendish, emitia notas frias por trabalhos que não havia realizado. “Pagando em espécie o nosso nível de negociação era muito maior.”