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Base de Temer vê chance de relator tucano atrair votos para o presidente na CCJ

Deputado Beto Mansur (PRB-SP), homem-forte de Temer na Câmara, aprovou a escolha de Bonifácio de Andrada como relator da 2ª denúncia contra o presidente na CCJ - Alan Marques/ Folhapress
Deputado Beto Mansur (PRB-SP), homem-forte de Temer na Câmara, aprovou a escolha de Bonifácio de Andrada como relator da 2ª denúncia contra o presidente na CCJ Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

28/09/2017 17h43Atualizada em 28/09/2017 19h35

A escolha do deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), de 87 anos, como relator da segunda denúncia contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) dividiu opiniões na Câmara dos Deputados. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (28) pelo presidente da Comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).

O nome de Andrada, que é governista, agradou os aliados do presidente, que consideraram a nomeação “técnica” e viram na escolha uma possibilidade de o tucano conseguir reverter votos antes desfavoráveis a Temer dentro do próprio partido.

Segundo um assessor do Planalto, a escolha foi “bem aceita” e “positiva” para o governo. A expectativa, segundo apurou o UOL, é que Andrada converse com Temer ou algum ministro próximo por telefone nas próximas horas.

Já a oposição enxerga o nome de Andrada com desconfiança, uma vez que o deputado votou em plenário pela rejeição da primeira denúncia contra Temer, por crime de corrupção passiva, em agosto.

Bonifácio de Andrada vota por rejeição de 1ª denúncia contra Temer

UOL Notícias

Um dos aliados mais próximos de Temer, deputado Beto Mansur (PRB-SP), elogiou a decisão “técnica” e disse acreditar que Andrada escreverá um parecer de acordo com a própria consciência.

“Acho que a indicação segue os ritos normais. Ele é um parlamentar que está na Casa há muitos anos, tem um saber jurídico profundo e é uma escolha em que ele vai fazer um relatório sobre sua consciência. É importante que tenhamos essa capacidade técnica, até porque a CCJ discute essa denúncia tecnicamente”, disse.

“A escolha foi, na minha visão, muito bem feita, porque o governo quer alguém com capacidade técnica para fazer um relatório em cima de uma denúncia que é inócua. Ela é muito pior que a primeira [denúncia, por corrupção passiva] e muito fraca”, acrescentou. 

Questionado sobre um possível favorecimento a Temer, Mansur lembrou que Andrada não votou nos dois pareceres elaborados na CCJ na época da primeira denúncia. Quanto ao fato de o relator ser do PSDB, partido que vem se desentendendo com Temer, Mansur avaliou que a sigla é importantíssima para aprovar matérias de interesse do governo e pode sim ajudar a dar votos para o presidente na CCJ.

“Lógico, um nome como Bonifácio pode convencer alguns colegas do PSDB, principalmente cabeças pretas, que são os mais jovens, da nulidade dessa denúncia. Então, nada melhor do que você ter alguém que seja do PSDB, por isso achei importante essa escolha, que vai convencer seus pares de que é importante votar conta a denúncia porque ela é inócua”, argumentou.

"Nome preparado"

Do partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ) e aliado de Temer, o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), seguiu a linha de que Andrada representa idoneidade e isenção. A opinião foi respaldada pelo colega Marcos Rogério (DEM-RO), que era cogitado para a função.

“Acho que é um nome técnico, muito preparado, respeitado na CCJ e na Casa. Acho que das opções que restaram para o presidente Pacheco foi a melhor escolha. Obviamente que não tem parlamentares, a essa altura do campeonato, independentes. [...] Agora, você tem parlamentares que são juridicamente mais preparados e parlamentares que têm posições políticas”, afirmou Marcos Rogério.

Oposição preocupada

O deputado da oposição Chico Alencar (Psol-RJ) falou que recebeu a indicação com “muita preocupação”. O motivo não é a trajetória do político, explicou, mas o fato de ter apoiado a rejeição da primeira peça da PGR e as razões pelas quais justificou a ação.

“Ele disse ‘pelas instituições e pelo progresso do Brasil’. Ora, no nosso modo de entender, essas denúncias mostram como as instituições estão apodrecidas pela corrupção. Há um derretimento da vida institucional de tanto descrédito. Então, nos preocupa uma concepção que ele já expressou de total incolumidade dos Poderes e notadamente do Parlamento”, falou.

Segundo Chico Alencar, Andrada acredita que, muitas vezes, o Judiciário vai além de atribuições e que o Congresso deve “se proteger e se preservar”. Para o deputado fluminense, essa visão é conservadora.

“Claro, na vida temos sempre possibilidade de nos superarmos. Esperamos que ele faça um relatório que nos surpreenda. Vocês viram na fala de Mansur que ele está muito feliz com esse relator esperando inclusive que ele vá arquivar a denúncia que considera inepta. Ele está bem à vontade, por isso estamos bem preocupados”, comentou.