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Temer culpa "uma figura pública" e "setores privados" por baixa popularidade

Luciana Amaral/UOL
Imagem: Luciana Amaral/UOL

Luciana Amaral e Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

22/12/2017 12h28Atualizada em 22/12/2017 15h10

Ao comentar os baixos índices de popularidade pessoal e de seu governo o presidente da República, Michel Temer (PMDB), atribuiu, nesta sexta-feira (22), os resultados à “irresponsabilidade de setores privados” e a “uma figura do setor público”.

“[A baixa popularidade é] Fruto do quê? Fruto de uma irresponsabilidade de setores privados e de setores ou um setor, pelo menos, ou uma figura do setor público. Isso prejudicou muito o país”, declarou a jornalistas em café da manhã no Palácio da Alvorada.

Embora tenha feito a crítica, Temer preferiu não citar nomes. Em seguida, porém, mencionou que, em maio deste ano, “tudo estava ajustado para aprovar a [reforma da] Previdência Social”, mas não foi possível devido a “aqueles fatos”.

O período coincide justamente com a data em que foi revelado o conteúdo da delação premiada de executivos do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS, ao Ministério Público Federal, comandado então pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Temer foi alvo de duas denúncias oferecidas em junho e setembro por Janot, sob a acusação dos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça. Ambas foram rejeitadas pela Câmara dos Deputados, mas custaram a força política do presidente no Congresso.

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Diante do desgaste causado pelos processos, o governo foi forçado a adiar para o dia 19 de fevereiro que vem a votação da reforma da Previdência no plenário da Casa. Nos bastidores, o Palácio do Planalto já trabalha com a ideia de votar a proposta somente em abril.

Nesta sexta-feira, o presidente também admitiu que a “questão da corrupção” prejudicou muito o governo. Ele disse, porém, que pesquisa encomendada em caráter privado revelou que as pessoas têm “vergonha” de dizer que apoiam a atual gestão por terem “certo pudor”.

Segundo Temer, as últimas pesquisas divulgadas por institutos ainda não levaram em consideração os “benefícios” gerados pelo Planalto.

Ele então aproveitou para falar que os “detratores” tiveram de se retratar, mas que o efeito em pedir desculpas não é o mesmo das acusações. Estas, ao seu ver, têm efeito muito mais amplo na perspectiva da população em relação ao governo.

“As pessoas ficaram naturalmente inibidas [nas pesquisas] como uma crítica, como: ‘Olha aqui como todo mundo é corrupto etc’. E se baseiam, convenhamos, não no que nós dizemos, mas no que os detratores dizem”, argumentou.

Pesquisa Ibope divulgada no começo da semana mostrou que o percentual de brasileiros que avaliam o governo Temer como ruim ou péssimo é de 74% (contra 77% de setembro). Já 6% disseram que o governo é ótimo ou bom (eram 3% há três meses).

Apesar dos resultados de popularidade inexpressivos alcançados até o momento, Temer demonstrou estar otimista quando à melhora da imagem e, inclusive, brincou com a situação.

“Queria dizer que a nossa popularidade aumentou 100%. Foi de 3% para 6%. Aumentar 100% não é fácil. Isso porque estamos no meio de dezembro. Imagina quando chegar março, abril”, disse, aos risos.

"Você é candidato, Meirelles?", pergunta Temer

Questionado sobre a viabilidade de um candidato apoiado pelo governo conseguir se eleger em 2018 e se seria um “bom cabo eleitoral”, Temer afirmou estar confiante de que, até o período eleitoral, o governo já será reconhecido pelas ações --populares e não populistas, ressaltou.

Quando perguntado sobre a eventual candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD) como sucessor de seu legado, Temer se virou a ele ao seu lado na mesa e falou: “Ele não é candidato. Você é candidato, Meirelles?”.

O ministro então riu e falou que a decisão só será tomada em março ou abril, prazo para se descompatibilizar da Fazenda e concorrer no pleito.

Referente a uma reeleição, Temer disse ser “candidato a fazer um bom governo, nada mais do que isso”.

Lula vai disputar a eleição?

O peemedebista foi ainda indagado sobre seu posicionamento em relação à possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se candidatar ao Planalto nas próximas eleições visto já ter sido condenado pela primeira instância da Justiça em Curitiba, no Paraná.

Lula recorre da sentença e o caso será julgado na segunda instância em janeiro. A legalidade da eventual candidatura é vista com dúvida e pode gerar disputas no Judiciário.

Temer afirmou não se “atrever” a dar uma opinião como constitucionalista, pois está na cadeira da Presidência.

“O constitucionalista ficou para trás”, falou, ao acrescentar que o assunto também está sendo debatido no STF (Supremo Tribunal Federal) e uma solução será dada.

“Não posso antever se ele [Lula] obtém uma liminar ou não. Não diria isso. O que posso responder é que aquele que for contra as reformas [propostas pelo Planalto] não terá o apoio total do eleitorado e, em segundo lugar, não poderá evidentemente ter o apoio do governo”, declarou, ao se referir ao fato de Lula ter ameaçado revogar as medidas aprovadas.

Saúde no lugar e Natal em SP

Ao final do encontro com os jornalistas, Temer foi perguntado sobre a sua saúde, ao que respondeu: “Está no lugar”.

Nos últimos 30 dias, o presidente passou por uma cirurgia cardíaca para a implantação de stents em artérias e por uma cirurgia urológica a fim de desobstruir a uretra. Ele permanece com uma sonda e tem de realizar exames semanais para acompanhar a progressão da condição.

Antes do encontro com os jornalistas, Temer e a primeira-dama, Marcela, receberam cerca de cem crianças de dois projetos sociais, de seis a 13 anos de idade.

O grupo cantou músicas natalinas e entregou camiseta de uma das iniciativas a Marcela. Enquanto Temer conversava com os repórteres, Marcela lanchou com as crianças.

Esta foi a segunda vez que o casal recebeu uma visita de Natal no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, embora só usem o local para reuniões e outros compromissos.

 Os meninos e meninas são atendidos pelo Centro Social Ingá, de São Sebastião, no Distrito Federal, e pelo Programa Forças no Esporte.

O presidente desejou um Feliz Natal a todos e confirmou que passará a data em São Paulo, onde mantém residência, reunido com a família. Ele embarca ainda nesta sexta-feira para a capital paulista.

Já o Ano Novo, falou, será "na praia', mas não definiu se em base militar na Bahia ou no Rio de Janeiro.