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É hora de mudança na política? Veja o que pensam os jovens líderes dos partidos

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

20/08/2017 04h00

Com idade entre 22 e 30 anos, eles pretendem representar a nova geração da política brasileira. Se filiaram a partidos no fim da adolescência ou no início da vida adulta porque se identificavam com as ideologias e os programas de governo propostos por suas legendas ou com seus representantes nacionais.

O caminho provável é que se candidatem à carreira parlamentar, com chances de assumir posições nas Casas onde são feitas as leis, nos Palácios onde elas são regidas e até mesmo na Presidência da República.

A reportagem do UOL conversou com lideranças da juventude de seis partidos: PMDB, PT e PSDB (os três maiores em número de filiados); DEM (do atual presidente da Câmara); PSOL e Solidariedade (com maior número de jovens, proporcionalmente). 

O que querem e o que esperam da renovação política nacional seus possíveis futuros protagonistas? O que eles pensam sobre parlamentarismo, financiamento de campanha, reeleição e eleições diretas ainda em 2017?

Conversaram com a reportagem:

  • João Paulo Farina, 27, secretário nacional da Juventude do PT (Partido dos Trabalhadores);
  • Assis Filho, 30, presidente da Juventude do PMDB (Partido do Movimento Democrático do Brasil);
  • André Morais, 24, presidente nacional da Juventude do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira);
  • Bruno Kazuhiro, 29, presidente nacional da Juventude do DEM (Partido Democratas);
  • Tabata Tesser, 22, integrante da direção-executiva paulista do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade); e
  • Lucas Vergilio, 30, presidente da Secretaria Jovem do SD (Partido Solidariedade).

Parlamentarismo ou presidencialismo?

Bandeira histórica defendida pelo PSDB, o parlamentarismo tem uma diferença básica para o atual regime de governo do Brasil, o presidencialismo, que é a escolha do chefe de Estado. No modelo atual, o eleitor vota diretamente no nome do candidato que quer para presidente. No parlamentarismo, o eleitor escolhe os deputados, mas são eles que decidem quem será o chefe do Estado, ou o primeiro-ministro.

No início de agosto, os tucanos afirmaram que vão defender a adoção do parlamentarismo a partir das eleições de 2022.

Além dos tucanos, somente o representante do Solidariedade é favorável ao parlamentarismo. As lideranças jovens de PT, PSOL e PMDB preferem o regime de governo em vigor, com algumas mudanças.

Cada regime tem problemas. O problema em todos eles é o sistema eleitoral

Tabata Tesser (PSOL)

Já o representante do DEM se diz “simpático” ao parlamentarismo, mas vê no semipresidencialismo --ou uma mistura dos dois-- a melhor opção, por considerar que o atual modelo “é um sistema que está esgotado”.

“Sou simpático ao parlamentarismo, mas reconheço que o povo brasileiro gosta da ideia de escolher seu presidente”, diz Bruno Kazuhiro.

“Se eu fosse desenhar o país, seria favorável a um semipresidencialismo. Tem um presidente da República, com suas funções, mas o governo é coordenado pelo primeiro-ministro, que foi eleito pela Câmara dos Deputados, mediante a correlação de forças que foi definida pela sociedade. Para isso acontecer, precisaria ter menos partidos. Porque o parlamentarismo com mais de 28 partidos [como no atual Congresso Nacional] não deixaria de ser caótico da mesma forma que o presidencialismo de coalizão. Ninguém tem maioria.”

Para Tabata Tesser, do PSOL, a questão principal não é o modelo de governo, mas o sistema eleitoral.

“Cada regime tem problemas. O problema em todos eles é o sistema eleitoral. A forma de eleição tem uma genética histórica no Brasil que privilegia os mais ricos. Quem tem mais dinheiro consegue fazer uma campanha maior, melhor e consegue ser eleito”, ela diz.

“Se a gente consegue um sistema eleitoral com um financiamento justo de campanha, que deve ser público, sem intervenção econômica no poder político, seria possível um presidencialismo, mas com ajustes.”

Contra ou a favor de reeleição?

Este é o item em que os entrevistados mais divergem de opinião. As propostas são variadas e Tesser, do PSOL, é a única a defender a reeleição como está hoje.

Para Farina, do PT, cargos no Executivo podem ter uma única reeleição, e no Legislativo, até três mandatos. Vergilio, do Solidariedade, é a favor de reeleição no Legislativo, mas contra a reeleição para cargos no Executivo, com mandato único de seis anos. Por sua vez, Kazuhiro, do DEM, não vê problema em reeleição no Legislativo, desde que não seja infinita. Já no Executivo, defende o direito a uma única reeleição.

Assis, do PMDB, é contra a reeleição para cargos no Executivo e a favor de apenas uma no Legislativo, enquanto Morais, do PSDB, defende o fim da reeleição e mandato de cinco anos.

Pela lei em vigor no Brasil, cargos no Executivo (presidente, governador e prefeito) têm mandato de quatro anos e podem ter uma reeleição consecutiva. Não há limite de reeleição para cargos no Legislativo (senador, deputado federal, deputado estadual e vereador).

Financiamento público ou privado de campanha?

O relator da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), apresentou um texto em que defende reservar 0,5% das receitas correntes líquidas da União para abastecer o novo fundo público de campanhas. Isso iria resultar em R$ 3,6 bilhões para os candidatos nas eleições de 2018.

Entretanto, após reunião com líderes partidários na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o próprio relator afirmou que deve abandonar a ideia. O financiamento de campanha, no Brasil, se tornou um tema espinhoso.

Desde as eleições de 2014, partidos políticos e seus candidatos não podem receber doações privadas de dinheiro para a campanha eleitoral. O financiamento só deve ser feito por pessoas físicas ou pelo próprio candidato, além de verbas públicas.

Se fosse possível retomar essa discussão, dois dos entrevistados defenderiam que o financiamento por empresas fosse liberado, mas com algumas regras.

“Por exemplo, uma empresa poderia doar somente para um candidato por cargo”, diz Vergilio, do Solidariedade. “Da mesma forma que uma pessoa tem suas convicções e escolhe seus representantes, setores da economia e empresas também podem acreditar que determinado candidato seja melhor ou pior para seus segmentos. Não é acabando com o financiamento privado que se vai acabar com a corrupção”, ele afirma.

As empresas cumprem outro papel na sociedade que não é o papel eleitoral
 
Assis Filho (PMDB)
 
Kazuhiro, do DEM, entende que este é um assunto que a sociedade brasileira não aceitaria discutir neste momento, por estar “traumatizada” pelos escândalos que vieram à tona nos últimos anos envolvendo políticos e empresas. Ele defende, porém, que uma empresa só seja autorizada a doar para um único partido, escolhido por seu programa de governo, e não por possíveis vantagens que venha a oferecer.
 
Para que o novo fundo entre em vigor já nas próximas eleições, a proposta deve passar por votação até setembro em dois turnos na Câmara e no Senado.
 
Para os representantes de PSOL, PT e PMDB, só é aceitável que os candidatos e partidos recebam apoio público para suas campanhas.
 
“As empresas cumprem outro papel na sociedade que não é o papel eleitoral”, diz Assis Filho, do PMDB. “Eu sou a favor do financiamento público, mas tem que respeitar a representação de cada um. Não dá para tratar todo mundo de igual forma, porque a atuação e a representação política não são iguais”, referindo-se ao volume de verbas públicas repassadas aos partidos.
 
Também favorável ao financiamento público, Tesser, do PSOL, e Farina, do PT, entendem que o justo seria dar chances iguais aos partidos.
 
“Já melhora [a qualidade do sistema eleitoral] se você dá condições iguais para os partidos disputarem a eleição”, diz Farina. “O financiamento privado acaba com a política. Você não está no Congresso Nacional para fazer lobby para empresa, e sim para legislar.
 

Diretas Já?

Cartazes com as palavras “Diretas Já” têm sido usados com frequência em protestos contra o presidente Michel Temer (PMDB) desde que estourou o escândalo da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Gravado em uma conversa com Joesley, Temer foi acusado de corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, mas não será investigado agora, como decidiu a maioria dos deputados na Câmara Federal no início de agosto.

Pesquisa Ibope encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e divulgada no fim de julho mostra que 70% dos brasileiros consideram o governo de Temer ruim ou péssimo. Apenas 5% o avaliam como ótimo ou bom.

Um mês antes, uma pesquisa Datafolha já mostrava que 76% dos entrevistados queriam que Temer deixasse a Presidência da República e, diante desta hipótese, 83% defenderam que um novo presidente fosse escolhido por voto popular.

Parlamentares de oposição ao governo defendem que Temer seja afastado do cargo imediatamente e que as eleições de outubro de 2018, quando os brasileiros escolherão o presidente, sejam antecipadas. Para isso, seria necessário alterar a Constituição brasileira, que hoje determina que o presidente da Câmara dos Deputados é quem deve assumir a cadeira, caso Temer a desocupe.

'Diretas Já' não é constitucional

Bruno Kazuhiro (DEM)

Os representantes jovens de PSOL e PT defendem as “Diretas Já”, enquanto os outros entendem que sua realização seria inconstitucional.

“Nós temos que respeitar a Constituição Federal”, diz Kazuhiro, do DEM. “Se não tiver presidente e o vice for afastado, quem assume é o presidente da Câmara e convoca eleições. Essa é a regra a ser seguida. 'Diretas Já' não é constitucional. A regra do jogo não pode ser mudada durante o jogo.”

“É, neste momento, a única forma de resolvermos o problema de legitimidade”, defende Farina, do PT. “Somente o voto popular pode decidir quem deve ser o presidente em um momento tão delicado de crise política e de representação.”

Perfil dos entrevistados

João Paulo Farina, 27, secretário nacional da Juventude do PT (Partido dos Trabalhadores)

Gaúcho de Erechim (380 km de Porto Alegre), João Paulo de Almeida Farina é acadêmico de história e filiou-se em 2007, aos 17 anos de idade, por influência dos pais, militantes do partido. Seu pai, Paulo Roberto Farina, produtor rural, foi o primeiro vereador do PT em sua cidade e também integrante da CUT (Central Única dos Trabalhadores), nos anos 1980, e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

João Paulo Farina, PT - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
João Paulo Farina, secretário nacional da Juventude do PT
Imagem: Reprodução/Facebook

Assis Filho, 30, presidente da Juventude do PMDB (Partido do Movimento Democrático do Brasil)

O maranhense Francisco de Assis Costa Filho, 30, é advogado, professor da Universidade Federal do Maranhão e filiado ao PMDB há oito anos. Já foi vereador e secretário municipal em Pio XII, sua cidade natal, e também secretário de Estado.

Assis Filho, PMDB - Marcello Casal Jr/Agência Brasil - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Assis Filho, presidente da Juventude do PMDB
Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

André Morais, 24, presidente nacional da Juventude do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira)

Nascido em Manaus e estudante de administração na Universidade Federal do Amazonas, André Felipe Morais Matos é filiado ao PSDB desde 2012 e começou na política por meio do movimento estudantil. Diz ter grande admiração pelo atual prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto, 71, que já foi senador e deputado federal.

André Morais, PSDB - Reprodução/PSDB - Reprodução/PSDB
André Morais, presidente nacional da Juventude do PSDB
Imagem: Reprodução/PSDB

Bruno Kazuhiro, 29, presidente nacional da Juventude do DEM (Partido Democratas)

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Bruno Kazuhiro Otsuka Nunes se filiou ao Democratas com 17 anos de idade, em 2009, dois anos após a fundação. Antes mesmo de se ligar oficialmente à sigla, fazia campanha na escola pelo candidato a prefeito César Maia, representante do então PFL (Partido da Frente Liberal), que deu origem ao DEM. Formado em direito, tem mestrado em ciência política pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e é atualmente assessor parlamentar no gabinete de Maia, 72, vereador no Rio (e pai do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia).

Bruno Kazuhiro, presidente da Juventude do DEM - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bruno Kazuhiro, presidente da Juventude do DEM
Imagem: Arquivo pessoal

Tabata Tesser, 22, integrante da direção-executiva paulista do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

Nascida em São Paulo e estudante de ciências sociais na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Tabata Pastore Tesser é filiada ao PSOL desde 2013 e começou a se interessar por política na Pastoral da Juventude de Guarulhos, onde mora. Entre 2010 e 2013, participou de várias atividades na Igreja Católica voltadas para os jovens. Decidiu se filiar a um partido político logo após as manifestações de junho de 2013 contra os aumentos nas passagens de ônibus coletivos e é dirigente do coletivo Manifesta.

Tabata Tesser, PSOL - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Tabata Tesser, representante da Juventude do PSOL em São Paulo
Imagem: Reprodução/Facebook

Lucas Vergilio, 30, presidente da Secretaria Jovem do SD (Partido Solidariedade)

Nascido em Goiânia, o deputado federal Lucas Vergilio é um dos fundadores do SD e está à frente da Secretaria Jovem desde 2016, a convite de Paulo Pereira da Silva (Paulinho da Força), presidente da sigla. Filho do ex-deputado federal Armando Vergilio, é formado em administração de empresas pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Goiás, corretor de seguros e empresário.

Lucas Vergilio, SD - Marcos Brandão/Solidariedade - Marcos Brandão/Solidariedade
Lucas Vergilio, presidente da Secretaria Jovem do Solidariedade
Imagem: Marcos Brandão/Solidariedade