Leonardo Sakamoto

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Opinião

Homem-bomba catarinense explode chances de anistia a golpistas do 8/1

Ao detonar bombas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e depois se explodir na frente do Supremo Tribunal Federal, nesta quarta (13), Francisco Wanderley Luiz mandou para os ares qualquer chance de anistiar os golpistas do 8 de janeiro - Jair Bolsonaro (PL) incluso.

O chaveiro catarinense, candidato derrotado à Câmara dos Vereadores de Rio do Sul (SC) pelo PL, em 2020, vai ser usado como exemplo do que brota quando punições rigorosas não são dadas a líderes de movimentos contra a democracia e quando o Estado decide passar pano a tentativas de golpes de Estado.

Do ponto de vista político, pouco importa se Francisco tinha problemas mentais ou se estava profundamente perturbado. Ele foi inspirado por velhacos que arquitetaram o golpe em 2022 e é guiado por eles desde então. E se a tentativa de explodir o Supremo e seus ministros não for tratada com a gravidade que merece, seus atos tresloucados desta quarta devem incentivar patifes e malucos que podem vir depois disso.

A Justiça tem um papel fundamental de interromper esse ciclo. Ainda mais porque as mensagens que ele compartilhou nas redes mostraram uma pessoa que absorveu os elementos discursivos do ódio do bolsonarismo radical e os colocava em prática. Ao que tudo indica, buscava ser uma espécie de faísca da mudança.

Apontou jornalistas e políticos da direita liberal como comunistas, criticava generais legalistas e sugeriu o 15 de novembro para começar uma revolução no Brasil - mesma data que foi aventada, em 2022, por golpistas para uma insurreição, segundo informações obtidas pela investigação da Polícia Federal. Não à toa, explodiu-se dois dias antes.

Desde fevereiro deste ano, Bolsonaro tem pautado o tema da anistia aos "pobres coitados do 8 de janeiro". Usando a solidariedade aos seus seguidores como justificativa, ele defende, na prática, um projeto de lei que pode beneficiá-lo. Hoje, ele é investigado por uma tentativa de golpe de Estado que teve no 8 de janeiro uma de suas peças.

Sob a justificativa de "pacificar" o país, tenta convencer a turma que faltou às aulas de História que o melhor é um arranjo para não puni-lo pelos crimes que cometeu. Mas a ideia só vem sendo bem aceita entre os que estão alinhado ao bolsonarismo no Congresso Nacional.

Com receio de perder votos governistas para o seu candidato à Presidência da Câmara de Deputados, o presidente Arthur Lira (PP-AL) pôs um freio no trâmite da anistia. Além do mais, poucos querem brigar com o STF no momento em que tramita uma solução para a transparência das emendas. E com a derrota de Jair no segundo turno nas capitais, por que partidos políticos vão se arriscar a defender alguém que nem consegue ser um bom cabo eleitoral?

Bolsonaristas mais radicais continuavam defendendo a anistia a todo o custo, contando com a perda de memória da maioria da população. Até que veio o unabomber e atrapalhou os planos.

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Decerto não foi sua intenção, mas seu ato fez mais pelo campo democrático do que que poderia imaginar. Pois relembra à sociedade porque é necessário não deixar os golpistas de 8/1 passarem impunes. Diante disso, as explosões na porta do STF não tiraram apenas a vida de Francisco, mas também deixaram claro aos Três Poderes que anistia aos líderes da intentona é irresponsabilidade histórica.

Em tempo: Uma das cenas mais insólitas do processo de questionamento da eleição presidencial de 2022 foi a tentativa de um ato terrorista com a colocação de uma bomba em um caminhão de combustível para explodir o Aeroporto Internacional de Brasília na véspera de Natal. A ideia era criar uma situação de caos para permitir intervenção militar e decretação de estado de sítio, tal como parecia querer o unambomber de Santa Catarina. Aquela bomba deu chabu, mas poderia ter mudado o curso da História.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL