Topo

"Perdi dez parentes para o ebola"

A organização Médicos Sem Fronteiras disse nesta semana que a epidemia é "sem precedentes"  - AFP via BBC
A organização Médicos Sem Fronteiras disse nesta semana que a epidemia é "sem precedentes" Imagem: AFP via BBC

03/04/2014 21h05

A epidemia do vírus ebola, que já matou ao menos 86 pessoas na Guiné nas últimas semanas e outras seis na Libéria, devastou a família de Firmin Bogon.

O homem que vive em Gueckedou, próximo das fronteiras com a Libéria e Serra Leoa, contou à BBC África como perdeu dez entes queridos para o vírus. A primeira vítima foi sua irmã.

"Minha irmã veio à minha casa logo que voltou de Serra Leoa dizendo que não passava bem. Nós a levamos para o hospital, onde exames foram feitos e ela acabou diagnosticada com febre tifoide", relatou. "Os médicos prescreveram remédios, mas não a internaram. Por isso nós a tratamos em casa, (mas) em alguns dias ela morreu."

Ninguém da família de Bogon sabia que a doença era contagiosa, por isso muitos cuidaram da irmã.

"Ela deve ter contaminado mais gente mesmo depois de morta, porque seu corpo foi levado para um funeral na cidade e as pessoas tiveram acesso a ele. Dias depois eu percebi que muitos dos que estiveram perto dela ficaram doentes. Depois eles começaram a morrer", prosseguiu.

Febre hemorrágica

O ebola, que causa uma espécie de febre hemorrágica, não tem cura e mata uma pessoa em questão de dias, dependendo da variação do vírus.

A doença provoca febre forte, dores de cabeça e musculares, conjuntivite e debilidade; na fase mais aguda, provoca vômitos, diarreia e hemorragias. A transmissão ocorre por vias respiratórias ou por contato com fluidos corporais das pessoas infectadas.

A organização Médicos Sem Fronteiras disse nesta semana que a epidemia é "sem precedentes" e sua transmissão, difícil de ser controlada.

Na família de Bogon, o contágio da irmã teve efeito em cadeia. Infectou sua mãe, depois a mulher de Bogon.

"Até agora perdemos um total de dez membros da família", relatou. "Minha irmã veio à minha casa no dia 27 de fevereiro e morreu quatro dias depois. Os outros morreram nas cinco semanas seguintes."

Ainda não está claro onde a irmã dele pegou a doença.

"Ela esteve em Serra Leoa por uma semana e depois foi para Kisidougou, na Guiné. Nós só suspeitamos de uma epidemia de ebola quando um motorista que estava trabalhando para uma agência humanitária em Macenta (no sul da Guiné) morreu e exames mostraram que ele tinha a febre. Só depois disso que as pessoas começaram a tomar medidas de precaução, mas já era tarde."